Ponto final ou início das reticências...!?


Observando as pessoas com quem convivo, em família, no social ou profissional e redes sociais, venho percebendo um movimento natural em direção do que seja verdadeiro nas relações...

Falar, expressar e revelar o que se sente, é prioridade...mas e aí, como falar o “sentimento”? Como ir do falar do que se sente, para “falar o que se sente”? Embora possa parecer a mesma “coisa” (se é que “coisa” se parece), não é!

Não nascemos falando, nos é ensinado... as primeiras palavras, nos são apresentadas carregadas de sentimento, portanto a fala, se cria em nós a partir da relação de amor e cuidado que recebemos dos primeiros cuidadores, geralmente a mãe, pai, alguém muito próximo...Ouvir a fala dos cuidadores para conosco, ainda bebês, foi algo tão importante e crucial, que definiu a nossa existência...

Pensando sobre isso, percebemos o quanto é necessário para falar o que realmente sentimos, a presença de alguém conosco que nos transmita de fato, afeto, carinho, amor...

É muito comum, quando se está com alguém que nos ama, e por algum motivo, alguma questão nos incomoda e não falamos, a pessoa questionar: “o que está acontecendo”? “Você está diferente hoje”? “O que o preocupa? “...

Todos temos, sem exceção, questões internas, incômodos, ou como queiram chamar... e quando não conseguimos colocar para fora, expor, dividir, “compartilhar”, surgem o que chamamos “problemas”!

Toda vez que uma “questão” se faz sentir...nosso ser clama por existência...ou seja, somos impulsionados na direção do “outro”, para ser percebido, sentido, amparado, amado...

O amor, afeto e carinho no “outro”, é o “espelho em que me encontro e me reconheço” gente, pessoa, alguém que existe... Vejo o outro, logo me vejo!
Mas para isso, o “outro”, que também “sou eu”, nas relações (papéis que assumimos na vida: materno, paterno, fraterno, profissional, social), é preciso ser verdadeiro, sincero, afetuoso, delicado, simples, humano...

Quando encontramos o “verdadeiro” no outro, vemos o “verdadeiro” em nós... e a raiz da verdade é o amor... Amor que ampara, suporta, dá sentido, aos sentimentos... Amor que permite que o “outro” se veja, se entenda, exista...

As relações humanas se constroem na verdade, no amor...por isso o “aparente”, que por si só se define, como aquele que não tem afinidade, adoção (por relação consanguínea ou não), não nos preenche e impede nossa existência por completo...

Todos os dias encontro Pessoas, incríveis e claro, com inúmeras “questões”, e que vivem enormes “problemas”, por não conseguirem, por medo, culpa, sentimento de rejeição, ou mesmo por oportunidade de falar... e portanto sofrem...não pela questão em si, mas, por não conseguirem expô-las...
As Pessoas precisam falar, o mundo precisa se curar...por todos os lados que olhar, identificará alguém com desejo de perceber-se, a partir de Você...
Jesus, o Mestre, sem hesitar falou: “Minha alma está triste até a morte, ficai aqui e vigiai comigo...” (Mateus 28,36), expondo seus sentimentos, sem receio ou vergonha, com muita fraqueza. A franqueza nas fraquezas nos tornam humanos, espelho para o outro! Verdadeiros...

Aparências, “o politicamente correto”, o “por obrigação”, “preceito”, pré-conceito, estão levando às pessoas a ocultarem suas verdades... e o que não é verdadeiro, é falso...incompleto... Na ânsia por aparentar o “certo e não o errado”, não expõe as verdades! As relações se tornam falsas...sem elo, vinculo...amor!

Precisamos falar e ouvir! Precisamos existir... As relações clamam, nos papéis de cada dia... espaço para a conversa, diálogo, vencer a tentação do discurso de imposição... e perceber, “que o ponto final na fala, pode ser o início das reticências” ... perceber e ouvir o silêncio (que fala), é o começo!
Então: “O que está acontecendo”? “Você está diferente hoje”? “O que te preocupa”? ...
Vamos falar... (continua no “próximo”).