Os divinos: Domingos e Ademir da guia

Os da Guia fizeram história no futebol brasileiro. Domingos foi ídolo nacional e líder da Seleção Brasileira em 1938 e Ademir, seu filho, era um célebre meio-campista que foi injustiçado na seleção de 1974. 


Domingos Antônio da Guia, foi considerado um dos maiores zagueiro brasileiro de todos os tempos. Tinha como característica sair jogando driblando, dizia-se que driblava em qualquer espaço do campo até na frente dos goleiros, era raro vê-lo dar um chutão, desarmava os adversários com facilidade e lançava com uma impressionante precisão. Era o famoso zagueiro técnico e clássico, a princípio iniciou sua carreira no meio campo e logo depois fora deslocado para a zaga, mudança que não o agradou no primeiro momento.

Domingos nasceu no Rio de Janeiro em 19 de novembro de 1912, iniciou sua carreira no Bangu aos 17 anos, após ser descoberto nas peladas deste subúrbio.  Em 1932 teve sua primeira passagem pelo Vasco da Gama. Em 1933 decidiu pelo profissionalismo do futebol uruguaio onde atuou pelo Nacional de Montevidéu. Sua segunda passagem pelo Vasco foi breve e já como jogador profissional em 1934 e em 1935 transferiu-se para a Argentina para jogar no Boca Juniors. Em 1936 volta em definitivo para o Brasil joga no Flamengo e no Corinthians, conquista três Campeonatos Cariocas e duas Taças Cidade de São Paulo, assim, conquistou o coração das duas maiores torcidas do Brasil. Em 1950 retorna ao Bangu para encerrar sua carreira no futebol, clube que o reconheceu e o homenageou no hino do clube.

Domingos foi o único jogador brasileiro a ser tri campeão por diferentes países seguidamente Uruguai em 1933, Brasil em 1934 e Argentina em 1935. Foi um dos jogadores mais aclamados da América do Sul nos anos de 1930 e 1940. Simbolizando o tamanho respeito e admiração, em apenas um ano de atuação no futebol profissional do Uruguai, foi apelidado de "Divino Mestre" pela imprensa local.

Na Seleção Brasileira estreou aos 18 anos com o título, o da Copa Rio Branco, uma competição amistosa jogada anualmente contra a Seleção do Uruguai por 2 a 1. Convocado para a Copa do Mundo de 1934, o Nacional exigiu um pagamento a Confederação Brasileira de Desporto de 45 contos de réis para liberar Domingos para a disputa da Copa do Mundo, o pagamento não ocorreu em razão do alto valor para a época. Atuou em 30 jogos entre 1931 e 1946, a guerra e o amadorismo fizeram que Domingos disputasse apenas uma Copa, a de 1938 na França.

A Seleção Brasileira de 1938 era Domingos, Leônidas e mais nove, conforme a imprensa e opinião pública brasileira, os dois eram unanimidades e incontestáveis. Na França a Seleção estreou vencendo a Polônia por 6 a 5, o Brasil adotou um esquema tático ofensivo para esse jogo, sendo surpreendido com cinco gols, quatro de apenas um jogador, Wilimowski. Neste jogo Leônidas destacou-se e contribuiu com três dos seis gols brasileiros que decretaram a virada da Seleção. No jogo seguinte a Seleção empata com a Tchecoslováquia em 1 a 1. Como o sistema de disputa era eliminatório o Brasil disputou outro jogo contra a Tchecoslováquia, neste jogo desempate Domingos não atuou, o Brasil venceu por 2 a 1 e se classificou para a semifinal.

