Viva os estaduais e as oportunidades de trabalho no futebol

Com os estaduais, campeonatos de curta duração, cerca de 30 mil jogadores de futebol estão inseridos no mercado da bola, ao término dessas competições, cerca de 70% dos jogadores ficam desempregados. Por que esta discussão não entra em campo?


A mídia divulga, amplamente, muitas informações sobre os salários astronômicos dos jogadores de futebol, suas redes sociais e as ostentações amorosas e especialmente as consumistas: joias, relógios, tênis, carrões, iates e aviões. Neymar não é a realidade do mundo futebol. A realidade dos jogadores de futebol é, segundo levantamento da Confederação Brasileira de Futebol (CBF, 2012), 82% dos jogadores no futebol brasileiro recebem até dois salários mínimos por mês. Por que esta informação não aparece no noticiário?

Socialmente a propagação do estilo de vida dos jogadores famosos, gera um impacto, imediato, nos sonhos de jovens que que vislumbram uma carreira de sucesso e fama no futebol. Sonhar é necessário, mas o sonho não gira mais em jogar bola pelo si só, estar num estádio lotado, ouvir seu nome gritado e tal, o sonho é do que o dinheiro e a ascensão econômica pode proporcionar, enfim, avançar todos os estágios e chegar aos profissionais é extremamente concorrido e ter fama e dinheiro neste mercado é ainda mais.

Inserir-se no mercado do futebol é um percurso muito árduo e muito complicado por si só, se pensarmos nas etapas de seleção e ascensão, da peneira, aos degraus e avanços na base de um clube, em média, de cinco mil ingressam, apenas, aproximadamente uns 30 atletas chegam a categoria de Juniores, último degrau da escalada antes do profissional, destes, muitas das vezes, um ou no máximo dois despontam ao profissional. No Brasil, ainda, há poucos clubes que valorizam o trabalho da base. Assim, chegar ao profissional é passar por um processo de seleção estressante, constante e profundo. Muitos jogadores dedicam-se apenas, de forma exclusiva ao sonho de ser jogador, deixando de estudar, acabam por não construir e nem pensam, em outra alternativa fora do mercado do futebol, desta forma, não há um plano B em suas vidas.

Jogadores, já profissionalizados, mas com vínculo em clubes pequenos, alguns para suprir suas necessidades e caminhar em busca dos seus sonhos, possuem dupla jornada de trabalho para complementar a renda, ou mesmo ter uma renda, porque muitos clubes proporcionam apenas uma ajuda de custo aos seus jogadores, cerca de 300 reais. Segundo a Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf) 80% dos jogadores de futebol não tem sua carteira assinada, ficando fora de benefícios, seguridades sociais e trabalhistas, em caso de se lesionarem  gravemente nem CBF, nem clube dão suporte e o jogador fica desamparado, existe muitos casos, pouco divulgado, que comprovam esse descaso.

O mundo do futebol muita das vezes, a realidade são baseadas em promessas. Jogadores se dedicam a um trabalho com a promessa de ao se expor numa vitrine, normalmente televisão, almejar algo, a promessa de um time maior ou com um calendário anual pode se concretizar e aparecer um contrato, assim, muitos jogadores entram em campo sem vínculo em carteira, apenas com o contrato de trabalho. Você, trabalhador, toparia esse desafio, trabalhar a troco de visibilidade? Um jogador de futebol trabalharia, jogando suas fichas numa próxima oportunidade.

Esta realidade, que deveria ser divulgada, não aparece com frequência nos noticiários esportivos. Dificilmente vemos programas esportivos discutir a realidade do mercado, falsas promessas de empresários descredenciados, condições de trabalho proporcionada por clubes pequenos, os índices elevados de desemprego, a falta de seguridade social do jogadores, carreira abandonados por falta de perspectiva, falta de calendário anual dos clubes pequenos, entre outras situações.

No começo do ano, época dos campeonatos estaduais, o mercado possui 30 mil jogadores com o registro em dia na CBF e ao término dessas competições este número reduz para 20 mil, ou seja, de abril a dezembro cerca de 70% dos jogadores no futebol brasileiros ficam desempregados, à procura de uma recolocação profissional. E pergunto, o que é feito pela CBF com relação a recolocação desses profissionais?

Comparando a outros trabalhos vemos que os números de desemprego no mercado do futebol é extremamente expressivo, o desemprego no Brasil chega a 8,3% e no futebol os desempregados chegam a 70%, após os estaduais. E qual a intervenção da CBF neste problema?

O Sindicato dos Atletas Profissionais de São Paulo busca intervir, isoladamente, buscando auxiliar esses jogadores dando um suporte físico, psicológico e técnico aos jogadores que o procuram se recolocar no mercado de trabalho, porém a demanda é grande, é preciso se pensar alternativas conjuntas e mais abrangentes.

Essa questão tem que ser melhor tratada por CBF, sindicatos e Ministério Trabalho, ou seja, é preciso discutir e procurar alternativas para resolução do problema em conjunto e não de forma isolada. E viva os estaduais!

 

Teófilo Pimenta é professor universitário, diretor do Instituto Esporte Vale (IEVALE), profissional formado em Educação Física, especialista em Educação e mestre em Desenvolvimento Humano. Procura refletir e compreender o fenômeno esporte nas suas diferentes dimensões. Colunista no AgoraVale desde 2018.