Luto não reconhecido: como lidar com a perda de um animal de estimação?

A psicóloga Maíra explica como lidar com este momento tão doloroso e como ajudar um amigo ou familiar que esteja atravessando este momento tão delicado


Em 2015, o IBGE divulgou um importante levantamento sobre os domicílios brasileiros e seus animais de estimação. Naquele ano, foram registrados 52,2 milhões de cachorros e 22 milhões de gatos espalhados pelos lares do país.

Recentemente, em 2018, esses números foram atualizados pelo Censo Pet, realizado pelo Instituto Pet Brasil, chegando a marca de 139,3 milhões de animais de estimação no Brasil: 54,2 milhões de cães de todos os portes, 39,8 milhões de aves, 23,9 milhões de gatos, 19,1 milhões de peixes e mais 2,3 milhões de répteis e outros pequenos mamíferos.

Esses números ilustram parte da cultura brasileira e sua paixão por animais de estimação. Logo, não seria nenhum exagero dizer que em grande parte desses lares, os pets são verdadeiros membros da família e donos de um afeto imensurável para seus tutores. 

Muitos desses companheiros animais passam longos anos ao lado das famílias, e, inevitavelmente, um dia vêm a falecer. Um momento duro e doloroso que ninguém gosta de imaginar ou mesmo relembrar.

Mas, mesmo com o aumento perceptível dos animais de estimação nos lares brasileiros, assim como novas filosofias de vida que enxergam esses seres em relação de igualdade com os seres humanos (como, por exemplo, a presença de estabelecimentos pet friendly que aumentam pelas cidades), o período de luto por um animal de estimação ainda não é amplamente reconhecido em nossa sociedade. 

Quando nos despedirmos de nossos entes queridos, prestamos as devidas homenagens com coroa para velório, funerais e rituais religiosos, o que ainda não é tão costumeiro de acontecer no momento de adeus a um pet. 

Além disso, não é incomum que amigos, colegas de trabalho e até mesmo os próprios familiares do tutor minimizem ou relativizem a sua perda, o que, mesmo que sem intenção de prejudicar, pode causar um desequilíbrio psíquico, como explica a psicóloga paulistana Maíra Gutierrez.

"O luto é um processo saudável e necessário para uma boa elaboração e reorganização emocional após uma perda afetivamente significativa. Um luto não vivenciado, de qualquer natureza, tende a refletir negativamente no emocional do indivíduo, podendo acarretar em quadros de estresse, humor instável, pânico e, havendo predisposição, até mesmo depressão".

Como enfrentar um momento tão doloroso?

Diversas pesquisas científicas já demonstraram os impactos positivos que convivência com cães, gatos e outros traz aos seres humanos de todas as idades. No entanto, o luto não reconhecido da perda de um animal ainda é um assunto pouco abordado pela sociedade. 

A psicóloga Maíra explica como lidar com este momento tão doloroso e como ajudar um amigo ou familiar que esteja atravessando este momento tão delicado. Confira as recomendações da especialista.

Se você é parente ou amigo de quem acaba de perder seu animal de estimação:

- Respeite o processo de luto do indivíduo - este sofrimento pode de fato ser tão intenso ou significativo como poderia ser se estivéssemos falando do falecimento de um familiar ou de uma pessoa querida. 

- Procure demonstrar apoio e compreensão, legitimar a dor vivida pelo outro e confortar. 

- Não estimule substituições imediatas, como presentear o enlutado com um novo pet. Cada animal é único, e perceber que o novo pet não é o mesmo que se foi, pode gerar ainda mais frustração. 

Se você está sofrendo a perda:

- Permita-se vivenciar o luto, respeite o seu tempo e o seu processo de aceitação a essa perda, independente dos julgamentos morais e sociais. Somos os únicos que sabemos a intensidade de nossas emoções e vínculos e os significados que tais perdas representam a nós. 

- Realizar algum tipo de ritual também pode ser um marco para ajudar a elaborar a situação. Caso sinta a necessidade de auxílio nesse processo, procure ajuda psicológica profissional.