O Brasil com sua classe política é a inspiração dos internautas debochados. Na semana que passou tivemos acontecimentos que evidenciam o porquê de nosso país ser o que é: um celeiro de humoristas. E não nos cabe mais sentir "vergonha alheia" de nossos representantes nas esferas políticas superiores, porque o constrangimento é bem nosso.
Era para que tudo se resolvesse na sexta-feira (1º) após a aprovação em plenário para a votação aberta. Dos 81 senadores, votaram 52, ficando o placar em 50 a 2 a favor do voto nominal e aberto.
Caracterizou-se aí a primeira ingerência externa pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni que apoiava Davi Alcolumbre (DEM-AP) para a presidência. Alcolumbre presidia a posse dos novos senadores e cumpriu o plano de roubar a cena. Após cerimônia dos empossados, o evangélico senador de 41 anos, do Amapá, permaneceu para presidir a sessão seguinte.
O grupo de Bolsonaro precisava tirar Renan Calheiros (PMDB) do páreo. Ele é o representante do antigo grupo que centraliza as atenções e articulações no Senado e principal empecilho para as reformas a ser implementadas.
Isso enlouqueceu Renan Calheiros e a senadora por Tocantins, Kátia Abreu. Vai ficar gravado nos anais (sem trocadilhos) o momento em que a senadora simplesmente confisca da mesa do Senado uma pasta com documentos referente ao processo das eleições na Casa. "O senhor é candidato a presidente. Não vai presidir a sessão!", disse ela ensandecida!
Veio a segunda ingerência externa. O grupo de 28 senadores favoráveis ao voto fechado e que ficou de fora da votação - dentro dele senadores do MDB e do Solidariedade, recorreram a Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Toffoli atendeu o pedido de anulação do resultado da votação e determinou votação secreta no sábado (2), por cédula.
Para Calheiros, foi aí que o barraco desabou, como diz um samba antigo. A sessão recomeçou por volta das 11h de sábado, dirigida pelo ministro mais velho da casa, José Maranhão. Sobe o pano e vêm novos e hilários episódios. Com o clima quente, bate-boca de todo o lado, de repente o paraibano de 85 anos se levantou e, sem perceber que o principal microfone da mesa estava ligado, disse aos assessores: "Vou dar uma mijada". A voz de Maranhão saiu clara e evidente para todo o plenário ouvir.
Burlando o voto secreto, os senadores começaram declarar qual o nome que cada um havia escolhido para por no seu envelope. Quando viu que o resultado que sairia das urnas representaria uma retumbante derrota, Renan Calheiros retirou sua candidatura. E veio outro mico: surgem 82 votos, sendo que a Casa tem 81 senadores. Com efeito, segue outra votação.
Em suma, o esquema pró Bolsonaro funcionou. Com Álvaro Dias (Pode-PR), Major Olímpio (PSL-SP) e Simone Tebet (MDB-MS) retirando a candidatura e a desistência de Renan Calheiros, a nova votação elegeu Davi Alcolumbre (DEM-AP) com 42 votos, seguindo de Esperidião Amin (PP-SC) - 13 votos, Angelo Coronel (PSD-BA) - 8 votos, Reguffe (sem partido-DF) - 6 votos, Renan Calheiros (MDB-AL) - 5 votos e Fernando Collor (Pros-AL) - 3 votos.
O DEM passa a liderar tanto no Senado quanto na Câmara Federal, onde foi eleito o deputado carioca Rodrigo Maia. Se me perguntarem se o Brasil ganhou ou perdeu, só saberemos com o decorrer do tempo. É preciso rastrear até que ponto o time de 50 novos senadores vai passar pano para o governo pisar.
Duas situações, entretanto, estão pacificadas: Renan perdeu relativamente, porque Bolsonaro ainda vai procurá-lo para uma costura de governabilidade e apoio à reformas. E a internet ganhou novos momentos para que o internauta, que nada perdoa, crie seus memes desmoralizantes.