Antes mesmo de prestar o vestibular de medicina, um médico (ou candidato a) já sabe que uma das práticas universais de qualquer profissional da área é fazer ou acompanhar uma cesariana -- um parto em que o bebê sai da barriga da mãe por um corte horizontal induzido no abdômen. No entanto, associações médicas brasileiras esperam reduzir esse tipo de intervenção no país nos próximos anos.
Segundo o diretor da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Corintio Mariani Neto, as taxas de cesáreas no Brasil são muito altas em comparação com os padrões internacionais.
Em abril do ano passado, a Unicef -- braço da ONU para a educação no mundo -- afirmou que 57% dos partos no país são cesáreas, enquanto a média recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é 15%. A média mundial é mais alta do que isso: 21%. A entidade chegou a lançar um alerta chamando a atenção para a importância de partos espontâneos.
Na Europa, a taxa de cesarianas alcança 25% e nos Estados Unidos, 32,8%. Países como Holanda são apontados como casos de sucesso, em que o volume de partos desse tipo soma apenas 15% de todos os nascimentos registrados.
Segundo Mariani Neto, o desejo das grávidas brasileiras é o principal fator para o alto número de cesáreas no Brasil. Um segundo ponto é que há uma tendência de engravidamento tardio, em que a indicação média geralmente é realizar o parto induzido.
Mas há um terceiro fator importante para o fenômeno brasileiro: o alto número de partos ocorrendo ao mesmo tempo para o baixo volume de médicos disponíveis em realizar nascimentos espontâneos. "A cultura de assistência integral torna incompatível para um obstetra que faz dez partos por mês manter um consultório de grande movimento", afirmou ele ao jornal O Estado de S. Paulo
“Nós não temos ainda discriminada a cultura da equipe multiprofissional, que que existe no resto do mundo. Estamos tentando aqui a inserção da enfermeira obstétrica, da obstetriz, para acompanhar o trabalho de parto quando não há intercorrência, o que diminuiria a necessidade de o médico obstetra estar presente durante todo o trabalho de parto”, completou.
De acordo com a Febrasgo, o Ministério da Saúde já elaborou alguns planos para diminuir a alta taxa de cesarianas no Brasil. A principal delas é um projeto da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que procura conscientizar as pessoas de que enfermeiras obstétricas e da obstetrizes podem ajudar no acompanhamento de uma gravidez sem riscos.
A pasta também administra um programa para qualificar e ampliar a atenção obstétrica e neonatal em hospitais universitários ou que atuam como unidade auxiliar de ensino. O foco é o ensino adequado da residência obstétrica, como é praticada no mundo inteiro.
Goiás e Espírito Santo são os estados brasileiros com o maior percentual de partos cesarianos no Brasil: 67% dos nascimentos, segundo a Unicef. Em seguida estão Rondônia (66%), Paraná (63%) e Rio Grande do Sul (63%).
“O trabalho de parto espontâneo é a única maneira 100% segura de saber que o bebê está pronto para nascer. Esse processo traz uma série de benefícios para a mãe e o bebê. Privá-los do trabalho de parto, por meio de cesarianas eletivas, pode gerar consequências negativas para a saúde de ambos”, finaliza Gary Stahl, representante da Unicef no Brasil.