Quando se trata de ganhar massa e força muscular, é mais importante atentar para a quantidade de proteína ingerida do que para a origem do nutriente. Esta é a conclusão de um estudo que comparou o efeito de treinos de força (musculação) em voluntários que mantiveram dietas onívoras e veganas, ambas com teores proteicos considerados adequados.
No estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), um total de 38 jovens adultos saudáveis - sendo 19 onívoros e 19 veganos - foram monitorados por 12 semanas. Além dos treinos desenhados para o ganho de massa e força muscular, os voluntários seguiram dietas mistas (com fontes proteicas animais e vegetais) ou exclusivamente à base de plantas, ambas com o teor indicado de proteína (1,6 grama por quilo corporal por dia). Ao final dos três meses, não foi verificada diferença no percentual de ganho de massa e força muscular entre os indivíduos veganos e onívoros.
"Assim como qualquer outra proteína do nosso corpo, entre elas as que compõem as células da pele e do cabelo, que morrem e são renovadas, os músculos diariamente passam por períodos de síntese e de degradação. Alimentação [ingestão de proteínas] e exercício físico são os principais reguladores do processo de balanço proteico, favorecendo a síntese sobre a degradação", explica Hamilton Roschel, um dos coordenadores do Grupo de Pesquisa da Escola de Educação Física e da Faculdade de Medicina da USP.
A pesquisa inova ao fazer uma análise clínica do efeito da qualidade da fonte proteica nas adaptações musculares ao comparar voluntários veganos e onívoros. Isso porque a maioria dos estudos sobre o tema analisou o mecanismo da resposta anabólica aguda do músculo em função da fonte proteica em condição laboratorial e não o ganho de massa muscular em si. "O nosso achado mostra que, se ingerirem a quantidade adequada de proteína, jovens adultos veganos não têm prejuízo no ganho de massa muscular. Na realidade, o resultado das duas dietas foi igual", afirma Roschel.
No entanto, os pesquisadores destacam que, para fins de controle experimental, o aporte proteico foi equalizado entre as duas dietas por meio do uso de suplementos proteicos. No estudo, os voluntários receberam suplementação de proteína isolada do soro do leite (para onívoros) ou da soja (para veganos), de acordo com a necessidade individual e com base no cálculo da alimentação de cada um, de forma a atingirem a meta de consumo proteico.
O pesquisador ressalta ainda que o estudo foi conduzido com jovens adultos saudáveis e não é possível extrapolar os resultados para outras populações, como a de idosos ou de pessoas com comprometimentos de saúde. "Para que o idoso apresente uma resposta máxima, ele precisa de muito mais proteína do que um indivíduo jovem saudável. Portanto, é preciso ter cautela ao generalizar o nosso achado para toda a população", conclui.