A Seleção Brasileira de 94 conquistou mais não encantou, passou-se 25 anos do Tetra as lembranças da Seleção do Parreira da Era Dunga que apresentou um futebol de resultado mas de pouco encanto.
Da Seleção Brasileira de 1994 muitos iram se lembrar do Dunga levantando a Taça, do futebol competitivo com prioridade no jogo defensivo do técnico Carlos Alberto Parreira que marcou esta Seleção, da genialidade e do protagonismo de Romário. A Seleção era boa, tanto era que ganhou, mas longe de ser uma das melhores Seleções da história, o elenco tinha bons jogadores, era um bom conjunto, escalo de cabeça a seleção titular: Taffarel, Jorginho, Márcio Santos, Odair, Branco, Mauro Silva, Dunga, Mazinho, Zinho, Bebeto e Romário. Lembro-me também que a decisão entre Brasil e Itália foi a primeira Copa decidida nos pênaltis. Neste artigo meu interesse é resgatar o contexto da Seleção para essa Copa que conquistou mas não encantou.
Momentos históricos como este, dos 25 anos da conquista do tetra poderia levantar questões importantes para algumas possíveis discussões e debates. E estamos preocupados com isso? Estamos mais preocupados em como ficaremos com 70 ou 80 anos, são os nossos novos tempos de brincadeiras, divertimentos e risos em redes sociais proporcionados recentemente com os aplicativos que deixam os rostos mais velhos. Mas vamos focar na nosso discussão e analisar este marcante momento esportivo brasileiro.
O contexto da Copa de 94 era de descontentamento da torcida e imprensa esportiva, pressão normal em Seleções Brasileiras que apresentam um mau futebol antes de Copas do Mundo. A Seleção vinha jogando tão mau que perdeu pela primeira vez um jogo em Eliminatórias da sua história, os 2 a 0 para a Bolívia na altitude de La Paz, na ocasião fazia 39 anos que o Brasil não perdia em um jogo de Eliminatórias. Nesta competição o Brasil também empatou com o Equador fora de casa e com risco de não participar da Copa de 1994.
O técnico Parreira após pressão popular, da imprensa e necessidade da vitória no último jogo contra o Uruguai no Maracanã convocou Romário que estava no melhor momento da sua carreira, tinha o mérito de estar nesta Seleção Brasileira, mas esteve de fora até o momento do último jogo contra o Uruguai no Maracanã, jogou muito, com direito a chapéu, rolinho entre as pernas do adversário e dois gols com a assinatura do artilheiro, que garantiu a vaga do Brasil na Copa de 1994. O resta já sabemos!
Dunga protagonizou três momentos na Seleção Brasileira, o primeiro iniciou-se com o estigma da Era Dunga que tinha ele como símbolo de um futebol defensivo e seguia um padrão europeu reproduzido e defendido pelo então técnico da Seleção Sebastião Lazaroni na Copa de 1990 que resultou na eliminação para a Argentina de Maradona, logo na Copa seguinte teve sua redenção como capitão que levantou a taça do Tetra na Copa dos Estados Unidos de 1994 e que marcou seu gol de pênalti na decisão, seu ciclo na Seleção como jogador se fechou na Copa de 1998, mesmo com a eliminação pela França, destacou-se pela sua liderança e experiência.
Dunga após sua carreira no futebol tornou-se técnico da Seleção Brasileira com uma única passagem por clube, desta forma, foi muito questionado pela sua pouco experiência no cargo, no entanto, tinha uma imagem de treinador disciplinador. Como técnico Dunga esteve a frente da Seleção campeã da Copa América de 2007 e no vexame da eliminação ainda na primeira fase na Copa América Centenário em 2016 nos Estados Unidos, na derrota com gol polêmico de mão por 1 a 0 para o Peru, na ocasião foi demitido e substituído por Tite atual técnico da Seleção.
Romário na Copa de 1998 foi cortado por contusão e em 2002 por descumprir um pacto com a família Scolari e por algumas polêmicas, como rumores do caso da aeromoça no voo para Montevidéu, neste jogo Romário teve uma má atuação e o Brasil foi derrota para o Uruguai, fatos que culminaram no corte do baixinho para a respectiva Copa. Romário é uma personagem do nosso futebol, típico jogador de futebol, pelo talento é aceito pelos técnicos mas pela personalidade e atitude criou muitos problemas fora de campo. Após sua carreira no futebol com mais de 1000 gols tornou-se deputado, atualmente é senador da bancada da bola e atento as questões do futebol brasileiro, em especial da CBF.
Ao analisar estes 25 anos observamos as muitas transformações no futebol nacional e internacional, apontando alguns pontos de partida, como: o mérito esportivo tende a ficar no discurso; há uma necessidade exacerbada de construir histórias de superação e redenção individual, de busca por culpados individuais, fabricação de heróis e salvadores da pátria; trocas constantes de técnicos após crises, isso num primeiro momento dá a entender que a culpa é individual e que a instituição está atenta aos problemas e buscando resolver imediatamente, mas sem grandes diagnósticos e planos que de fato tragam resolução do problema, uma prática nada profissional; a modernização do futebol apagou o que por muito tempo foi a identidade do futebol, como: a ginga, o improviso, o drible, o lançamento longo, ou seja, a forma exclusiva do brasileiro de jogar futebol que amedrontava os adversários pelo mundo, isso tem que ser resgatado urgentemente; outro ponto a ser observado é o processo de exportação dos craques iniciado na década de 90 que geraram vários impactos, um deles, foi o enfraquecimento dos clubes e campeonatos estaduais e nacionais, pensando na lógica do esporte espetáculo este fato contribuiu para o afastamento do público, consequentemente gerando pouca receita ao clube; outro problema foram as intervenções de empresas e empresários na CBF; por fim, a ferida do futebol brasileiro, a apropriação do poder na CBF, dois exemplos históricos são: João Avelange, que se tornaria presidente da FIFA e depois por seu genro, na ocasião, Ricardo Teixeira, o último destituído do poder após longos anos e inúmeras denúncias de irregularidades.
Nestes 25 anos o discurso propagado está relacionado ao profissionalismo no futebol, tanto dentro quanto fora de campo, ao jogador cobra-se responsabilidades e profissionalismo, ter uma equipe de gestão e marketing da carreira; ao clube a gestão carece de profissionais que se atualizem constantemente e com um alto nível de profissionalismo. Não adianta cobrar do jogador e não oferecer condições, ou seja, o clube tem que se estruturar e ter um gestão cada vez mais profissional para se cobrar profissionalismo, não há outra saída.
A CBF deve alinhar junto as federações filiadas e promover a formação continuada dos gestores esportivos que visem entender este novo futebol e assim contribuir para um futebol brasileiro mais organizado.
Vejo como justa a comemoração e lembrança dos 25 anos da conquista do Tetra para a memória do futebol, mas é momento de debater as questões que surgiram neste período, fica aqui um convite a reflexão.