Enquanto os homens levam a vida "em movimento retilíneo e uniforme, sem atrito e sem aceleração", a trajetória da mulher é como "uma montanha-russa de hormônios". Eis a constatação que atravessa "Da puberdade à menopausa", monólogo escrito, dirigido e encenado pela atriz e comediante gaúcha Angela Dippe, em cartaz neste final de semana no Teatro Colinas.
Com tintas autobiográficas e muito humor, o espetáculo é uma mistura de stand-up comedy e palestra, com Angela apresentando ao público as diversas fases da vida de uma mulher, da puberdade à menopausa. Ao longo de seu relato, ela desenvolve temas como relacionamentos amorosos, padrão de beleza, cultura do patriarcado, machismo, sexo na maturidade e etarismo. A abordagem é pessoal, mas embasada em informações científicas e históricas que vão pontuando o texto, sempre com muita irreverência e desmistificando temas que ainda hoje podem soar como tabus.
Atualmente com 61 anos, Angela garante que o texto se comunica com todas as faixas etárias. "Escrevi a peça em dez dias, mas reunindo ideias anotadas ao longo de anos. O título diz tudo, é da puberdade à menopausa. Todas as mulheres se identificam", diz, reforçando que o público masculino também se diverte. "Homens se relacionam com mulheres, então as situações que aparecem na peça também dizem respeito a eles."
A atriz conversou com o jornalista Marcos Bulques sobre o espetáculo e sua carreira.
Marcos Bulques: A peça aborda vários assuntos, entre os quais, o etarismo. Como você analisa questões como o sexo nessa fase da vida? A mulher consegue se reinventar?
Angela Dippe: Acho que a partir dos 50 começa uma nova adolescência. É um recomeço. Filhos criados, carreira estabelecida, desafios superados. Agora é curtir os anos que nos restam . Se você tiver condições de cuidar da sua saúde e dos efeitos da menopausa com cremes, lasers, você consegue manter ou ter uma ótima vida sexual, amorosa, caso isso seja importante pra sua vida. Não temos mais tempo a perder com coisas irrelevantes. Temos mais passado que futuro e muita história pra contar.
Marcos Bulques: Qual o feedback do público em relação a esses assuntos abordados?
Angela Dippe: Sinto que a plateia, principalmente a feminina, se identifica muito. Cada fase pra cada mulher é diferente, mas há inúmeros pontos de contato. A primeira menstruação, primeira transa, gestação e menopausa são fases importantes na vida das mulheres e influenciam familiares, amigos e colegas de trabalho.
Marcos Bulques: Você já fez muitos trabalhos na televisão. A personagem inesquecível de Penélope, do Castelo Rá, Tim, Bum, por exemplo, na TV Cultura, entre outros trabalhos, como a minissérie Maysa, da TV Globo. Você gosta mais de fazer televisão e também cinema ou o teatro a fascina a ponto de você optar pelos palcos?
Angela Dippe: Gosto imensamente de teatro, televisão , cinema e agora internet. No teatro e na internet tenho mais possibilidade e liberdade pra criar meus conteúdos. Televisão e cinema não dependem somente da minha vontade. É uma escala maior de produção que só posso fazer se for convidada para estes trabalhos.
*@marcosbulques é jornalista formado pela Universidade do Vale do Paraíba e pós-graduado pela Universidade de São Paulo. Atuou em rádio e televisão. Criou o canal Conexão Entrevista e desde 2013 assina a coluna Inside do AgoraVale.