Racismo no Futebol

O racismo é um problema social que afeta o futebol, precisamos de ações constantes e sistematizadas para enfrentar o racismo dentro do futebol.


Aproveito a semana da Consciência Negra para tratar do racismo dentro do futebol e questionar a ideia de sociedade harmoniosa racialmente no Brasil, que construímos a partir do discurso midiático e das redes sociais.

No Brasil contamos com órgãos sérios e grupos que observam e monitoram casos de racismos sofridos por jogadores brasileiros no país e no exterior, os apontamentos feitos por eles não são animadores, conforme o Observatório da Discriminação Racial, o números de casos de racismo sofridos por jogadores brasileiros no exterior é grande, especialmente no leste europeu.

Já a FIFA, entidade que deveria ser mais firme, na última Copa do Mundo realizada na Rússia, por meio do seu Comitê Organizador, minimizou o problema, tratando-o como "casos isolados".

Tivemos casos ocorridos na preparação da França para a Copa, num amistoso contra a Rússia, Pogba, um dos destaques da seleção francesa, sofreu ofensas racistas cantadas pela torcida russa.

Na Copa da Rússia, Aliou Cissé de 42 anos do Senegal, era o técnico mais jovem e o único negro, dentre os 32 treinadores da Copa do Mundo da Rússia, ganhando 16 vezes menos que o Tite, técnico da Seleção Brasileira e segundo da lista. Cissé foi capitão na histórica seleção do Senegal que chegou até às quartas de finais da Copa de 2002 e como treinador classificou conquistou o feito de após 16 anos classificar seu país para segunda Copa do Mundo.

Volto meu olhar para a Seleção Brasileira que ficou 50 anos sem um goleiro negro em Copas, após a derrota da Seleção para o Uruguai na Copa de 50, que ficamos com o vice campeonato, Barbosa goleiro negro, e outros  jogadores negros, foram apontados como culpados pela derrota, mas Barbosa acabou sendo o principal alvo, fato foi que depois de 50 anos Dida foi o outro goleiro negro titular de uma Copa do Mundo pelo Brasil em 2006, atualmente, estamos novamente por um logo período sem goleiros negros na Seleção em Copas após Dida.  Publiquei nesta coluna um artigo sobre Barbosa (https://www.agoravale.com.br/colunas/Fenomeno-Esportivo/barbosa-o-injusticado).  

Outra questão levantada aborda o fato da Seleção Brasileira nunca teve em sua história um técnico negro dirigindo a equipe nacional em Copas do Mundo, dados que reforçam as estatísticas, que apontam poucos negros em cargos de liderança no Brasil.

No Brasil alguns casos de racismo ganharam notoriedade em nossa sociedade, no jornal O Globo de 17 de agosto de 2017, foi destacado cinco casos de racismo no futebol envolvendo jogadores brasileiros, sendo eles: o caso Arouca, que num jogo contra o Mogi Mirim pelo Campeonato Paulista de 2014, que estava saindo do campo para o vestiário foi alvo de ofensas racistas, o jogador acionou a justiça e o clube teve como punição uma multa de R$ 50 mil e interdição do seu estádio. Também em 2014 houve o caso do árbitro Márcio Chagas, num jogo pelo Campeonato Gaúcho, entre Esportivo e Veranópolis, além de sofre ofensas racistas dentro de campo, encontrou seu carro amassado e com bananas, a equipe do Esportivo foi punida com a perda de nove pontos, assim, acabou a temporada rebaixada para a segunda divisão do estadual, o juiz seu aposentou logo após esse episódio. O caso Grafite que em 2005 sofre ofensas racistas do jogador Desábato do Quilmes, o argentino ficou preso por dois dias em São Paulo e liberto após pagar uma fiança de R$ 10 mil, Grafite não seguiu adiante com o processo. O caso Michel Bastos que ao comemora um gol com silêncio sofreu ofensas racistas pela internet, a agressora foi punida com a prestação de serviços comunitários e o caso Tchê Tchê que recebeu ofensas racistas de parte da torcida do Atlético Paranaense, em jogo do Campeonato Brasileiro de 2016, o STJD puniu o clube com uma multa de R$ 20 mil.

No Brasil a CBF tem que assumir essa responsabilidade de forma séria e firme, organizando ações e intervenções ao problema que surtam mais efeito.

Observamos que não há uma diminuição dos casos de racismo e sim uma repetição cotidiano, portanto, o racismo no Brasil é uma questão estrutural que deve ser enfrentado urgentemente, com ações eficazes. Há muito o que fazer na questão do racismo existente em nossa sociedade, as entidades do esporte devem buscar por ações constantes, sistemáticas e estratégicas nesta luta que não é só do negro, mas de toda sociedade.