Quem sou Eu? Sou o Eu que pergunto, ou sou o Eu que respondo? Eu sou, o que pergunto! Eu sou o que respondo!
A dificuldade do ser humano de responder esta questão (Quem sou Eu?), se deve ao fato de que pode ser preciso uma vida inteira para descobrir a resposta... “É como o homem que ao descobrir um tesouro enterrado no campo, vai vende tudo o que tem e volta para comprar este campo” (Mateus 13,44). Descobrir “Quem sou Eu”, é a riqueza e o valor da vida, demanda muito esforço, perseverança, e principalmente sacrifício...
É uma longa caminhada e que a partir da adolescência, passa a ser solitária, é nesse período de transição para o adulto que se vai perceber, a subjetividade humana, sua singularidade...que mesmo caminhando juntos, pois não há como ter o “Eu”, sem o “Outro ... caminhamos sós... cada um por si, onde o “Outro” se torna o suporte quando precisar...mas que, não caminha por você...
O adolescente percebe que tem vontade própria, e que a impressão de mundo, nele constituído passa a não ser mais suficiente, ele terá as suas próprias impressões, viverá suas próprias vontades...fará escolhas, será responsável...
Adolescente criado com suficiência, percebe que lhe falta completude e fará a travessia para o adulto...Não é fácil, insegurança, desamparo...é como estar na ponte onde só cabe um, mais ninguém, de um lado do rio, a infância, do outro a vida adulta...ninguém pode atravessar por ele... É a dor solitária de perceber que é dono e senhor da travessia...Muitos sucumbirão, outros ficarão estacionados...Doí crescer e amadurecer...e se não atravessar, não vai existir por completo...Quantos à margem do rio? Ou presos na ponte?
É nesta fase linda do humano que o “Eu sou” pede espaço, o existir gritará por liberdade, para a “vida em abundância” (João 10,10). O “Eu sou” grita pois sente que pode conhecer a “verdade que liberta” (João 8,32) sua existência...
Desvencilhar do que se carrega de impressões, marcas, vontades que não são suas, sem deixa-las para trás, é o caminho para o “Eu sou”, corresponde a existir, tomar posse do campo da vida, assumir ser o sujeito de si mesmo, caso contrário a vida se tornará pesada, sem brilho e alegria...
Toda vez que criticamos, censuramos, não ouvimos, ou agredimos o adolescente, que pode ser um filho, aluno, ou alguém na multidão, é o grito de socorro do adolescente dentro nós, ainda preso naquela “ponte”, solitário e desamparado...
Quando criança, somos sujeitos dos nossos cuidadores, seguimos suas impressões e vontades, mas a vida não deve parar ali, tem de seguir, “por isso o homem deixará pai e mãe” (Genesis 2,24), para viver suas próprias impressões, suas próprias vontades... seu caminho!
Não há como ir ao encontro do “Outro”, sem a ciência, o conhecimento de si, sem encontrar o “Eu sou”. Através do “Outro”, me torno “Eu”, ligado a este pelos laços de afeto e amor!
Quando Moisés, importante Personagem Bíblico, se encontra-se com Deus no Monte e recebe a missão de libertar o Povo Hebreu da opressão que viviam no Egito, Moisés pergunta: “Quem SOU EU, que vá a Faraó e tire do Egito os filhos de Israel? ... E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós. ...” (Êxodo 3, 11 a 14).
“Te mostrei meus defeitos, deixei livre a respeito de ir, mas você ficou e jurou me amparar se precisasse...
Sabe aquela palavra? Amor... Então, não tenho vocação pra ela, dói demais e pra que? Para ter alguém que me pague o sorvete? Eu passo” ...
(Maria Vitória, 14 anos, “Na travessia”)
“A fé é o fundamento das coisas que se esperam, é a prova das coisas que não se veem” (Hebreus 11:1). A Fé é energia, potência, força, “pulsão de vida”, que nos move e nos põe a caminho, para o encontro com o “Eu sou”.