Na semifinal o Brasil enfrentou a Itália sem o artilheiro Leônidas perdendo o jogo por 2 a 1. Domingos da Guia pagou pela derrota, sendo considerado o principal responsável, fato que foi expulso neste jogo após revidar um ponta pé do atacante Piola, quando o Brasil estava perdendo por 1 a 0 para a Itália, o jogo estava paralisado, diga-se de passagem, mas o juiz só viu chute aplicado por Domingos no atacante, e advinha, ele marca pênalti, que Meazza converte, 2 a 0 Itália. O Brasil marca com Romeu, mas sem tempo para o empate, que pelo regulamento da competição obrigaria ter o jogo desempate.

Por fim, o Brasil conquista o terceiro lugar após vencer a Suécia por 4 a 2, foi a primeira vez que uma Seleção Brasileira alcança esse resultado em Copas do Mundo, individualmente Domingos foi eleito um dos melhores zagueiros da competição.

Domingos faleceu no Rio de Janeiro em 18 de maio de 2000.

Ademir da Guia, seu filho nasceu no Rio de Janeiro no dia 3 de abril de 1942. Jogou por apenas dois clubes em sua carreira, Bangu e Palmeiras. Iniciou sua trajetória no futebol aos 17 anos no juvenil do Bangu e em 1958 conquista o campeonato carioca de juvenis e convocado para a seleção brasileira amadora estreando aos 18 anos como profissional de forma repentina em 1960, pelo Bangu jogou 58 partidas e marcou 14 gols.

Em 1961 transferiu-se para o Palmeiras para se transformar no maior ídolo da história do clube e vestir a camisa 10 do clube em 901 partidas, sendo o jogador que mais vestiu a camisa na história do clube alvi-verde, foram 509 vitórias, 234 empates, 158 derrotas e 153 gols marcados, conquistou cinco Paulistas (63, 66, 72, 74 e 76), dois Brasileiros (72 e 73), dois Robertões (67 e 69), dois Troféus Ramón de Carranza (69 e 74), um Rio-São Paulo (65), uma Taça Brasil (67), a trícepe Mar del Plata, Laudo Natal e Cidade de Zaragoza (1972) e o Torneio IV Centenário do Rio (1965).

Aos 35 anos, após a conquistar o Paulista de 1976 Ademir encerrou sua carreira no Palmeiras com chave de ouro em 1977, inaugurando um jejum de quase 18 anos sem título estadual que terminou em 1993 com a vitória de 4 a 1 sobre o Corinthians na final do Paulista.

Pela Seleção Brasileira Ademir atuou por 12 oportunidades, obtendo sete vitórias, três empates e duas derrotas, sem balançar as redes. Na Copa de 1974, Ademir com 32 anos, foi reserva e aproveitado por meio tempo do jogo de disputa do terceiro lugar pelo então técnico Zagalo. Muito pouco para um craque como Ademir, neste jogo acabou sendo substituído no intervalo e o Brasil derrotado por 1 a 0 sobre a Polônia. Ademir foi injustiçado na seleção brasileira.

A surpresa da Copa Alemanha de 1974 foi o futebol apresentado pelo Holanda, apelidada de Carrossel holandês e Laranja Mecânica. A Holanda na ocasião tinha como base o time do Ajax, seu treinador, Rinus Michaels, era estudioso e criador do Futebol Total, e contava com jogadores brilhantes e versáteis, caso de Arie Haan, Win Suubier, Rensenbrink, Ruud Krol e Cruyff. Seu esquema era pressionar o adversário, surpreendeu a todos com o avanço e chegada dos volantes ao ataque, movimentação constante e a ?blitz? para recuperar a bola.

Seleção Brasileira subestimou-a e acabou derrotada por essa seleção no jogo de semifinal por 2 a 0. Que isso fique de lição.

Ademir da Guia, aproveitando sua popularidade elegeu-se foi eleito vereador da capital paulista em 2004, misturou futebol e política. Seu pai Domingos, um dos líderes da seleção na Copa da França de 1938 formada por negros, mestiços em ascensão social por meio do profissionalismo no futebol interessaram intelectuais, nos anos 30 e 40, que começam observar as possibilidades de discutir o Brasil a partir dessa manifestação corporal.