Na travessia da esperança

O amor pode suscitar a esperança e a esperança cristã será sempre operante, pois sabemos em quem depositamos a nossa fé!


Vivemos tempos sombrios, mergulhados nesse grande "velório" que parece não ter mais fim, enfraquecendo nossas esperanças e plantando em muitos corações, o medo e a certeza da derrota.

                Mergulhados nesse chão fértil da vida, carregados de esperança e também de sofrimento, nossa fortaleza humana passa por um desequilíbrio, levando-nos não somente a um isolamento social, mas também, a um isolamento da nossa fé.

                O Tempo Pascal que celebramos, pode muito bem ilustrar um novo significado para os sentimentos destruídos que trazemos como hóspedes dos nossos corações. Recordemos sempre que a vida nasce da dor e mesmo na dor, podemos encontrar motivos para poetizar a vida. Grandes poesias nascem de grandes sofrimentos. Poetizar é como registrar a vida em versos que se eternizam. 

                Se olharmos a travessia do povo de Israel, saindo da terra da escravidão para a "terra prometida", narração que encontramos no livro sagrado do Êxodo, entenderemos melhor o padecimento experimentado pelo ser humano, na ansiedade de chegar logo num lugar onde não haveria mais tanto sofrimento. Mas o percurso da travessia é um acontecimento de lamúrias e murmurações, de ansiedade e de desesperança, poetizado nos desencontros e nas revoltas.

                A fé pode não ajudar, em muitos momentos, a diminuir a angústia de nossos corações, particularmente nas terríveis dores que enfrentamos, quando não conseguimos enxergar aquela luz no final do túnel ou quando temos de viver o luto das partidas, dos desempregos, dos sofrimentos.

                Páscoa é a certeza de que existimos para a plenitude. Não somos um brinquedo nas mãos de Deus. Há uma "terra prometida" para aqueles que souberem compreender o tempo da travessia, quem sabe meditando mais todos esses acontecimentos no próprio coração, antes da pressa de expressar nossos achismos ou nossas inquietações.

                O que podemos pensar que seja o fim da vida, pode muito bem ser entendido como a vida que passa por um processo de transformação e não permitamos que as dores do mundo roubem o amor de nossos corações.

                O amor pode ainda ser o mais belo dom a ser cultivado e experimentado por nós! O amor pode suscitar a esperança e a esperança cristã será sempre operante, pois sabemos em quem depositamos a nossa fé!