Balanço 2020: o aumento dos resíduos sólidos na pandemia

Mudança nos hábitos de consumo, aumento da produção de lixo hospitalar e falta de reciclagem afetam o meio ambiente e a economia brasileira.



Este foi um ano de mudanças na rotina dos brasileiros desde a confirmação dos primeiros casos de covid-19 no país, ainda no primeiro trimestre de 2020. O que não mudou foram as grandes quantidades de resíduos sólidos gerados no Brasil, que em 2019 já ocupava o 4º lugar no ranking dos maiores produtores de lixo do planeta, segundo um estudo realizado pela World Wildlife Fundation (atrás apenas de potências populosas como os Estados Unidos e China e a emergente Índia).

Demandas hospitalares

Conforme a curva de contaminações pelo coronavírus e mortes por covid-19 começavam a escalar, a demanda por materiais hospitalares descartáveis, como luvas, máscaras e aventais de proteção aumentava junto aos casos. Segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), a produção de lixo hospitalar chegou a aumentar em 20% no mês de junho de 2020, em comparação com o ano anterior. 

As estimativas da entidade são de que para o tratamento de cada paciente internado para tratamento da covid-19 sejam gerados, em média, 7,5 quilos de lixo hospitalar por dia.

É importante ressaltar que o aumento na produção dos resíduos sólidos hospitalares se deu diante do adiamento de cirurgias eletivas, remarcadas durante a pandemia para aliviar o sistema de saúde e minimizar a exposição dos pacientes durante a pandemia.

Tsunami de resíduos sólidos plásticos

Com as medidas de isolamento social que perduram em maior ou menor intensidade nos estados brasileiros durante a pandemia, os resíduos sólidos antes produzidos em atividades de lazer, trabalho e estudos agora se multiplicam dentro das residências.

Um exemplo dessa visível mudança do lixo que ficava na rua e acabou indo para dentro das casas ficou claro com o aumento na demanda por embalagens descartáveis. Apenas o segmento de delivery cresceu 94% durante a pandemia do país, segundo levantamento realizado pela startup de gestão financeira Mobills.

Segundo os dados divulgados pelo Atlas do Plástico, estudo elaborado pela Fundação Heinrich Böll, cada brasileiro gera, em média, 52 quilos de lixo plástico por ano. E, diferentemente de materiais como o alumínio (que alcançou uma taxa de reciclagem de 97,6% em 2019, segundo as estimativas da Abrelpe), o Brasil recicla apenas 1,28% das 11.025 milhões de toneladas de resíduos sólidos plásticos produzidos anualmente no país.

"Ainda existe uma grande lacuna a ser preenchida no mercado de reciclagem de resíduos sólidos domésticos e empresariais no Brasil. Alternativas como a economia circular e logística reversa ainda soam como novidade e precisam de investimentos em tecnologia, infraestrutura e também de e uma mudança cultural em todas as esferas da sociedade", explica Guilherme Gusman, sócio da startup VG Resíduos, especializada em softwares de gestão de resíduos para empresas.

Em uma pesquisa realizada pelo Ibope em 2018, 75% dos brasileiros afirmaram não separar o lixo descartável do lixo comum. Dos 77% dos entrevistados que afirmaram saber que o plástico é um material reciclável, apenas 40% destinam esse tipo de resíduo sólido para a reciclagem.

De acordo com um levantamento realizado pela pelo Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Serlub), o Brasil deixa de ganhar R $5,7 bilhões através da reciclagem e todo o lixo plástico produzido no país. Ainda vale ressaltar que 40% de todo o lixo produzido no Brasil é descartado de forma inadequada, afetando não só a economia como o meio ambiente e a saúde pública.