Estava em casa em família, de repente parei, viajei na frente da TV, tentando lembrar quando foi a primeira vez que presenciei alguma mentira em família.
Lembrei que minha mãe dizia que “mentira tinha pernas curtas”, e que doía muito também, nas “lambadas da varinha de jabuticabeira” , pra quem ela pegasse mentindo em casa...
Quando criança há quarenta anos eu presenciava discussões calorosas em família, sobre tudo que se podia imaginar, futebol, religião, cinema, astrologia, física, história, política e principalmente na mesa onde os avós e tios jogavam o tradicional “jogo do Truco”.
Curioso como toda criança, ficava ali, até tarde da noite, escutando as conversas, alimentando a curiosidade, era muita sabedoria e conhecimento, ao menos eu achava. Não tinha o “Google”, naquela época, era na força da palavra, da persuasão, na arte do convencimento. Quem aumenta (não mentia) com mais sinceridade e veemência, ganhava a discussão. De repente, no meio da discussão, alguém levantava, e gritava! “Truco”! Silenciavam-se todos... Vinham as respostas: “seis”, “nove”, “doze”. Ou por falta de opção de jogo, os adversários “corriam”, e ao invés de três, perdiam apenas um ponto. Começava nova rodada de cartas, retomavam-se os assuntos, era o “jogo do Truco”, ou seria “de Truco”?
Fui crescendo, e claro, rapidamente aprendi a jogar, e já frequentava a mesa, com os tios e avós, eram finais de semanas incríveis, já me senti parte da “homarada”. As discussões se estendiam na mesa, mas muito pouco eu podia falar, e se me aventurava, já escutava: “fica quieto moleque, se é muito novo pra saber destas coisas (pensava, sabe nada inocente!)”...
O tempo passou, meus avós partiram para o céu e meus tios já não se reúnem mais para o “Truco”, ficaram as saudades! Então recordei que foi nesse jogo incrível, em família, que aprendi as primeiras mentiras e de como fazer uso delas. Foi no jogo do “Truco”, onde você pode pontuar mesmo sem cartas, desde que simule bem ou se preferir minta bem, na arte de blefar, e se o outro cair, beleza!
No começo, só trucava com cartas, meus tios sabiam disso, e ninguém aceitava, Fui crescendo e aprendi bem o jogo, e que só podia trucar em falso (sem cartas), quando tinha certeza que os outros nada tinham, pois só assim podia tirar vantagem...
Quantas vezes tentei trucar sem cartas, e levei um punhado de “seis, nove, doze”, e tinha que sair de fininha... Fora as broncas, que eram severas. Não desistia, insistia! Ás vezes dava certo!
De repente voltei ao tempo presente, fixei o olhar na TV, mas não a mente, estava difícil assistir ao debate politico. Lembrei-me de outra coisa: “74% da população em junho, antes da eleição queriam mudanças na politica”. Como entender então o quadro atual, onde os candidatos que estão a frente nas pesquisas, são os mesmos de sempre? Será que a pesquisa de junho era falsa? Ou será a de hoje? Qual tem a perna mais curta? Ou será que a memória que é curta?
Senti que estava no “jogo do Truco”, olhei a TV, e do outro lado (da tela), os jogadores (candidatos) trucando sem cartas, mas com tanta convicção e descaramento, que sinceramente, levantei e fui tomar água na cozinha.
Você correu? Poderia me perguntar? Sim, corri! Mas, volto no dia 05 de outubro e não vou “trucar em falso”!
Esclarecimento: A palavra MENTIRA, vem do Latim mentior , “faltar à palavra dada, fingir, imitar, dizer falsamente”. Em Latim ainda, menda era “defeito, falha, descuido no escrever”, do Indo-Europeu mend, “defeito físico, falha, aleijão”... Mentira, é um fato aleijado, sem as pernas da verdade para se sustentar (origemdapalavra.com.br ).
Esta semana iria escrever sobre a verdade, que coisa! Paro por aqui, com as palavras da Poeta Krika:
“Percorro as minhas certezas nas dúvidas que formulei;
pergunto às respostas qual será minha afirmação;
paroles e negativas mantenedoras dos meus defeitos