Ele, quem? Eu!?


Quando falo do outro, revelo um pouco ou muito de mim mesmo.

O que sentimos do outro, é o que sentimos de nós, “a medida que usarem, também será usada para medir vocês" (Lucas 6, 38), essa advertência do Mestre Jesus é nesse sentido, “a medida que uso para medir o outro”, está em mim, é a minha própria.

Há pessoas que no primeiro encontro, olhar, conversa, nos encantamos, e vai parecer que a conhecíamos de longo tempo, mas também tem outras que não conseguimos nos conectar, e de imediato, ou não, acontecem as rejeições: “meu santo não deu com o dela”, “não sei o que tem naquela pessoa que eu não gosto”, e aí por diante...

Projetamos no outro, o que temos em nós, de bom, sublime, mas também o que nos incomoda, o que não aceitamos ou queremos nos livrar, e isto muitas vezes sem se dar conta.

O oque não aceitamos está lá acomodado, escondido, de repente, vem alguém, que me incomoda e torna o sentimento latente, e vou desferir contra o outro, o que está mim...É uma questão de identificação, as vezes, nem se percebe, é no plano inconsciente, um fenômeno que ocorre conosco, por isso a importância de estar atento, vigiando...

Quando comecei a perceber isso em mim, passei a ser mais tolerante com o outro, passei a me guardar mais, e ao mesmo tentar entender e também tratar esse meus “incômodos”.

O que amamos ou detestamos no outro, é o que amamos e detestamos em nós! Por isso é tão difícil aceitar o diferente.
Para aceitar o diferente é preciso autonomia, maturidade, e isto não se dá da noite para o dia, são fases a percorrer, embora, muitos de nós já estejamos adultos, podemos não ter cumprido estas fases com suficiência e ainda não estamos maduros para entender, controlar e mudar mesmo.

Uma das chaves para a felicidade é falar tudo o que sentimos, se possível, sem restrição, mas importante, controlar o que se pensa, para não falar o que pode criar algum tipo de desconforto, ofensa, ou ruptura com a pessoa do outro. Quando falo o que sinto sem ferir ou prejudicar a relação, seja ela em quais papéis forem (pai, mãe, filho, esposo, esposa, namorado, namorada, amigo, profissional, etc), a relação vai se fortificando, por isso: sentir, pensar e depois falar.

O momento das Eleições nos ajuda nesta reflexão, rever tudo que publicamos nas redes sociais, nos grupos, criar um olhar crítico para perceber como nos portamos, como estou expressando o que sinto e penso.

Percebe-se um festival de “deselegâncias” nas redes sociais e grupos, chegando até a xingamentos, ofensas, com insultos dos mais variados tipos, inclusive nos grupos de famílias. Qualquer manifestação de escolha, contrária ou diferente, o insano é disparado...

O que deveria uma manifestação da escolha pessoal, se torna para o outro uma ofensa pessoal, vai contaminando, espalhando intolerância...Sempre haverá espaço para o diálogo, a discussão, quando o desejo for manter os laços e unir as pessoas.

Não revidar, agredir, pagar na mesma moeda, é o primeiro passo, principalmente se tiver a certeza das minhas convicções, pois quem discute, se impõe, briga, não está certo de si...

“Embora haja milagreiros, não há milagres...o mundo está repleto de seres humanos sofredores que precisam de nosso reconhecimento e auxilio” (Bruno Bettelheim), este pensamento do autor de “A Psicanálise dos contos de fadas”, parece refletir bem o momento que vivemos...
Os “milagreiros” estão aí, com seus times formados, o tempo todo, cegos de desejo de guiarem outros cegos...

Lucidez, é a palavra adequada para entender este momento, entender os nossos sofrimentos e os dos outros, sem descartar a possibilidade do risco de sermos parte de mais um “conto”, mas isso é assunto para o próximo artigo...

Faça de acordo com os seus sentimentos, é seu direito, sua conquista, mas pense muito pra falar e se expressar, pois esse é o direito do outro...isto é democracia, é relação humana...