Era quase uma hora da tarde quando os primeiros inscritos chegaram à EMEF 'Prof. Francisco de Paula Santos', em Roseira Velha, para participar da quinta edição do 'Santo de Casa'. 'Seu' Joaquim Ribeiro da Silva, de 75 anos, vinha empurrando a cadeira de rodas de dona Maria Donizete da Silva Ribeiro, de 62 anos. Logo de cara, a equipe do projeto percebeu que aquela seria uma atividade diferente. Dona Maria, com todo cuidado, retirou de uma sacolinha plástica a imagem de uma pequena santa.
Era uma "Nossa Senhora", que ela havia feito no Centro Lucy Montoro e queria saber junto aos organizadores se a obra era uma "paulistinha'" Assim começou a exposição e oficina de santaria com base nas minis esculturas características do interior paulista nos séculos 18 e 19. Em seguida, o pedreiro Rubens Batista dos Santos chegou pedalando uma bicicleta. Para a equipe, contou que é artista plástico e trabalha com materiais recicláveis e coletados na natureza, como galhos e cipós. "Quando soube da oficina de modelagem em argila quis conhecer essa técnica, nova para mim", disse.
Crianças também chegaram curiosas para participar do evento. Foi o caso das estudantes Laís Helena Egídio, de 12 anos, e Lavínia de França Rodrigues, com 11 anos de idade. Lavínia já faz desenhos no papel e chegou à unidade escolar para conhecer a arte de modelar o barro. Em seguida, chegaram o casal Pedro Fernando D'Ângelo e Maria Motta D'Ângelo, moradores de um sítio no município, onde mantém uma capela que foi transformada em pequeno museu particular, para reunir a santaria da família. Pedro D'Ângelo gosta de pesquisar a história regional e foi ao evento levando uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, para saber sobre as particularidades da peça.
No decorrer das atividades, o artista plástico e santeiro Alexandre de Morais (Xandi), foi explicando sobre a representatividade das "paulistinhas". "Esse tipo de obra transmite uma importante informação sobre o histórico da região, de caráter religioso e cultural. Muitas vezes o cidadão desconhece o valor dela. Nosso projeto serve para estimular resgates artísticos, com técnicas comuns da região", enfatizou Xandi.
O coordenador do projeto, Luiz Claudio Daniel, destacou que a Prefeitura Municipal de Roseira, através das Secretarias de Educação e de Promoção Social, deu todo o suporte abrindo a escola no final de semana, respeitando-se todos os protocolos de cuidados contra a Covid-19, para desenvolver o trabalho. Também revelou surpresa com a qualidade das obras produzidas pelos participantes. "Acredito que deixamos uma semente no local, pois vimos os integrantes procurando interagir e trocando contatos para, em conjunto, participarem de novas vivências"
A secretária municipal de educação, Lismary Cataneo Camacho, mais conhecida como 'Lis', destacou a importância de iniciativas como o 'Santo de Casa' para a cidade. "Abraçamos o projeto por ser tratar de resgate cultural. Decidimos colocar Roseira nesse foco, para poder juntamente com a população, fazer esse trabalho. Nada impede de trazermos essa equipe de novo, mediante a procura e valorização da arte".
O 'Santo de Casa' é um projeto aprovado pelo ProaC Expresso, programa de incentivo à cultura do Governo do Estado de São Paulo, edital 10/2019. A iniciativa, parceria do Projeto Kilometrarte e TV Cidade Taubaté, já foi realizada em São Bento do Sapucaí, Caçapava, Taubaté, Pindamonhangaba e Roseira. Novas edições estão programadas em Santo Antônio do Pinhal, Redenção da Serra, Natividade da Serra, São Luiz do Paraitinga e Lagoinha.