Rede mobiliza agricultores do Vale do Paraíba para restaurar APPs e RL com sistemas agroflorestais
Plano de Ação mostra que mais de mil produtores e produtoras já se envolveram em mutirões agroflorestais na região. Objetivo é restaurar até 80 mil hectares no Vale do Paraíba Paulista
Uma rede formada por agricultores familiares, assentados da reforma agrária, pesquisadores e outros interessados está disseminando a prática dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) no Vale do Paraíba Paulista. A Rede já promoveu a implantação de mais de 70 SAFs, e agora publica um Plano de Ação com linhas estratégicas para apoiar na implantação de agroflorestas em até 80 mil hectares na região.
Os SAFs são uma forma de produção que alia a produção de alimentos com a restauração de áreas degradadas. Segundo o pesquisador Antônio Devide, um dos autores do plano, os SAFs têm o benefício duplo de restaurar paisagens e produzir alimentos. "Os SAFs aumentam a produção de água e alimentos, e são mais resistentes às mudanças climáticas. Além disso, colaboram para gerar renda e, com isso, fixar a mão-de-obra no campo, gerando oportunidades no meio rural".
A Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba foi formada há cerca de dez anos por meio de mutirões agroflorestais que reuniram produtores rurais interessados em disseminar os SAFs. Em 2021, ela se constituiu legalmente como uma associação sem fins lucrativos.
O plano de ação mostra que, em mais de uma década, a Rede Agroflorestal teve um papel importante na disseminação de SAFs no Vale do Paraíba Paulista. Ela organizou mais de 50 mutirões, mobilizando cerca de mil produtores rurais e 66 instituições diferentes. Foram implantados cerca de 70 Sistemas Agroflorestais, sendo a maior parte deles em São José dos Campos (17 SAFs), Lagoinha (15), Tremembé (14) e Pindamonhangaba (4), além de SAFs espalhados por outros 15 municípios da região. O plano está disponível para download aqui.
Os Sistemas Agroflorestais
Os Sistemas Agroflorestais são uma estratégia de uso do solo com grande potencial de restaurar paisagens e gerar emprego no campo.
Em uma agrofloresta, árvores e culturas agrícolas são plantadas em um desenho seguindo uma lógica de produção para garantir que as espécies trabalhem juntas. Dessa forma, é possível, por exemplo, produzir em um mesmo espaço espécies de ciclo curto, culturas de colheita anual e árvores frutíferas ou madeireiras, que levarão mais tempo para produzir.
No Brasil, inúmeras paisagens mostram potencial para a disseminação de SAFs. O Vale do Paraíba conta com grande mobilização de agricultores interessados no tema, tem áreas em estágios de degradação que podem ser recuperadas com agroflorestas e está próximo de grandes centros consumidores, como São Paulo e Rio de Janeiro, o que pode facilitar a comercialização e escoamento da produção de alimentos.
Um estudo publicado em 2018 pela Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, com apoio do WRI Brasil, identificou a necessidade de se recuperar 70 mil hectares de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e 10 mil hectares de Reserva Legal (RL). "Os SAFs podem ser um grande aliado na implementação do Código Florestal, garantindo a recuperação e manutenção da cobertura florestal ao mesmo tempo em que produzem alimentos e geram renda para as pessoas", diz Mariana Oliveira, do WRI Brasil.