Possível construção de novo hospital em Caçapava gera polêmica

Tentativa de convencer vereadores para aceitar a ideia que visa doar terreno público para uma instituição que teve ligações com a atual prefeita, Pétala Lacerda, causou conflitos.


A reunião da discórdia: Vereadores se reúnem com Frei Vittório na sede do Conviver, em Caçapava. A reunião da discórdia: Vereadores se reúnem com Frei Vittório na sede do Conviver, em Caçapava. (Foto : Divulgação)

Uma confusão foi instaurada nas redes sociais durante esta semana. É que o vereador de Caçapava, Rodrigo Meirelles (PSD), fez uma live para seus seguidores explicando que estava sendo injustiçado por causa uma interpretação errada de algumas pessoas que passaram a atacá-lo. Além dele, a presidente da Câmara, Dandara Gissoni (PSD), também reclamou em sua conta do Facebook que também teria sido agredida na rede por populares que a acusaram de não apoiar a possível construção de um novo hospital para Caçapava, promessa de campanha da atual prefeita, Pétala Lacerda (Cidadania). No início do ano, a prefeita concedeu uma entrevista para um telejornal da Rede Vanguarda onde prometeu um estudo para construir um hospital para a cidade até o último ano de seu mandato, em 2024.

Neste percurso para a possível construção de um novo hospital em Caçapava, existe um interlocutor, que é um religioso, Frei Vittório Infantino, que está ligado à Diocese de São José dos Campos. Ele é amigo de Pétala, prefeita de Caçapava, e a ajudou, anos atrás, na construção da sede do Conviver, uma associação filantrópica, que cuida de pessoas portadoras de necessidades especiais, inaugurada em 1997.

Proposta

De acordo com os vereadores, Frei Vittório teria feito uma reunião com parte dos parlamentares, apoiadores da atual gestão municipal, para traçar uma estratégia na busca de um apoio para dar início aos trabalhos que resultaria na construção do hospital. Os vereadores de oposição não teriam participado desta primeira reunião.

A proposta do religioso seria a doação de um terreno público para a instituição Conviver, que teve, por muito anos, a atual prefeita, Pétala Lacerda, como presidente.

De acordo com a presidente da Câmara, Dandara Gissoni (PSD), ela e mais dois vereadores, Rodrigo Meirelles (PSD) e Yan Lopes (PSC), só foram chamados numa segunda reunião.

"A princípio achei a ideia linda, até entender que para isso acontecer, a câmara terá que autorizar a doação de um espaço público exclusivamente para o Conviver. Imediatamente eu comecei a questionar a legalidade e a moralidade disso, visto que se existe a intenção da construção do hospital, não faz o menor sentido que seja doado ao Conviver, bem como administrado pelo Conviver. Questionei ainda a necessidade de haver alguma entidade por trás, perguntei ao frei se na época do Rinco [ex-prefeito Henrique Rinco] e do Diniz [ex-prefeito Fernando Diniz], se houvesse êxito para onde seria doado o terreno e o mesmo respondeu que não seria doado a nenhuma entidade e sim iria pertencer a prefeitura! Então porque cargas d'água agora tem que doar para o Conviver?", questionou a vereadora, nas redes sociais.

O vereador Rodrigo Meirelles (PSD) disse que para a construção do hospital, o Frei Vittório contaria com a ajuda da população através de um carnê.

"Se não me engano são R$ 50 por mês [de contribuição] para a construção do hospital. Não existe hospital gratuito. Não sou contra, sou a favor de tudo, desde que seja uma coisa digna, uma coisa certa", explicou o vereador através de uma live nas redes sociais.

Procurado pelo AgoraVale na tarde desta sexta-feira (13), Meirelles disse que é imoral ter uma instituição que teve ligações com a atual prefeita, receber um terreno público.

"Uma prefeita que saiu [como candidata nas últimas eleições] 'Pétala do Conviver', eu, como vereador, doar para o Conviver, para que a instituição administre a construção e o hospital, sendo que a prefeita foi eleita como 'Pétala do Conviver', não tem como. Para mim se torna inviável. A gente pode doar sim um terreno para construir um hospital para uma entidade que não seja ligada à prefeita", disse o vereador.


