E deu Liverpool pela primeira vez no Mundial de Clubes

Deu ruim para o Flamengo, mas a questão que fica depois da final do mundial de clubes da FIFA é o que vem acontecendo com o futebol brasileiro?


Iniciamos nosso debate com a seguinte questão: o que mudou no futebol brasileiro nestes 38 anos da vitória do Flamengo de Zico e cia por 3 a 0 sobre o Liverpool em 1981 para a vitória de 1 a 0 do Liverpool no último sábado.

O Liverpool, um clube de origem operária e de base socialista, conquistou 6 ligas dos campeões da Europa, assim, participou de quatro disputas pelo título Mundial de Clubes, em duas oportunidades desistiu de disputar, das quatro disputadas perdeu três, Flamengo (81), Independente da Argentina (84) e São Paulo (2005). Finalmente em 2019 conquistou seu primeiro título de Mundial de Clubes frente ao Flamengo no último final de semana, conquista comemorada pelos jogadores em suas redes sociais, especialmente os brasileiros, Alisson e Firmino autor do gol da vitória, já os torcedores nem foram recepcionar a chegada dos jogadores nas terras dos Beatles. Culturalmente o título de Mundial de Clubes FIFA é pouco comemorado pelos europeus, para ser sincero, os torcedores europeus dão pouca importância se seu clube perde o ganha este torneio intercontinental.

Um pouquinho do jogo final que foi disputado no estádio Khalifa International em Doha no Qatar e decidido na prorrogação pelo atacante brasileiro Firmino, após empate sem gols nos 90 minutos da partida, o desempate seria decido na prorrogação e se persistisse teria cobranças de pênaltis. Desde início da prorrogação o Flamengo demonstrou uma queda acentuada na parte física, consequência do final da temporada do clube brasileiro, assim, não conseguiu suportar o intenso ritmo e correria do time inglês, em especial dos seu rápido ataque com Salah, Mané e Firmino que aproveitaram os instantes de descuidos e rara liberdade da defasa rubro negra para executar a jogada do gol aos oito minutos do primeiro tempo da prorrogação, matando o jogo para os ingleses. Como observamos, em razão do nosso calendário os clubes brasileiros vão sempre chegar com quase o dobro de jogos a mais que europeus, que estarão no meio da suas temporadas, assim levam uma vantagem na questão física.

Em 81 com Zico, Junior, Nunes e cia o jogo foi diferente, o Flamengo venceu os ingleses por 3 a 0 no estádio Nacional de Tóquio e conquistou sua única Taça de campeão Mundial de Clubes da FIFA. Sempre ficou me perguntando, o que ocorreu no futebol brasileiro nestes 38 anos que se passaram?

Se formos pensar as décadas de 80 e 90 os clubes brasileiros conquistaram o Mundial de Clubes com certa propriedade, o Grêmio sagrou-se campeão em 1983, o São Paulo foi bicampeão em 92 e 93 jogando bem e se impondo dentro de campo. O Corinthians e o Vasco protagonizaram grandes jogos contra europeus e chegaram na final do Mundial de Clubes em 2000, no torneio organizado pela FIFA no Brasil, na ocasião o Corinthians ficou com o título. Mas com a virada do século o São Paulo tornou-se o tricampeão em 2005, o Inter de Porto Alegre foi campeão em 2006 e por fim, o Corinthians bateu o Chelsea em 2012, no entanto, venceram tomando sufoco e com placares magros. E de 2012 para cá, assistimos uma hegemonia europeia nas conquistas dos campeonatos Mundial de Clubes da FIFA.

Em números gerais o maior recordista de Mundial de Clubes é o espanhol Real Madrid com 7 conquistas, nas edições de 1960, 1998, 2002, 2014, 2016, 2017 e 2018, em 2017 o Real vence o Grêmio com um placar modesto de 1 a 0, gol de falta de CR7 e o destaque dos portoalegrenses foi o zagueiro Geromel; o segundo é o Milan da Itália com 4 taças, as de 1969, 1989, 1990 e 2007. O clube brasileiro com maior número de títulos de campeonatos Mundiais é o São Paulo, com 3 conquistas, o bi de 1992/1993 e 2005. O São Paulo está no grupo de tricampeões Mundiais de Clubes juntamente com Barcelona (Espanha), Bayern de Munique (Alemanha), Internacionale (Itália), Boca Juniors (Argentina) e Nacional e Peñarol (ambos do Uruguai).

