Os desafios e as superações de ser um inventor autônomo
Paulo Gannam 17 Fev 2016 Ã s 09h47 Comentarios
Por Paulo Gannam, São Lourenço, estado de Minas Gerais, Brasil.
Ser inventor não é para qualquer um. Uma invenção tem muitos filtros e, normalmente são gastos longos períodos de descoberta.
Autoconfiança é fundamental, assim como a importância da criação. Quando você cria algo, não pode se esquecer de pensar: o que criei é algo que realmente economiza tempo e dinheiro? Já não existe? Isso realmente funciona ou é realmente necessário? Aplica-se a um mercado grande o suficiente?
Inventor precisa de pelo menos uma dose de conhecimento em design, protótipos, patentes, materiais, produção, importação e exportação, análise de custos, marketing, dinheiro, gestão empresarial, diretos de contratos.... Você tem que ser teimoso, mas também flexível, um equilíbrio difícil. Por outro lado, saiba delegar quando necessário para não perder tanto tempo aprendendo diversas ciências.
No Brasil, não há nenhum apoio, no estrito sentido desta palavra, ao inventor independente, pessoa física, com recursos que permitam a ele realizar um estudo de viabilidade técnica e econômica de seu projeto e desenvolvimento de um protótipo físico. Algumas pessoas sempre sugerem instituições como as fundações de apoio ao ensino e à pesquisa, Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
Mas programas de apoio são voltados apenas para empresas, como se o foco devesse estar nas instituições e não na inovação e na qualidade do projeto, que pode ajudar as pessoas e movimentar muito dinheiro, trazendo imposto de renda para o país - graças aos royalties gerados pelo produto, se protegido por patente.
Quando alguma dessas entidades financiadoras afirmam “apoiar” o inventor, se você sondar corretamente o programa, não é uma questão de apoio coisa nenhuma, mas sim de um negócio como qualquer outro – e dos piores para o inventor. Exemplo: há fundações de amparo que, caso julguem sua invenção com bom potencial de mercado, assumem os custos do depósito do pedido de patente e da administração da patente, com o pagamento de anuidades que hoje custam cerca de R$ 80,00 a R$ 100,00 por ano até que a carta-patente seja concedida. Depois que a patente for concedida, anuidades vão aumentar progressivamente a cada ano.
Em troca de pagar por essas taxas de serviço do INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), fundações de “apoio” requisitam a cotitularidade e a participação comercial sobre a sua invenção patenteada. Em outras palavras, essas instituições investem uma mixaria no seu projecto, geralmente não lhe ajudam na mediação de qualquer negociação. Não lhe ajudam a desenvolver o protótipo, tampouco a fazer um estudo de viabilidade comercial. Também não tiveram nenhum envolvimento na concepção da ideia. Mas se sua invenção gera royalties milagrosamente pesados devido a seus esforços heroicos, eles retêm uma boa fatia do bolo.
Difícil entender onde a palavra “apoio” ajusta-se nesta forma de acordo. Fornecer suporte para uma pessoa não é o mesmo que fazer negócios com ela. Mas no Brasil estes dois conceitos são convenientemente mesclados.
Invenções
É estranho, mas eis o cenário: segundo a Organização Mundial de Propriedade Intelectual, mais de 60% de tudo que foi inventado ou aperfeiçoado no mundo até hoje foi a partir de inventores autônomos. Outros dados apontam que menos de 3% de tudo que foi inventado no mundo consegue chegar ao mercado. No Brasil, não há nenhuma preocupação com uma boa ideia de indivíduos anônimos. Se você não está associado um centro de pesquisa, universidade ou qualquer outro tipo de empresa, não receberá um centavo do governo e terá que percorrer um caminho solitário, pedregoso e quase sempre demorado até encontrar - se encontrar - um parceiro para o seu projeto.
