Maradona "o mais humano dos deuses"

Maradona jogou e causou polêmicas na mesma proporção, por ser popular, carismático, genial, autêntico e falastrão foi transformado pelos argentinos numa divindade e será imortalizado pelo seu povo.


Maradona nasceu em 30 de outubro de 1951 na favela da Vila Fiorito, localizada na periferia de Buenos Aires. Onde foi descoberto pelos Argentinos Jr. e começou a jogar aos 9 anos pelos clube e a sonhar com o futebol:

"Meus sonhos são dois: disputar a Copa do Mundo e ser campeão "

Aos 15 anos já estava entre os profissionais, sua estreia na elite do futebol argentino foi em 1966, pelos Argentinos foi goleador em 4 edições seguidas no nacional e jogou por 12 anos no clube.

Aos 18 anos transferiu-se para o time do seu coração, o Boca Jr. e em 1981 sagrou-se campeão argentino pelo clube mais popular da Argentina. Tinha como referência o craque brasileiro Rivelino, ambos, muito parecidos pelo estilo de jogo, canhotos, espetaculares, faziam misérias com a perna esquerda.

Desde 1977 Maradona já jogava pela seleção Argentina, sendo campeão Mundial de Juniores, mesmo com as boas atuações, sua popularidade e sucesso crescente no Boca não foi suficiente para ser convocado para a Copa de 1978 em casa, da qual a Argentina foi a campeã. Maradona disputou as quatro Copas do Mundo seguintes: 1982, 1986, 1990 e 1994.

A Copa do México em 1986, em especial, foi a consagração mundial de Maradona, que já era consagrado na argentina, foi capitão da sua equipe, ergueu a taça de campeão do mundo e entrou definitivamente para o ral dos melhores jogadores de todos os tempos do futebol mundial, o jogo emblemático para os argentinos foi contra a Inglaterra nas quartas de finais, havia um enredo de vingança pela derrota argentina quatro anos antes na guerra das Malvinas, Maradona fez os dois gols mais comentados de todas as Copas, um de mão, que segundo o próprio disse:

"Muitos dizem que marquei com a mão. Eu digo que fiz isso com a cabeça e a mão de Deus."

E o segundo numa arrancada que ele foi avançando com a bola, driblando e ultrapassando todos os adversários ingleses e completou para o gol, vitória de 2 a 0 e dois gols do D10s.
Um capítulo a parte para nós brasileiros foi o ocorrido na Copa da Itália de 1990, Maradona não chegou 100% para esta disputa e mesmo machucado eliminou a nossa seleção. Na ocasião causou polêmica ao pedir para os napolitanos torcerem para a Argentina contra a Itália em Napoli pela Copa de 1990, disse ele:

"Durante 364 dias do ano, vocês são considerados pelo resto do país como estrangeiros. Eu, por outro lado, sou napolitano durante os 365 dias do ano".

E em 1994 na Copa do Mundo dos Estados Unidos, fez sua última partida oficial pela Argentina, na partida contra a Nigéria foi flagrado no exame antidoping, sendo excluído da competição da qual o Brasil conquistou o tetra campeonato Mundial, e disputou sua última partida oficial pela Argentina. Pela seleção argentina Maradona atuou em 91 partidas e marcou 34 gols.

Atuou por clubes europeus como Barcelona, Napoli e Sevilla. Jogou e causou polêmicas, na mesma proporção, foi na Europa que se intensificou seu envolvimento com as drogas e álcool. No Napoli, de 84 a 91, viveu seu melhor momento, disputando 259 jogos e sendo o terceiro maior artilheiro com 115 gols do clube italiano.

Fez do Napoli de um time pequeno avançar de patamar, obter o respeito dos clubes da Europa, conquistou ao lado dos brasileiros Alemão e Careca, seu parceiro no ataque, dois títulos de campeão da Itália e uma Copa da UEFA e uma Copa da Itália.

Em março de 1991 foi pego no antidoping na Itália e ficou suspenso por 15 meses dos gramadas, rompe com o Napoli, tem uma passagem breve pelo Sevilla na Espanha e retorna para a Argentina para atuar no Newell's Old Boys, disputou sua última partida oficial como jogador pelo Boca Juniors em 2007.

Maradona em sua carreira como jogador disputou 680 jogos e marcou 345 gols. No ano de 2000 a FIFA elegeu Maradona, pelo voto popular e Pelé pelo voto dos especialistas, como os atletas dos século. Na Argentina igualmente no Brasil toda promessa que surge no futebol é considerada o novo Maradona, como acontece no Brasil com Pelé.

Seu nome transcendeu o futebol e foi explorado por política de diferentes regimes. Virou divindade nacional, além de idolatrado, ele é considerado um deus pelos argentinos, em Rosário foi fundada em 2001 a Igreja Maradoniana que atualmente possui representantes em mais de 50 países.

Os fiéis inauguram o ano maradoniano contando de 0 a 10 para que na virada de 29 para 30 de outubro exatamente na meia-noite começar o ano nova. Há devotos, cultos, mandamentos, altar, imagens, celebrações, ritual, cânticos e batismo, este realizado coletivamente e o batizado sendo abençoado pelas "manos de dios" em referência ao momento inicial da devoção ao craque no gol de mão contra a Inglaterra em 1986, considerada o principal milagre realizado por Maradona.

Tamanha é tal idolatria que na Argentina se batiza muitas crianças com o nome de Diego. Há muitos Diegos pelo mundo, muito por causa da idolatria ao Don Diego Armando Maradona e há muitos Diegos pelo mundo.
 
Foi técnico da seleção na Copa do Mundo da África do Sul em 2010, comandando a Argentina de Tevez e Messi, porém não obteve o sucesso desejado, atualmente era técnico do Gimnasia da primeira divisão argentina.
 
Maradona terminou sua jornada nesta última em Tigres, região metropolitana de Buenos Aires, em seu velório reuniu uma multidão na Casa Rosada, tal honraria são para apenas os argentinos ilustres. Segundo ele mesmo reconheceu, em uma autoentrevista, "não dei 100% aos futebol por causa da cocaína". Para o escritor uruguaio Eduardo Galeano, por Maradona ser popular, carismático, polêmico, expor suas convicções políticas e personalidade o torna "o mais humano dos deuses".

 

Téo Pimenta, é professor universitário e diretor do Instituto Esporte Vale (IEVALE).

Procura refletir e compreender o fenômeno esporte nas suas diferentes dimensões.

Criador do Canal Téo Pimenta no YouTube.
Colunista no AgoraVale desde 2018.