"No principio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus" (João 1,1), uma breve e humilde reflexão de Pascoa, de passagem: A Religião tem um sentido, religar (latim religare) o humano ao divino. Entendemos então que em dado momento, perdeu-se esta ligação, e que por mais que se esforçasse a humanidade, os povos, cada qual a sua maneira, em seu tempo, não obtiveram êxito desejado.
O Verbo veio ao mundo, como a luz que visita as trevas, separou o dia da noite, o Verbo Amor, Palavra: "Deus é Amor" (I João 4,8). Só o amor, poderia ligar-se ao Amor, em todos os sentidos: palavra, toque, pele, ouvidos, olhos, em cada relação, nos múltiplos papéis humanos.
É assim desde o principio do humano, não nascemos gente, somos constituídos no amor, no cuidado. Amor que é a metáfora por excelência, energia, alimento, laço, vinculo, suporte e sustento. Amor que afeta, dá sentido aos sentimentos, aos desejos, afeta pela frustração, apresentando o não e possibilitando o sim.
No principio de cada um, em cada fase da construção humana, o amor é elo, luz que ilumina as trevas do desamparo, da angustia, alimento que preenche o abismo da ansiedade.
Na infância O recebemos impresso, fruto do cuidado dos que estavam a nossa volta Na adolescência O descobrimos como algo necessário e indispensável, que se completa com o encontro, o reencontro do Outro. O adulto será aquele que vive sua própria impressão.
Não é fácil ser humano adulto, as passagens de fases, nem sempre foram suficientes de amor, tivemos perdas e lutos, e perdas são mortes. Por isso a morte é algo tão devastador, interrompe a possibilidade de preencher o vazio, mantém o abismo.
Na ressurreição de Lázaro (João 11,39) foi necessário que seus amigos, com “cuidado” removessem a enorme pedra do sepulcro, soltassem as amarras para que pudesse acordar da morte, como no principio de todos nós, que não conheceríamos o amor, onde os nossos cuidadores foram essenciais.
Na ressurreição de Jesus (João 20, 1-31), não precisou que removessem a pedra do sepulcro, o sudário ou as faixas. Jesus removeu a enorme pedra e como luz nas trevas, ressuscitou, vencendo a morte, realizando a travessia completa e suficiente, pois para a vida humano precisamos do amor suficiente, que mantém as relações e definem os papéis.
Que “impressão”, temos de nós ou em nós mesmos? Desejamos chegar às próprias impressões? Como nos apresentamos, enquanto figuras humanas? Nos papéis que representamos: filhos, amigos, namorados, esposos, profissionais, cidadãos?
Há inúmeras descobertas por fazer, cada um com sua individualidade, com sua humanidade, e uma única certeza, caminhamos juntos, um precisando do outro, como Lázaros, nesta passagem para o “tópos” desejado onde jorra amor em suficiência...
Feliz Páscoa, Feliz Passagem!
José Alexandre Faria Consultor em Gestão de Negócios Psicanalista em Formação-APVP.