Devo ficar intimidado com tudo isso? De jeito nenhum. A paixão, a perseverança e a aprendizagem contínua falam mais alto! Como inventor há mais de 3 anos, eu tenho, até agora, 4 patentes solicitadas e estou à procura de parceiros industriais para o lançamento de minhas invenções no mercado através do licenciamento.
Um pouquinho das minhas invenções:
1- Sistema de Cooperação no Trânsito
Imagem ilustrativa cedida pelo inventor
Aparelhinho eletrônico de comunicação instantânea que alerta, com frases curtas e objetivas, qualquer problema/situação identificável em um veículo ou nas estradas.
A comunicação é feita com outros usuários que, também, tenham o aparelho, que não depende, necessariamente, de internet, cujo sinal é ruim em certos locais e nos quais a troca de sinais e gestos entre motoristas é imprecisa.
Alguns exemplos de mensagens: luz de freio queimada, pneu murcho, luz de ré queimada, emergência, pessoa doente no carro, acidente/animal/deslizamento, incêndios, chuva forte à frente, etc. Também permitirá a comunicação entre órgãos de Governo e motoristas, campanhas de educação no trânsito.
2- Sensor para proteger pneus e rodas durante junto à calçada
Um sensor que avisa o momento em que o condutor estiver próximo de encostar o pneu ou roda junto ao meio-fio, em qualquer tipo de movimento (com ou sem uso de marcha-ré).
Esse produto, segundo o inventor, é uma “mão na roda”. Muito mais simples e barato que projetos complexos e caríssimos, como o Park Assist e o Intellisafe, ele atende a uma necessidade de modo mais completo, se comparado com retrovisores elétricos do tipo tilt down.
3-Protetor de unhas para portadores de onicofagia (hábito de roer unhas)
Imagem ilustrativa cedida pelo inventorÉ uma película que reveste as unhas do usuário de forma elegante e discreta, sem causar desconforto algum, pois cobre apenas as unhas sem perder a sensibilidade dos dedos e pode ser usada por homens e mulheres.
4- Lixa para unhas 3 em 1
Imagem ilustrativa cedida pelo inventor
Trata-se de um produto inédito no mercado, cuja extremidade é arredondada e fina. Suas funções consistem em uma parte para dar brilho e outra para lixar a superfície das unhas.
Entre as pontas, no cabo dessa lixa, há uma superfície circular para lixar o contorno da unha com diversos graus de aspereza — espessura em sua circunferência, conforme preferência do usuário. Seu formato anatômico impede esfoliações na pele ao lado da cutícula.
Mas com todas estas dificuldades, de que forma uma invenção com patente solicitada pode gerar benefícios ao empresário investidor que deseje fabricá-la e comercializá-la?
Quando a ideia do inventor é viável é muito barato, um homem de negócios tornar-se parceiro de um inventor, especialmente se levarmos em conta a originalidade e singularidade da produção e da comercialização, sendo livre de competição por até 20 anos. Comprar uma patente permite a uma empresa aumento do seu património intangível e maior valor agregado. E se o pedido de patente estiver bem descrito; se o território do conceito inventivo do produto estiver bem demarcado; e se o produto for realmente inovador, não será tão fácil que outra empresa mal intencionada tente quebrar a patente recorrendo ao Judiciário.
Aqui você pode conhecer Paulo falando de suas invenções no Youtube e os dados de contato dele Paulo Gannam é formado em jornalismo pela Universidade de Taubaté e especialista em dependência química pela Universidade de São Paulo. Já teve alguns trabalhos nessas áreas (assessoria de imprensa, auxiliar em centro de recuperação de dependentes químicos e depois supervisor de Censo pelo IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mas o que nos últimos 3 anos, segundo ele, tem lhe dado prazer profissional é a criação, solicitação da patente, negociação e busca pela comercialização de produtos no mercado através de parcerias com empresas já estabelecidas. Hoje 70% do seu trabalho é focado na criação e desenvolvimento de novos produtos e sua apresentação a empresas. Nos 30% restantes atua com administração imobiliária.
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