O príncipe Etíope Didi

Didi foi um dos jogadores de futebol mais celebres e elegantes que o mundo já viu jogar, campeão da Copa do Mundo de 1958 na França, eleito o melhor jogador e apelidado pela imprensa daquele país de Monsieur Football.


Valdir Pereira, Monsieur Football, Príncipe Etíope, ou simplesmente Didi, nasceu em 08 de outubro de 1929 em Campos, Rio de Janeiro. Ídolo pelos clubes cariocas Botafogo e Fluminense. Inventor do chute com um efeito mortal chamado de "folha seca" uma das suas armas, especialmente, nas cobranças de falta. Diziam que no seu chute ?folha seca? a bola caia de forma semelhante a uma folha cai de uma árvore em dia de outono, surgido de uma alternativa para não agravar uma lesão no pé Didi cobrou uma falta de três dedos e a bola passou sobre a barreira e rapidamente caiu no fundo do gol. Assim, Amando Nogueira utilizou-se do romance Dom Casmuro de Machado de Assis para definir o ?folha seca? de Didi como um "chute oblíquo e dissimulado como o olhar de Capitu".

Explicações incompreensíveis para nós, só entendem que admira a poesia do futebol romântico.

Didi foi autor do primeiro gol no estádio do Maracanã, atuando em jogo pelo selecionado carioca na derrota para a Seleção Paulista por 3 a 1. Segundo a Federação Internacional de História e Estatística do Futebol Didi é integrante da lista dos 20 maiores jogadores de futebol do século 20.

Exibiu um estilo elegante de dribles curtos e desconcertantes, sempre de cabeça erguida, mostrava simplicidade e beleza na mesma jogada. Jogou com tanta classe e elegância que Nelson Rodrigues o apelidou de "Príncipe Etíope" em alusão as comissões de frente dos carnavais cariocas de rancho da época.

Era tido como jogador de personalidade forte, tanto dentro quanto fora de campo, expressas em frases singulares como: "treino é treino, jogo é jogo" e "quem tem que correr é a bola", denunciando seu desinteresse aos treinamentos físicos, comportamento que marcou o seu jeito de ser e que influenciou uma geração de futuros craques que adquiriram essa filosofia, caso de Romário por exemplo.

Didi iniciou sua carreira no modesto o Americano (RJ), passou pelos pequenos Lençoense (SP) e Madureira (RJ). Mas seu futebol se destacou nos grandes Fluminense, Botafogo, chamando a atenção do poderoso Real Madrid da Espanha que na época contava com craques como Puskas e Di Stefano, no final da sua carreira passou rapidamente pelo São Paulo e encerrou sua carreira no Botafogo, em 1964.

No Fluminense, Didi jogou por quase dez anos, entre 1949 e 1956, realizou 298 jogos e marcou 91 gols, conquistou o Campeonato Carioca de 1951 e a Copa Rio de 1952. A Copa Rio era uma espécie de torneio intercontinental, com representantes sulamericanos e europeus, foram disputados nos anos de 1951 e 1952, teve como sede as capitais de São Paulo e Rio de Janeiro e disputado por oito equipes. Houve um movimento na tentativa de oficializar esta conquista que não avançou pelas Laranjeiras, o pedido não foi encaminhado a FIFA. Já o Palmeiras campeão da edição de 1951 foi reconhecido pela FIFA nas redes sociais.

Didi deixou o Fluminense sob polêmica, algumas explicações caminham no sentido que ele estava descontente com o tratamento que recebia do clube, não o agradava entrar pelo portão de serviços das Laranjeiras, prática racista e decorrente da época aos jogadores negros. Somado a isso a proposta que receberá do Botafogo foi muito tentadora também.

