Consumo de flores cresce 15% em São Paulo e país começa a importar

Antes um player mundial, Brasil hoje aposta no mercado interno para manter produção em alta


O maior produtor de flores do Brasil, a cidade de Holambra, a 129 km de São Paulo, não vive boa fase econômica: segundo o Observatório da Agência Metropolitana de Campinas (Agemcamp), as exportações cresceram quase 500% em maio quando comparado com o mês anterior, mas o município fechou o mês com um déficit de quase 90%. Foram vendidos US$ 368 mil (R$ 1,3 milhão) e comprados US$ 3,092 milhões (R$ 11,6 milhões) no mesmo período.

"O setor vive um momento complexo: ao mesmo tempo que as importações caem, o mercado interno está aquecidíssimo", diz o jornalista Mauro Zafalon, da Folha de S. Paulo. Segundo ele, as exportações fecharam o ano passado em US$ 12,7 milhões (R$ 49,6 milhões na cotação de julho) - o menor valor em quase duas décadas de mercado internacional. Para se ter uma ideia, em 2008 o Brasil vendeu US$ 36 milhões (R$ 140 milhões) em flores.

Parte disso se explica pela diminuição do ritmo das compras europeias: de acordo com o Eurostat, escritório europeu de estatística, apenas nos primeiros 10 meses de 2017, de janeiro a outubro, a União Europeia gastou €624 milhões (R$ 2,8 bilhões) em importação de rosas produzidas fora do bloco, enquanto exportou € 62 milhões (R$ 281 milhões).

A metade delas chegou ao continente do Quênia (51%), seguido pela Etiópia (20%). A fatia de 29% que sobra é dividida entre países como Equador, Colômbia e Uganda. O Brasil perdeu espaço nesse mercado na crise mundial de 2008 e nunca mais se recuperou por causa das flutuações do câmbio.

Holambra, por outro lado, cresce no mercado interno: com mais empresas de flores online em funcionamento, os produtores da cidade viram a média de consumo crescer até 15% em regiões como São Paulo. A média nacional é de uma expansão de 8% nas vendas. "Os produtores têm até dificuldade de atender a todos os pedidos, o que está transformando o Brasil em um importante comprador de flores", diz Zafalon.

"A transformação no mercado interno é tão grande que alguns já afirmam que o Brasil não voltará a ter uma grande atuação no mercado internacional", completa. A opinião dele recebe o coro do Instituto Brasileiro de Floricultura: para Kees Schoenmaker, presidente da entidade, o país passou a consumir flores como jamais havia feito antes.

"Apesar de não ser um item de primeira necessidade, se tornou importante para as famílias", afirma.

A Holanda foi responsável pela venda de 67% de toda a produção de Holambra do ano passado. O país europeu gastou US$ 5,4 milhões (R$ 20,3 milhões) com as flores da cidade paulista. No total, foram vendidos US$ 8,2 milhões (R$ 30,1 milhões) no ano. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Holambra produz 150 milhões de hastes de flores, o que corresponde a 60% de todas as rosas vendidas no mercado brasileiro, e o número para exportação chega a 1,2 milhões de hastes.

De acordo com Zafalon, em São Paulo o consumo anual é de R$ 50 por pessoa com flores. No país, a média é de R$ 35. Na capital paulista, mil hastes de rosas vermelhas são vendidas por mês, de acordo com a Isabela Flores, superando capitais brasileiras como o Rio de Janeiro e Brasília em consumo e entrega de rosas.

“Dar rosas é uma característica brasileira. Elas sempre estão entre os quatro produtos mais vendidos no país, sejam buquês pequenos ou alguns maiores com caixas de bombons”, explica o diretor de marketing da empresa, Lucas Buffo.

“São Paulo, porém, é o principal mercado, tanto em consumo quanto em entrega”, complementa ele.

Enquanto pessoas de outras cidades costumam entregar flores em outros municípios, os paulistanos são os que mais consomem e mais entregam rosas dentro da própria cidade. “A gente percebe que, se uma pessoa está em Belo Horizonte e compra rosas pela internet, ela deseja entregá-las em alguma cidade mais distante, justamente porque não pode ir dar pessoalmente. Em São Paulo, porém, a pessoa compra e manda entregar aqui mesmo”, finaliza Buffo.