O Fla-Flu e os bastidores extra campo

O Flamengo foi campeão Carioca nesta quarta-feira, como a situação envolvendo Flamengo, Globo e SBT nos bastidores pode afetar o futebol brasileiro.


No jogo final entre Flamengo e Fluminense nesta última quarta-feira o Flamengo conquistou o título do campeonato Carioca, mas nosso assunto não será esse, nem os envolvendo seu técnico, se fica ou não na Gávea, a indicativos que não, nem tão pouco o glamour do Fla-Flu, que para muitos já perdeu seu charme a algum tempo. O charme existia nos Fla-Flus da era do rádio, do antigo Maracanã, de uma época do futebol brasileiro com grandes nomes dentro de campo, craques com o C, maiúsculo.

Na verdade, muitas coisas deixaram seu encanto de lado ou de fato o perderam, o futebol é uma dessas, pior, perdeu seu sentido, o que levam dirigentes acreditarem que assistir futebol num contexto como o qual estamos vivendo atualmente seria uma saída para este problema de saúde, enquanto o Flamengo reabria o campeonato Carioca morriam pessoas vítimas de COVID-19 no hospital de campanha ao lado do Maracanã. Muitas perguntam, qual o sentido da continuidade do futebol. Logo vimos, o sentido é econômico, de garantir receitas, arrecadar dinheiros e mais dinheiros.

O que ganha o SBT, que não possui um núcleo esportivo, com a transmissão de apenas apenas um jogo, como o da final do campeonato Carioca entre o Fla-Flu na última quarta-feira, apenas arrecadar alguns milhões, no entanto, qual seria o real interesse do Silvio Santos em transmitir apenas um jogo? E a Globo, por que, não acionou a justiça e reviu seu direito de transmissão do campeonato Carioca, pois tem acordo com o Fluminense. Estas são algumas das duvidas que rondam a cabeça do torcedor um pouco mais crítico.

Sabe-se que a Globo vem revendo seus contratos internos e externos, consensual e judicialmente, no esporte a emissora busca rever acordos e contratos milionários, como por exemplo o com a FIFA para a Copa de 2022 de US$ 90 milhões (R$ 483 milhões).

A emissora carioca tem um desejo antigo de estender a duração do Brasileiro por um período de 10 meses com o sistema de pontos corridos, e a Copa do Brasil e Libertadores da América com o sistema de eliminatórias, campeonatos que nos últimos anos caíram nas graças do torcedor. Os estaduais com a pandemia estão fortemente ameaçados, o desejo da Globo será renegociar seus acordos com as federações e clubes que organizam e disputam as competições, respectivamente. A intenção da Globo em manter os estaduais é transmitir apenas os clubes da elite, nos eventuais jogos decisivos dessas competições. Para muitos a pandemia apenas acelerou o processo para a efetivação da execução do seu plano.

Evidenciando o desinteresse dos torcedores na queda do número de assinaturas do Per-Pay-View nos meses de dezembro a abril de 300 mil para 200 mil, justamente no período dos campeonatos estaduais, assim, em cima desse dado a emissora investe pouco nos estatuais e incentiva e promove fortemente uma competição nacional mais longa, nos moldes europeus, desta forma, um o cenário ideal para a Globo seria o fim dos competições estaduais.

Vale lembrar que o Flamengo era o único clube do Campeonato Carioca que não possuía acordo com a Globo, neste caso, juntamente com o Vasco foram buscar apoio ao governo federal para a aprovação da MP 984/2020, que dá direito de transmissão dos jogos ao mandante, gesto arbitrário do Flamengo, pouco discutido pelos clubes da série A e B do Brasileiro, ou seja, os demais interessados, isso sem falar das federações, entidades e sindicatos que representam os interesses dos jogadores.

O Flamengo e alguns governantes, em especial o presidente da república, aproveitaram o momento para buscar atingir a Globo. O fato é que a discussão vai além do Carioca e é mais aprofundada, ambos como num jogo de futebol, Globo vs Flamengo, procuram a vitória pelos seus respectivos interesses e direitos. Amigos, esse jogo vai longe.

 

Téo Pimenta é professor universitário, diretor do Instituto Esporte Vale (IEVALE), profissional formado em educação física, especialista em Educação e mestre em Desenvolvimento Humano. Procura refletir e compreender o fenômeno esporte nas suas diferentes dimensões. Colunista no AgoraVale desde 2018.