Ao ser questionado por um dirigente, o que o Botafogo precisava para ser campeão, o então técnico do Botafogo João Saldanha respondeu de forma direto: "compre o Didi". Assim o Botafogo o fez e Didi transferiu-se em 1956 para se juntar aos craques Garrincha, Nilton Santos, Amarildo e Zagalo e ser Campeão Carioca em 1957, conforme havia prometido Saldanha. Pela Estrela Solitária Didi jogou 313 jogos anotando 114 gols em duas passagens marcantes pelo clube de General Severiano (1956 a 1958 e 1961 a 1962). 

Pela Seleção Brasileira Didi foi titular incontestável em três edições de Copas do Mundo (1954, 1958 e 1962), conquistou dois títulos de Campeão, edições de 1958 e 1962. Em partidas oficiais pela Seleção Didi atuou em 68 jogos e marcou 20 gols.

No jogo eliminatório contra o Peru, Didi marca numa cobrança ao seu estilo "folha seca" classificando a Seleção Brasileira para a Copa da Suécia.

Na Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo da França de 1958 Didi era destaque e peça fundamental, tanto técnica e taticamente quanto um líder importante para o grupo de jogadores dentro de campo.

Duas cenas foram marcantes e ilustraram sua liderança dentro do grupo de jogadores. A primeira foi após gol da Suécia Didi buscou a bola, calmamente, até o fundo das redes e retorna, tranquilamente, ao centro do campo para reinicio da partida, assim, a Seleção retoma a confiança e vira o placar em 5 a 2, isso numa final de copa. E a segunda foi ele aparando Pelé aos prantos nos seus ombros, após a conquista do mundial. Estas cenas são emblemáticas na demonstração de sua liderança frente ao grupo de jogadores.

Jogou muito e desfilou seu talento nos gramados franceses, tornando-se o Monsieur Football. Liderou Pelé e Garrincha e os demais jogadores em campo na conquista da primeira Copa do Mundo da Seleção Brasileira. Por fim, foi eleito o craque do mundial e merecedor do título Sr. Futebol.

Didi em sua carreira como jogador de futebol marcou 237 gols, destes 20 foram pela Seleção Brasileira. 

Em 62 após a bicampeonato mundial do Brasil foi para o Peru e acumulou as funções de jogador e técnico no Sporting Cristal até 1964 e em 1966 começou a dedicar-se integralmente a função de técnico, conquistando na sua segunda passagem pelo Sporting Cristal o campeonato peruano. Em 1969 assume a seleção peruana, sua estreia foi no jogo decisivo na eliminatória para a Copa do México contra a Argentina em pleno estádio Monumental, havia exatos 40 anos que o Peru não participava de um mundial de futebol, sua primeira participação havia sido no Uruguai em 1930, a estrela de Didi brilhou e o Peru conseguiu uma vitória histórica sobre a Argentina. Como treinador, Didi obteve destaque na sua passagem pela Seleção peruana na Copa do Mundo do México de 1970 e entrou para a história ao comandar a melhor geração de todos os tempos do futebol peruano, que tinha como destaque o craque Teófilo Cubillas.

Comandou a "máquina tricolor" em 1975, time do Fluminense que fez história no futebol brasileiro e que contava com craques da seleção brasileira como Rivelino, Paulo César Caju, Marco Antônio e Carlos Alberto Torres. Porém, no Botafogo de 1984, não conseguiu grandes sucessos.

Teve também passagem por River Plate da Argentina (1970 a 1972). Foi bicampeão do Campeonato Turco pelo Fenerbahçe nas temporadas 1973/1974 e 1974/1975. Campeão da Copa do Rei em 1979 pelo Al-Ahli da Arábia Saudita. Teve passagens rápidas por Botafogo e Cruzeiro, 1981 e 1982/84, respectivamente.

Após cirurgia na coluna que o afastou do futebol, retornou para o Peru em 1986 no Alianza Lima para sua última passagem pelo país. Despediu-se das beiras dos gramados em 1989 no Bangu. Não conseguindo realizar o seu sonho como técnico que era treinar a Seleção Brasileira.

Didi faleceu em 2001 no Rio de Janeiro, aos 73 anos, após ser acometido por um câncer no fígado.