Os casos de fratura no futebol brasileiro representam cerca de 3% dos casos de lesão no futebol e atualmente há um trabalho muito bem realizado das ciências no esporte que culmina na prevenção das lesões esportivas.
No último domingo o volante palmeirense Felipe Melo do Palmeiras sofreu uma séria lesão, fraturou o tornozelo esquerdo, pelas fortes imagens vistas repetidas vezes, indicou ser uma fratura no maléolo medial do tornozelo esquerdo, anatomicamente o tornozelo é uma articulação complexo composta por ossos, tendões e ligamentos. Uma das articulações mais expostas a lesão no futebol.
Felipe Melo foi diagnosticado no mesmo dia, passou por cirurgia no dia seguinte, menos de 24 horas e já se encontra no processo de recuperação, que pode ser entre 3 a 4 meses para o seu retorno aos gramados. Boa parte dos procedimentos serão realizados dentro do Palmeiras e não vai precisar viajar para fora do país como ocorreu como Zico nos anos 80.
De lá para cá muitas coisas se transformaram dentro do futebol, graças as ciências do esporte, em termos comparativos, nos anos 80 Zico, que era um dos grandes nomes do futebol brasileiro á época, teve uma fraturou e passou por cirurgia nos Estados Unidos, porque, aqui não havia nenhum tipo de recurso, na ocasião muitos jogadores das décadas de 80 e 90 quando tinha uma lesão sérias decretavam o fim das suas carreiras, não havia recursos no país e tão pouco acesso ao tratamento em outro país.
Felipe Melo conta com uma estrutura privilegiada de recursos para o seu tratamento. O Palmeiras desde 2015 possui o Núcleo de Saúde e Performance do clube que conta com equipamentos e profissionais de ponta, protocolos personalizados de atendimento e trabalhos individualizados com os jogadores. Hoje o trabalho para preparar um jogador de futebol é totalmente diferenciado dos anos 80 e 90, isso em todos os aspectos que envolvem a preparação, desde da física, técnica e tática a fisiológica, clínica e psicológica.
Mas, engana-se, que todos os clubes do futebol brasileiro tenham esta mesma estrutura e acompanham a modernidade do futebol, esta estrutura é encontrada em alguns clubes da elite nacional e não são todos que possuem uma estrutura que disponibiliza profissionais e equipamentos tecnológicos de ponta a disposição em tempo integral.
O esporte de alta performance pela sua complexidade exige este tipo de estrutura, formada por profissionais de diferentes áreas, como: nutricionista, médicos, professores de educação física, psicólogos, podólogos, entre outros. Profissionais que realizando um trabalho de forma integradas que visa a melhora da performance esportiva, monitoramento, formulação de protocolos de prevenção e tratamento das lesões.
Atualmente há disponíveis equipamentos tecnológicos no futebol como GPS que identifica a quilometragem percorrida pelos atletas em uma partida ou treino, dando a possibilidade de customização da preparação física individual, este é apenas um dos exemplos dentre tantos outros vários outros, que são utilizados para o monitoramento das variáveis que podem interferir na performance dos atletas.
As equipes interdisciplinares são constituídas por profissionais de diferentes áreas, num espaço integrado, deve existir um respeito das especificidades e conhecimento dos limites da atuação de cada profissional dentro da equipe, ou seja, em trabalhos interdisciplinares existem muitos debates e a tomada de decisão é feita com a participação de todos, não havendo decisões baseadas na hierarquia, está concepção de trabalho é totalmente moderna e nem todos profissionais se encontram preparados para tal. Para ser possível que trabalhos acontecerem dentro desta perspectiva deve haver um respeito mútuo entre os profissionais e disponibilidade de troca de conhecimento constantes.
O esporte, sobretudo o futebol vem avançando neste sentido, porque compreendeu a necessidade e importância do trabalho em equipe para a melhora da performance esportiva.
A UEFA (2016) realizou um estudo que monitorou e vem fornecendo dados que auxilia os clubes europeu na identificação das principais lesões (joelho, tornozelo e quadril, respectivamente) desde 2001, constatou que em 1,8 milhões de horas de observação de jogos e treinos, foram levantadas cerca de aproximadamente 15 mil lesões, destas 5% eram fraturas. Em pesquisa semelhante no futebol brasileiro, a CBF identificou em 2017 que a fratura representou cerca de 3% das lesões, ou seja, a fratura trata-se de uma lesão que ocorreu numa menor proporção, mas a mais séria pois requer intervenção cirúrgica.
Assim, um trabalho, a partir da documentação, protocolo, levantamento e monitoramento dos procedimentos revertem em um número cada menor de lesões e consequentemente proporciona segurança aos jogadores fazerem o que sabem dentro de campo.
Entretanto, observa-se que ainda há uma necessidade de estruturação nos clubes brasileiros, muitos ainda não possuem uma estrutura mínima, tendo que terceirizar os serviços para proporcionar condições mínimas para o jogador exercer sua profissão com segurança, porém, conforme observamos uma estrutura ideal ainda é uma realidade distante para muitos clubes brasileiro.
Téo Pimenta, é professor universitário e diretor do Instituto Esporte Vale (IEVALE).
Procura refletir e compreender o fenômeno esporte nas suas diferentes dimensões.
Criador do Canal Téo Pimenta no YouTube. Colunista no AgoraVale desde 2018.