“Escrevemos em primeiro lugar para satisfazer alguma coisa que se acha dentro de nós” diria Freud. Olhamos, falamos, cantamos, ou qualquer coisa que façamos, é “em primeiro lugar para satisfazer alguma coisa que se acha dentro nós”, e que “coisa” é esta? Freud descobriu e apresentou o “Inconsciente” (1900 “A Interpretação dos Sonhos”), como essa “coisa”, que não controlamos, mas que sentimos e nos impulsiona ao longo da existência: “satisfazer alguma coisa que se acha dentro de nós”, é tratar de desejos, vontades, quereres e de aspirações, inspirações de algo que “nos” falta. O desejo é um sentimento que nos impulsiona, impele, leva ao encontro de um “objeto”, “algo” que venha nos preencher.” E se há por preencher, há espaço, lacuna, vazio, desejo de completar-se!?” “Se existe um objeto de teu desejo, ele não é outro senão tu mesmo” afirma Jacques Lacan (1901/1981), Psicanalista Francês. Desejo é sentimento, “paixão”, nos impele e impulsiona para o outro, é algo forte, avassalador, cantado e recitado pelos poetas ao longo da história...” Oh, paixão, que fazes com meus olhos que não enxergam o que veem?” (Sakespeare 1564/1616). “Paixão” é sentimento que busca um sentido... Segundo ouvi dizer, “paixão não dura muito”. Será que tem prazo de validade? Paixão “é como fogo em palha”, diria a sabedoria popular... E aí? Já sentiu uma grande “paixão”? Já se deixou levar por uma “paixão”? Aquele desejo de estar o tempo todo com o outro, ser só e para ele, sem medidas, a não ser as do prazer? E aí? Está hoje com quem sentiu pela última vez essa “paixão”?
Segundo ouvi dizer, “paixão que é verdadeira, se transforma em amor”, é “como água mole em pedra dura, tanto que bate até que fura”, será? “Paixão” é amor quando caminha para “compaixão”, pensei! Será?
“Paixão sem compaixão”, não avança além do egoísmo, fica só “em si próprio”, egocentrismo... O “eu” não sentirá existência, não se completará, o “outro” é só para “seu” prazer, objeto de uso, “Compaixão” é perceber a falta do outro, na falto no outro, é ter a coragem de olhar nos olhos do outro, e perceber um abismo sem fim e sentir o abismo dentro de si... É sofrer junto, amparar, olhar na mesma direção, com o mesmo sentido...amar!
“Paixão” é encontro de abismos, encontro de desejos, de se completarem! “Paixão” é sempre passado e presente e sem futuro, pois não é sentimento que virá, mas que está... “Paixão” é pra ser conjugado na terceira pessoa do presente e no pretérito (passado) perfeito: “nós” sentimos, “nós” amamos, “passamos”, estamos, falamos, vivemos...juntos “com paixão” e “compaixão”!
“Paixão” é amor a dois, quanto se vive o tempo como presente, dom, gratidão, oferta de si. É perceber a imperfeição, o abismo do outro e ter coragem de se aventurar, conhecer, percorrer estes caminhos, que nem mesmo o “outro” conhece, mas sente, sem medo do seu próprio abismo interior...
“Paixão” sou “eu que sinto, ou sentia”, “compaixão somos nós sentindo”, passando, vivendo juntos, “com paixão”, cada momento, como presente! Apaixonados!
Pense nisso!
“Não sabemos da alma senão da nossa; as dos outros são olhares, são gestos, são palavras, com a suposição de qualquer semelhança no fundo”. (Fernando Pessoa 1888/1935).