No último domingo Carol Solberg na comemoração do bronze na etapa do circuito de vôlei de praia manifestou seu posicionamento político, causou uma polêmica e trouxe a tona o debate sobre democracia e a liberdade de expressão no esporte.
Logo adiantamos, não queremos aqui ser palco de questionamentos ou juízo de valor sobre o posicionamento político da atleta do vôlei de praia, pois somos um espaço democrático e pretendemos mantê-lo. Nosso objetivo neste artigo alguns pontos relacionados a discussão entre esporte e política, em especial, o direito à liberdade de expressão dos atletas nos eventos esportivos. Há este direito?
Primeiro ponto seria relacionado aos excessivos questionamos sobre uma maior participação, envolvimento e posicionamento dos atletas nas questões políticas, entenda-se questões políticas as relacionadas aos aspectos, éticos, raciais, gênero, ambientais, trabalhistas, entre outras. Sem generalizar, mas são poucos atletas atuantes na defesa de direitos civis e é compreensível a ausência dos atletas em virtude do posicionamento das instituições.
Desde 1978, os atletas olímpicos possuem a Carta Olímpica, uma cartilha que regulamenta as regras e guias de conduta aos atletas, conforme a regra 50 não é permitido manifestações políticas nos jogos, vila olímpica e cerimônias de entrega das medalhas, abertura e encerramentos.
O documento ressalta que é permitida as manifestações políticas nas redes sociais pessoais dos atletas, no entanto, nenhum de nós é ingênuo a tal ponto de duvidar do monitoramento e controle das instituições e sociais das redes sociais dos atletas.
Foram vários momentos na história dos jogos olímpicos que houveram manifestações políticas dos atletas com punição do COI, citaremos apenas dois casos. O do Jesse Owens, atleta negro norte-americano na Jogos de Berlim (1936) que conquistou vários ouros em plena Alemanha Nazista ameaçando as ideologias eugenistas (supremacia da raça branca) de Hitler, que se recusou a cumprimentar o atleta campeão negro.
E Nos Jogos Olímpicos do México (1968) os também negros e norte-americanos Tommie Smith e John Carlos, protestaram contra o racismo na cerimônia de entrega das medalhas, resumo foram expulsos da vila olímpica e banidos para sempre das disputas esportivas organizadas pelo COI. Sem contar os boicotes dos capitalistas nos jogos socialistas (Moscou-1980) e dos socialistas nos jogos capitalistas (Los Angeles-1984) (RUBIO, 2015).
Casos como este ilustraram o posicionamento do COI nestas questões políticas, em especial. Assim, devemos ampliar a questão e refletir o esporte e as institucionais contribua com aos interesses sociais e não individuais.
Para se prevenir de manifestações de cunho político, especialmente indesejadas, trataram de definir algumas regras e normas de condutas, punindo exemplarmente os atletas que as descumprirem.
Os atletas brasileiros de um modo geral são formados para obedecer, se isentar das questões políticas e não questionar as regras estabelecidas, principalmente pelas instituições.
Afirmar que o esporte não tem relação com a política é desconhecê-lo profundamente, existem evidentes relações entre o esporte e as questões políticas, tanto no uso político como plataforma partidária ou desenvolvimento de ideologias quanto na expressão totalitária, no caso de cercear a liberdade de expressão dos atletas em seus eventos. E todos os políticos, sem exceção, dos honestos ao sem escrúpulos, utilizam-se livremente do esporte como plataforma política e com o aval das instituições.
Quando uma atleta se expressar após uma final de jogo, como no caso de domingo, sabemos que as instituições não proíbem as manifestações políticas dos atletas, isto seria antidemocrático, mas restringem atos políticos em seus eventos, no caso envolvendo a Carol Solberg, naquele espaço em especialmente ela não poderia se manifestar, como os atletas do masculino em no Mundial de 2018 também não poderiam se manifestar com a camisa da seleção brasileira em uma foto oficial da CBV.
Na ocasião de 2018 a punição aos atletas homens uma repreensão e no caso da atleta mulher, que pode prejudicar os interesses da CBV com a estatal Bando do Brasil sua patrocinadora master?
Devemos lembrar que comentários raivosos dirigidos a atleta nas redes sociais e fake news não ajudam o debate, a desinformação é algo prejudicial e preocupante, algo a ser questionado e combatido no contexto da sociedade atual.
Neste caso, destacamos que surgiram falsas informações que a atleta do vôlei de praia era da seleção brasileira, auxiliada pelo bolsa atleta e patrocinada pelo Banco do Brasil, na realidade, a estatal patrocina a CBV e o evento promovido pela entidade. Neste caso, antes de tudo, temos que busca as informações corretas, averiguar a fonte, origem de quem a informa, ou seja, temos que ter responsabilidade, este é um ponto importante.
No espaços e arenas esportivas, em especial, não há uma possibilidade de liberdade de expressão, isto se agrava em sociedades polarizadas e que exerce um excessivo controle social por meio das redes sociais, caso da brasileira.
A discussão não deve ser polarizada, ou se a atleta Carol Solberg apoia ou é contra político A ou B. Fato é que se descumpriu um acordo que todos os atletas assinaram ela torna-se passível de punições, podendo ser disciplinar ou ética.
Um detalhe, que definem as regras, normas e condutas são as próprias instituições para defender pura, única e exclusivamente seus interesses, em especial os econômicos. Ressaltamos que fora das arenas esportivas os atletas são cidadãos e tem o direito institucional de se expressarem, independente das escolhas políticas, lembrando sempre no limite da lei, aos democráticos cabem zelar pela democracia e liberdade de expressão.
No contexto democrático todos tem o igual direito e liberdade de expressão. A polaridade vem sendo algo preocupante na nossa sociedade. Democracia não é igual clássico no futebol, como um Fla-Flu, não pressupõem concordar ou discordar, é dialogar com respeito e realizar as melhores escolhas e decisões que beneficiaram a todos. Pressupõem um exercício constante ser democrático, zelar e manter a democracia. Política é o bem comum e democracia é a escolha feita pela maioria, caso concordamos ou não.
Portanto, dirigentes que conduzem as instituições esportivas cerceando a liberdade de expressão, colocam as instituições em prol dos seus interesses particulares, comprometem e colocam em jogo os ideais democráticos e não contribuem com o desenvolvimento do esporte e tão pouco do país, assim, como os atletas, dirigentes com estes comportamentos também deveriam também ser passíveis de punição.
Téo Pimenta, é professor universitário e diretor do Instituto Esporte Vale (IEVALE). Procura refletir e compreender o fenômeno esporte nas suas diferentes dimensões. Criador do Canal Téo Pimenta no YouTube. Colunista no AgoraVale desde 2018.