Somados os títulos do Mundial de Clubes os europeus possuem 33 títulos contra 26 dos clubes da América do Sul.

O país com mais vencedores é Espanha com 11 títulos, em seguida vem o Brasil na segunda colocação com 10 títulos, em terceiro a Itália e Argentina com 9 títulos. Os ingleses aparecem na sétima colocação ao lado dos holandeses com 3 títulos cada.

Desses 38 anos a gente viu nascer grandes craques no Brasil de relevância Mundial, afinal somos considerado um celeiro de craques, isso é quase que natural pelo volume de clubes de futebol espalhados pelo país. Mas, ao mesmo tempo não vemos nada planejado e executado para mantermos nossos craques por aqui e fazermos um campeonato forte, pensado no aspecto da beleza do jogo como um espetáculo.

A má gestão nos clubes no futebol brasileiro fazem-os afundar num mar de escândalos, dividas e que os impedem de avançar em seus diferentes aspectos econômicos e principalmente futebolísticos, especialmente se comparados aos resultados da organização do futebol europeu, sempre referenciada como modelo por aqui.

Quando veremos novamente um Flamengo de 81 que tinha Zico como referência massacrar o Liverpool e vencer por 3 a 0, um Grêmio de 83 dominar o Hamburgo com jogadas de Renato Gaúcho, um São Paulo como o do início dos anos 90 que se impôs frente aos poderosos Barcelona e Milan e um Corinthians e Vasco protagonizar em 2000. Mas depois com a virada do século acompanhamos vitórias sofridas com o São Paulo em 2005 sobre o Liverpool e a do Corinthians sobre o Chelsea em 2012, ambos, jogando este futebol de espera por uma bola, que não propõe ao jogo, que privilegia a defesa e o contra-ataque. Sem falar na derrota do Santos de Neymar e Ganso em 2011, por 4 a 0 para o Barcelona, que os meninos da vila não viram a cor da bola. 

O futebol brasileiro caiu muito em produtividade e criatividade dentro de campo, há um problema profundo que soma, má formação dos jogadores, vendas precoces de garotos ainda na base sem o devido amadurecimento, por pressão de empresários, obediência cega ao mercado, os nossos bons jogadores fortalecendo as ligas europeias, calendário inchado, campeonatos de baixa qualidade, sem contar a pouca profissionalização dos dirigentes no futebol gerando uma má gestão que reflete dentro de campo. Problemas amplamente debatido nos inúmeros programas esportivos e que se soma a muitos outros de inúmeras ordens.

Não quero nem comparar, porque acho um iato muito grande especialmente com relação aos aspectos econômicos entre o futebol brasileiro e inglês, imaginem que apenas Salah custa mais que o elenco de todo o Flamengo, em números, segundo Jorge Nicola o egípcio vale 150 milhões de euros e o elenco flamenguista 145 milhões de euros, isto é só um exemplo.   

É claro, que no jogo de sábado passado o Flamengo poderia ter ganho do Liverpool, porque como sabemos o futebol é o único esporte improvável, único. Mas ao longo desses 38 anos estamos assistindo o futebol brasileiro e muitos clubes por aqui perdem de goleada para organização de muitos clubes do futebol europeu, não somos inocentes de chegar ao ponto de acreditar que tudo pela Europa, só por ser Europa, seja perfeito, vemos más administrações por lá também, só para citar um exemplo, o caso de sonegação no Barcelona na venda do Neymar que culminou na renúncia de dirigentes envolvidos.

No entanto, tanto dentro quanto fora de campo, é certo que o futebol brasileiro deve se organizar e mudar urgentemente.

Fontes: futdados.com e Canal do Nicola

 

Téo Pimenta é professor universitário, diretor do Instituto Esporte Vale (IEVALE), profissional formado em Educação Física, especialista em Educação e mestre em Desenvolvimento Humano. Procura refletir e compreender o fenômeno esporte nas suas diferentes dimensões. Colunista no AgoraVale desde 2018.