Brasil registra fuga de milionários; EUA, Portugal e Austrália são destinos principais

Dois mil milionários brasileiros deixaram o país no ano passado, publicou no final de agosto a consultoria de mercado internacional New World Wealth. Segundo os dados, o Brasil ficou entre os dez países do mundo com a maior taxa de fuga de pessoas com mais de US$ 1 milhão ou mais em ativos declarados. Contando desde 2015, esse número chega a 12 mil "migrantes".

São Paulo é uma das sete cidades com o maior volume de "fugas" do mundo, de acordo com a New World Wealth. A metrópole paulista está ao lado de Istambul (Turquia), Jacarta (Indonésia), Lagos (Nigéria), Londres (Inglaterra), Moscou (Rússia) e Paris (França). Os destinos são Portugal, EUA, Espanha e Austrália.

Milhares de pessoas da elite do país -- de advogados e médicos a estrelas da TV e do cinema -- se mudaram para Portugal e para os Estados Unidos, segundo o jornal estadunidense Wall Street Journal. Entre eles, está o ator Thiago Lacerda, que está considerando ir para a Europa. "Eu estou muito amedrontado pelo que está acontecendo, especialmente no Rio de Janeiro", disse ele.

Ele disse que deixar o Brasil é a última opção -- "a ideia de sair do meu próprio país é impensável" --, mas como a violência tem crescido, cruzar as fronteiras se tornou uma tendência.

O governo brasileiro está lutando para se manter atualizado sobre o número de cidadãos que estão saindo. No entanto, com as eleições presidenciais se aproximando, 41% mais pessoas já comunicaram que vão votar do exterior em comparação com o sufrágio de 2014.

A maioria dos expatriados vão para os Estados Unidos, país em que um terço dos três milhões de brasileiros no exterior vivem, de acordo com o Itamaraty. Portugal, porém, ainda está na frente. A Austrália é um destino comum para jovens em busca de intercâmbio em outros países.

O país oceânico se concentrou no mercado de estudantes estrangeiros na última década: segundo o Department of Education (DE) australiano -- a pasta nacional do setor de educação --, o volume de estrangeiros nas instituições de ensino superior do país cresceu 12% em 2018. As universidades, escolas particulares e cursos de inglês receberam pouco mais de 542 mil estudantes de fora do país no começo deste ano, quando começa o período letivo. O número representa um crescimento de 77% quando comparado com as 305 mil matrículas de pessoas em intercâmbio na Austrália de cinco anos atrás.

Segundo Vinícius Barreto, CEO da Australian Centre, uma das maiores agências de intercâmbio para a Austrália operando no Brasil, houve um aumento de 30% no número de estudantes brasileiros procurando instituições de ensino na ilha oceânica entre 2015 e 2016. Em média, a cada ano, a taxa de viagens aumenta em 20%.

“Os brasileiros entenderam que é inteligente aproveitar o momento que o país vive e se qualificar no exterior, principalmente para voltar mais competitivo ao mercado de trabalho nacional. Quando a economia retomar e os empregos voltarem ao patamar que estavam, eles estão mais qualificados”, argumenta.

A maioria dos migrantes afirma que deixa o Brasil por causa da violência. O país é um dos que mais registram assassinatos, segundo uma publicação do New York Times do ano passado. "Mortes assim se tornaram parte da vida cotidiana da vida no Rio de Janeiro", disse a publicação. "As pessoas matam porque podem ficar impunes. Matam para ganhar controle territorial, por causa do tráfico de drogas, para resolver disputas políticas", diz o artigo.

Segundo o NYT, a punição é rara na América do Sul e que há uma ligação entre testemunhar um assassinato na vida real e se tornar uma vítima da violência. A maior parte dos casos, claro, é por causa do tráfico. De acordo com institutos internacionais, uma em cada 10 vítimas de homicídios ao redor do mundo a cada ano é brasileira. Ao mesmo tempo, o país é o quarto maior produtor de armas do planeta.

Além da violência, os países que estão recebendo brasileiros notam outra explicação para a chegada de brasileiros em seus territórios: a recessão econômica. Segundo o IBGE, 12% dos brasileiros estão desempregados atualmente.