Entrevista: "Enquanto estiver aqui, vamos bater de frente com o tráfico", diz novo delegado de Caçapava
Hugo Pereira, delegado titular da cidade, falou sobre o combate ao tráfico de drogas, instalação de uma delegacia para mulheres e ação social.
Marcos Bulques 16 Mar 2021 às 14h51 Comentarios
As redes sociais começaram a ficar movimentadas desde o final de 2020, sobretudo em Caçapava. Era o novo delegado titular da Delegacia de Polícia da cidade, Hugo Pereira.
Natural de Carmo de Minas (MG), Pereira tem 46 anos e 18 de profissão. Em Caçapava está desde novembro atuando no combate ao tráfico de drogas, um problema que aumentou muito em toda RMVale.
Para quem assistiu, certamente percebeu que os vídeos publicados nas redes sociais do delegado Hugo, repercutem provavelmente como forma de agradecimento por parte da população que enxerga essa atuação como positiva frente a uma batalha contra a criminalidade.
Por essa razão, o delegado Hugo concordou em me receber (jornalista Marcos Bulques) em sua sala, na delegacia, para uma entrevista sobre as perspectivas de trabalho e desafios futuros.
A segurança pública é um assunto muito questionado pela sociedade de uma forma geral, já que a violência aumenta significativamente. Desde que assumiu a delegacia de Caçapava, há quatro meses, o senhor mostra frequentemente suas ações com grande repercussão na internet. Como o senhor avalia esse início de trabalho?
Quando chegamos em Caçapava vimos que tinha um enorme número de inquéritos policiais de investigações em andamento. Fizemos um mutirão para terminar essas investigações e reduzir o número de procedimentos para sobrar mais tempo para fazer as investigações atuais. Conseguimos baixar de uns 1000 (inquéritos em andamento) para uns duzentos e poucos hoje, o que sobra bastante tempo para fazer investigação. Um dos grandes problemas que detectamos quando chegamos aqui foi o número de homicídios, que estava muito alto. Homicídios diretamente ligados ao tráfico de drogas na cidade. Era um traficante brigando com o outro e um nível de mortes altíssimo. Começamos a prender muita gente do tráfico e, com isso, conseguimos reduzir o número de homicídios na cidade em cerca de 80%. O que tínhamos de homicídios em uma semana, agora temos esse número em um mês.
Uma coisa que as pessoas esperam é a atuação efetiva da polícia, uma resposta imediata para a sociedade. Esse é o seu compromisso?
Nosso objetivo é combater os crimes, principalmente os mais graves, que geram uma sensação de insegurança . Mas meu grande objetivo também é me aproximar da população, mostrar que a polícia está ao lado dela, porque com isso conseguimos fazer o verdadeiro policiamento comunitário, que é saber as deficiências dos bairros, saber no que podemos ajudar em cada bairro, que tem uma realidade diferente. Alguns (bairros) o tráfico é mais forte, outros são furtos, outros são roubos.
Eu vi que o senhor realiza diversas reuniões com moradores, inclusive em diferentes bairros da cidade. O intuito então seria isso, estar mais próximo da comunidade, descobrir as deficiências do bairro e criar estratégias, é isso?
Já fomos em diversos bairros. O objetivo é me aproximar da população, para que possam ter confiança na gente para trazer as informações, trazer as queixas. Temos tentando implementar e fazer uma sofisticação no programa "Vizinhança Solidária" com criação de grupos de mensagens por rua, por bairro, porque os moradores que moram no bairro, sabem quem são os moradores. Então se tem um carro estranho, uma pessoa estranha, eles sabem que não é do bairro. Podem fotografar o carro, a placa, trocar essa informação, monitorar essa pessoa estranha. Isso reduz o número de furtos e roubos e também com um link direto com a gente. Também sinto uma deficiência muito grande em relação a Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) porque foi criado com uma excelente ideia, porém, a gente percebe a dificuldade das pessoas de se deslocarem até a base do Conseg. Então vamos em reuniões do Conseg que temos cinco, seis pessoas, porque muitas pessoas moram longe. Elas não conseguem participar e apresentar as queixar delas e os problemas do bairro, para que possamos para ajudá-las a resolver.
Como as pessoas que participam dessas reuniões nos bairros reagem?
As pessoas ficam surpresas (com o empenho da polícia civil nesse trabalho) mas estão satisfeitas. As reuniões têm sido um sucesso, algumas com centenas de pessoas, bem movimentado, pessoas engajadas, querendo fazer um movimento de segurança no bairro para melhorar a situação. A receptividade é muito boa. A minha ideia é fazer o mapeamento da cidade toda, o que cada bairro precisa na área de segurança e o que podemos ajudar.
Temos bairros na cidade que são temidos pela população. O senhor faz um trabalho de confronto ao tráfico de drogas. Como são essas ações?
Fizemos várias ações e vamos continuar fazendo. Alguns bairros são críticos e estão no nosso radar, onde o tráfico é muito pesado. Vamos ser incansáveis. Enquanto estiver aqui, vamos bater de frente com o tráfico.
O senhor já foi ameaçado?
Isso é normal, faz parte da profissão. A gente não teme nada.
Nesse contexto, como é o relacionamento da Policia Civil com a Polícia Militar? É um trabalho em conjunto?
Eu tive o privilégio de conhecer o capitão Castro (comandante da PM em Caçapava), que troca bastante informações com a gente. O que podemos ajudar a PM, a gente ajuda e eles da mesma forma. Então o relacionamento com a Polícia Militar é excelente, assim como a Polícia Rodoviária Federal também, que inclusive nos deu apoio em uma investigação que estávamos fazendo. Acreditamos que o objetivo maior é ajudar a população e para isso a gente precisa de uma grande onda do bem, seja da PM, seja da Polícia Civil, seja da PRF, Ministério Público, Judiciário, Executivo. Acredito que todos unidos, podemos fazer mais. Minha ideia é aumentar esses laços, essas parcerias.
O senhor também está empenhado em trazer para a cidade uma Delegacia de Mulheres. Foi um pedido da população?
Quando eu trabalhava aqui em Caçapava, eventualmente em plantões, eu percebia essa deficiência. Precisa na cidade um Centro de Atendimento à Mulher, porque praticamente existem em todas as cidades médias do Vale do Paraíba e Caçapava não tem.
Como está o projeto?
Então, apresentei o projeto para o meu delegado seccional e para o diretor [do Deinter-1]. Fizemos o procedimento junto ao departamento de administração da Polícia Civil, e está caminhando. Acredito que muito brevemente teremos essa grande conquista para Caçapava.
Ação solidária
Após um vídeo de um menino pedindo ajuda para comprar uma prótese para a perna, o delegado Hugo Pereira, sensibilizado com o caso da criança, doou a prótese. A entrega, que pode ser vista abaixo, em vídeo, foi no bairro Pinus Iriguassu. "Um dia maravilhoso para nós, que gostamos de ajudar as pessoas. Ficamos realizados com uma criança feliz. O maior presente quem ganhou foi eu, em saber que o Vinícius vai poder jogar o futebol dele. Então o presente na verdade foi meu", disse o delegado.
Abaixo, veja o vídeo da ação solidária:
Abaixo, veja atuação da Polícia Civil em Caçapava:
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*Marcos Bulques é jornalista, formado pela Universidade do Vale do Paraíba e pós-graduado pela Universidade de São Paulo. Atuou em rádio, televisão, revista, jornais impressos e assessoria de imprensa. Desde 2013 assina a coluna Inside do Agora Vale.