A vida dos trabalhadores da maior fábrica do mundo: a da Boeing

Linha de montagem em cidade estadunidense foi considerada a maior do mundo pelo Guiness Book recentemente


Quando a Boeing decidiu que iria construir alguns dos maiores aviões do mundo, entendeu que, para isso, precisava erguer uma fábrica que também tivesse dimensões fora dos padrões normais. A ideia da companhia estadunidense era montar vários exemplares ao mesmo tempo e em um único lugar, já que as aeronaves de 70,6 metros de largura e 59 metros de altura precisavam caber e ainda deixar espaços de sobra aos trabalhadores na linha de montagem.

Foi assim que a Boeing começou a construir a fábrica de Everett, no estado de Washington, nos EUA, a 4,4 mil km da capital Washington D.C, em Columbia, em 1967 -- mesma época em que o 747, chamado também de "Jumbo", se tornava um dos aviões mais populares do planeta. A ideia partiu do lendário chefe da empresa, Bill Allen, que também ajudou na escolha de um bosque a 35 km de Seattle (EUA), perto de um aeroporto que tinha servido de base para o exército estadunidense na Segunda Guerra Mundial.

O jornal Daily Herald, de Everett, publicou recentemente uma reportagem contando que o aeroporto era tão distante que só se acessava por meio de uma pequena estrada esquecida e que, desde a década de 1940, não tinha ligação ferroviária. Mais do que isso: ali era comum ver a circulação de ursos selvagens.

Hoje, ao contrário, a fábrica de Everett da Boeing deixa pequeno qualquer outro edifício que se coloque ao lado. Segundo o Guiness Book, o espaço total alcança 13,3 milhões de metros cúbicos -- o que equivalente a 13 estádios do Maracanã, no Rio de Janeiro. Só o edifício central cobre 39 hectares de território -- o tamanho do zoológico de São Paulo.

Atualmente, a Boeing produz poucos Jumbos na fábrica gigante: há alguns anos, a empresa decidiu aumentar sua produção dos modelos 767, 777 e 787, que são menores. David Reese, que trabalha há uma década guiando as visitas pelos prédios da empresa em Everett, contou ao Daily Herald sua primeira impressão do conjunto: "Até hoje eu ainda fico assustado, porque sempre há algo novo ainda não visto", afirmou. No total, ele trabalha há 38 anos na Boeing.

Os três turnos de trabalho ali reúnem 10 mil trabalhadores que, para se locomoverem pela planta, têm à disposição cerca de 1,3 mil bicicletas espalhadas e equipadas com capacete feminino e masculino. Há também uma estação particular dos Bombeiros, um ambulatório com médicos de plantação e uma variedade de cafés e restaurantes. O que chama a atenção, porém, é o tamanho das gruas que estão em toda parte.

De acordo com a Boeing, o segundo turno é quando as gruas estão no período mais ativo do dia, mas é também o momento em que há menos gente na fábrica. Os operadores dos veículos são alguns dos mais qualificados e com melhores salários da fábrica. Há também os pilotos, que esperam os aviões serem terminados para os testes na pista do aeroporto. Normalmente, as provas acontecem durante a noite.

A situação dos trabalhadores, contudo, não é tão cômoda: além do vestuário apropriado -- uma exigência estrita da empresa para evitar acidentes --, a fábrica não tem ar-condicionado. No verão, em que a região fica muito quente, os empregados costumam deixar todas as imensas portas abertas para permitir a entrada do vento.

Da mesma forma, a fábrica não tem sistema de aquecimento, o que faz com que os trabalhadores improvisem maneiras de se esquentar: ora aquecendo todas as luzes, ora se aproximando dos equipamentos elétricos ou até mesmo fechando as mesmas portas. De acordo com Reese, no entanto, o inverno não é tão problemático quanto o verão em Everett.