Fizemos uma breve análise dos acontecimentos e tecemos comentários a partir de algumas observações nestes pouco mais de 100 dias do retorno do futebol brasileiro e vemos as autoridades atônicas nas tomadas de decisão e muitos sem saberem qual decisão tomar.
O futebol retornou fora de uma situação de normalidade no nosso país, desde maio o Brasil é um dos epicentros do coronavírus, mesmo assim, o futebol retornou, vimos um número crescente de casos e mortes pelo coronavírus, em algumas localidades mantem-se uma um nível de estabilidade, mas estável lá em cima da curva ascendente de casos, mesmo com muitas mortes, o futebol brasileiro voltou.
Neste caso, vale ressaltar que o esporte reproduz a sociedade, desta forma, da mesma forma que a um descaso das autoridades sobre os perigos do coronavírus no futebol não seria diferente.
No último domingo o Flamengo teve que jogar com time alternativo, porque 19 dos seus jogadores foram infectados pelo coronavírus, somando a sua delegação ao total testaram positivo 41 integrantes. Será que dentro do Flamengo não estão pensando na segurança dessas vidas? Ou na arrecadação, vamos aos números relacionados a arrecadação do último campeão Brasileiro o Flamengo, um dos principais defensores do retorno, a paralisação do futebol representava uma queda significativa nas suas receitas, sendo que 24% das suas receitas são de direitos de transmissão dos jogos pela TV e 16% era arrecadado por bilheteira nos jogos.
Desta forma, esta explicado a pressão feita por seus representantes junto aos governo federal, estadual e municipal para o retorno do futebol no país, estabelecendo quedas de braços com o grande grupo de telecomunicação do Brasil. Vimos os clubes arquitetarem o retorno de qualquer maneira e conseguiram retornar.
E entraram para a história por disputar uma partida ao lado de um hospital de campanha no complexo do Maracanã e comemorar um gol ao invés de fazer um luto, ou se solidarizar pelas vidas perdidas. É claro que muitos não veem clima para se comemorar um gol ou uma conquista do seu time em meio ao um descaso das autoridades pela vida de milhares de brasileiros que foram perdidas.
Agora faz uma pressão para o retorno das torcidas para o próximo mês, algo também justificável pelos interesses em jogo, lembramos parte da receita significativa do Flamengo vem da compra de ingressos.
Já ultrapassamos a casa dos mais de 143 mil mortos e os casos passaram da marca de 4.780 milhões. Assistimos o futebol acontecer dentro de um "novo normal", autoridades públicas sucumbirem a pressão dos dirigentes ao retorno dos jogos, ao retorno dos torcedores, abertura de bares.
E qual seria a real intenção do retorno do futebol? E o senso de empatia dos nossos governantes. Questionamos, seria justo comemorar um gol sendo que ao mesmo tempo uma pessoa pode estar morrendo. Repetimos, qual seria o real interesse do retorno do futebol neste contexto social?
O futebol não retornou, o que retornou foram os negócios que envolvem o futebol. Estamos assistindo inúmeros casos acontecendo dentro do futebol brasileiro, isso de fato é preocupante, ascende um sinal de alerta. Reforçamos, o futebol deveria voltar dentro da um contexto de normalidade, mas na verdade, o capitalismo a brasileira coloca os interesses econômicos acima de tudo, até de vidas.
Téo Pimenta, é professor universitário e diretor do Instituto Esporte Vale (IEVALE). Procura refletir e compreender o fenômeno esporte nas suas diferentes dimensões. Criador do Canal Téo Pimenta no YouTube. Colunista no AgoraVale desde 2018.