Projeto reúne shows e oficinas da cultura caipira com crianças do fundamental

Jazz Caboclo é realizado em Jacareí e é carregado de emoção, histórias de família e tradição caipira


O projeto "Jazz Caboclo" em Jacareí é uma iniciativa louvável que busca resgatar e fortalecer a música e a cultura caipira entre as crianças locais. O cantor Anís Machado está liderando essa iniciativa, que vai além de simples apresentações musicais na cidade. A proposta de oferecer oficinas de "Vivências de Musicalização Infantil" é uma abordagem educativa e interativa para envolver crianças do 1º ao 3º ano do ensino fundamental.

Essas oficinas têm o objetivo de introduzir os instrumentos e a riqueza da música caipira para as crianças, proporcionando uma experiência prática e educativa. Ao fazer isso, o projeto visa mostrar às crianças que Jacareí possui uma tradição caipira em sua história e que essa cultura é valiosa e merece ser preservada.

Além das oficinas, o projeto inclui uma série de shows gratuitos para o público em geral. Esses eventos musicais, que ocorrerão de outubro a dezembro, oferecem uma oportunidade para a comunidade apreciar e se envolver com a música caipira.

Para isso, contará com o professor musical, Mateus Guimarães, que nas oficinas apresentará para as crianças instrumentos como viola caipira, acordeon entre outros e ainda, levará para estas crianças a história da viola apresentando ritmos como o pagode, a dança da catira e dando uma volta ao mundo através dos sons do acordeon. A ideia de Anís Machado é dar acesso musical para elas, formar um público que muitas vezes, por desconhecimento, não sabe que gosta deste estilo musical.

"Muita gente não gosta da música caipira porque não tem acesso a este ritmo. E desde cedo é importante dar acesso a diversidade cultural aos pequenos. Por meio do conhecimento eles terão a oportunidade de decidirem se querem também ouvir este tipo de som", explicou Anís.

A Inspiração

Anís Machado teve a inspiração para os shows e oficinas do projeto "Jazz Caboclo" em sua família. Teve muita influência das avós tanto materna quanto paterna, delas ouviu falar do antigo bairro do Limoeiro de Jacareí e do Sertão da Onça, na Serra da Bocaina, localidade rural que ainda conserva o modo de viver caipira.

"Da memória afetiva de minha família, com a convivência entre meus pais e avós, recebi as lembranças da cultura raiz, da vivência na roça, do sentar ao lado do fogão de lenha, da casa de pau à pique, do brincar no mato. Tive na infância o privilégio de crescer numa casa com quintal repleto de árvores, onde existiam o carro de boi e o galinheiro. Rodeado de objetos tradicionais, vi a paçoca sendo feita pelas mãos de minha bisavó, Dona Maria, num pilão de Pau Brasil, sempre na Semana Santa, ela que aos domingos não deixava de assistir ao programa da Inezita Barroso, grande responsável pela conservação e difusão da música caipira. Aprendi com meus pais a valorizar o feitio manual, a costura, o tricô, o tear, objetos confeccionados em madeira, a imaginar a trajetória dos materiais, dos fios ao crescimento das árvores, das agulhas e formões ao esmero do artesão, tudo conta uma história que preenche de significado a vida", comentou o idealizador do Jazz Caboclo.

E sobre a música, Anís que é um autodidata musical, explica que ela foi libertadora para ele. Foi por meio da música, muitas vezes compondo a partir dessa realidade familiar, valorizando a cultura caipira e a ancestralidade que ele se encontrou, percebeu a força na sua identidade, e pode conciliar a transgeneridade com o respeito à tradição.

"O violão foi meu parceiro, compondo, eu pude extravasar, escrevendo tudo o que queria, sobre família, minhas raízes, respeito aos antepassados, cultura e a tradição caipira".

Shows

Há 17 anos escrevendo letras musicais, será a primeira vez que Anís Machado reunirá suas composições num show para o grande público gratuitamente, em espaços como: o Agromerarte, Rede Graúna, Viveiro Municipal, Sala Mário Lago e Asilo Lar Fraterno da Acácia.

O projeto "Jazz Caboclo" também foi influenciado por um outro músico, pelo qual Anís é fã, que é Hermeto Paschoal. Anís via Hermeto trazer para o jazz a música nordestina, sem haver perda das características regionais. Daí veio a inspiração, "porque não trazer a música caipira para o jazz?" E o resultado disto poderá ser conferido nos shows.