Religioso

Frei Vittório Infantino também usou as redes sociais para comentar o assunto, que virou polêmica na cidade. Através de um vídeo reflexivo, ele contou um pouco de sua trajetória e ligação com Caçapava e aproveitou para falar sobre a possível construção de um novo hospital que, segundo os vereadores, teria uma contribuição do povo de aproximadamente R$ 50.

"Isto é pura mentira. Simplesmente isso foi um cálculo que um vereador fez quando a gente estava conversando. [...] Não foi um imposto ou carnê que a gente vai distribuir a todas as famílias [...] O Conviver não vai ser o dono do hospital. É um favor que o Conviver faz para Caçapava [...] Por isso que eu assumo totalmente a responsabilidade para a realização e possível até para o fracasso, mas a responsabilidade é totalmente da minha pessoa", disse Infantino.

Frei Vittório gravou um vídeo disponibilizado em suas redes sociais explicando sobre a ideia de construção de um hospital em Caçapava. Frei Vittório gravou um vídeo disponibilizado em suas redes sociais explicando sobre a ideia de construção de um hospital em Caçapava. (Foto : Divulgação)


Obscuro


Procurada pelo AgoraVale na tarde desta sexta-feira (13), a presidente do Legislativo, Dandara Gissoni, disse novamente que respeita o trabalho que a prefeita realizou na instituição e a boa vontade do religioso, mas que acha imoral a doação de um terreno público para uma instituição que teve ligação com a atual prefeita.

"Eu acho que fica uma coisa muito obscura, doar um terreno para a entidade na qual a prefeita e seu marido fazem parte", disse.

A parlamentar ainda destacou que o religioso disse que iria estudar outras possibilidades de doação do terreno para outra instituição que não fosse o Conviver.

"Ele concordou e falou que procuraria outra alternativa. Desde então ele sumiu", explicou.

Procurado pelo AgoraVale, Frei Vittório disse que não procurou os parlamentares porque ainda não tinha uma solução em relação a uma outra instituição.

"Não procurei porque não deu certo com a outra instituição e não apareci mais porque não tenho que ficar dando satisfação", disse por celular.

Sede do Conviver em Caçapava. Sede do Conviver em Caçapava. (Foto : Divulgação)


Reunião


Quatro vereadores, além dos vereadores Dandara Gissoni e Rodrigo Meirelles, participaram da reunião com Frei Vittório. Os vereadores Yan Lopes (PSC) e Telma Vieira (PSD) se posicionaram contra a doação do terreno ao Conviver.

"Sou a favor ao novo hospital, mas sou contra a doação do terreno, porque infelizmente a prefeita Pétala tem o nome vinculado a entidade", disse Telma.

"Por mais que o Conviver seja uma entidade sólida, com um trabalho já consolidado na cidade, o Conviver não deixa de ser vinculado à Pétala do Conviver. E por que o Conviver? Se é para doar para alguma entidade, nós temos diversas outras", explicou Yan Lopes.

Para o vereador Wellignton Rezende (Cidadania), a proposta é viável.

"Sou favorável, pela geração de empregos na construção e na operação do hospital, além de não haver recurso dos cofres públicos para a construção, ter mais leitos disponíveis, pois a lei exige 60% de disponibilidade para o SUS", defende o vereador.


Outro vereador que participou da reunião foi Adilson Henrique França (PSDB). Ele atendeu a reportagem mas não quis comentar o assunto.

Fusam

Em Caçapava existe um hospital público, que é a Fusam (Fundação de Saúde e Assistência do Município de Caçapava), uma instituição filantrópica pública de direito privado com atendimento médico-hospitalar de pacientes particulares e do SUS (Serviço Único de Saúde). A instituição, que é custeada pela prefeitura, possui um orçamento no limite, além de sucateamento por falta de investimentos há décadas  e também enfrenta uma negociação de uma dívida tributária em torno de R$ 37 milhões. 

"Entramos na Justiça pedindo o cancelamento dessa divida e estamos buscando também novos parceiros com a iniciativa privada para a reestruturação física e tecnológica bem como novos contratos e parcerias com convênios médicos hospitalares", disse Fernando Zanetti, presidente da Fusam. 


Outro lado

A Prefeitura de Caçapava foi procurada para falar sobre o caso, mas através de sua assessoria de imprensa disse que não iria se pronunciar.

A reportagem procurou o Conviver na tarde desta sexta-feira (13). Ninguém atendeu o telefone da instituição. Mandamos um e-mail que também não foi respondido até o momento. Caso responda, será incluído neste texto.