Já posso levar meu filho para brincar fora de casa?

Pediatra esclarece os cuidados com as crianças durante a pandemia


Em tempos de pandemia, todo cuidado é pouco para evitar o contágio pelo novo coronavírus. Com uma somatória de quase 7 milhões de casos confirmados e 180 mil mortos no Brasil, é preciso manter todos os cuidados por ainda mais um período antes da distribuição da vacina.

Após nove meses de quarentena, no entanto, algumas das consequências de um período tão longo de isolamento social começaram a ter dados mais consolidados e recorrentes, inclusive para as crianças. E aí, resta a dúvida: as crianças podem brincar fora de casa antes que saia a vacina de Covid-19?

A resposta é "sim", de acordo com as recomendações feitas pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Os estudos recentes chegaram à conclusão de que a taxa de contágio e as consequências da doença são menos agravantes na população pediátrica, mais ainda assim é necessário tomar cuidado com o contato entre adultos e crianças, uma vez que a maior taxa de contágio é feita de adultos para crianças, e não o contrário. 

Um estudo realizado pelo Controle e Prevenção de Doenças do Brasil (CDC) evidencia isso. De acordo com a pesquisa realizada ao longo dos meses de isolamento, 64,5% da comunidade pediátrica (de 0 a 18 anos) mostrou-se assintomática ao vírus. Os outros quase 36% apresentaram sintomas leves e poucas complicações, com óbitos raros (0,6% nessa faixa etária). 

"As hospitalizações de adolescentes e crianças são substancialmente mais baixas do que dos adultos. Então, sim, elas podem frequentar parques e brincar ao ar livre, porque o impacto no desenvolvimento cognitivo para elas é muitas vezes irreversível", é o que diz a pediatra concursada pelo estado de São Paulo e especializada em neonatologia, Tatiana Cicerelli. Para ela, o período longo de isolamento social já foi responsável por perdas significativas no desenvolvimento das crianças, fator que demanda maior atenção por parte dos pais.

"Estamos vendo muitos casos de crianças com depressão, um impacto direto da saúde mental das crianças e adolescentes, que está relacionado ao isolamento e fechamento das escolas, dos parques. Então, sim, elas podem brincar ao ar livre, podem sair, frequentar os parques, porque um dos aspectos que eu reforço é que, sim, existe um aspecto epidemiológico, mas já sabemos que crianças e adolescentes têm apresentado na maioria das vezes os quadros leves e assintomáticos de Covid. E esse contato com o mundo exterior tem aumentado outros problemas cognitivos mais graves", completa.  

Apesar do acesso ao mundo exterior estar mais liberado às crianças, isso não significa que deva haver um relaxamento nos cuidados e na higiene. Ainda que o risco de contágio seja menor, ele não é inexistente e crianças assintomáticas podem propagar o vírus para os adultos ao seu redor: "Entre as crianças, as medidas estão bastante focadas na higienização frequente das mãos. Então, seria ideal que nos parques houvesse mais espaço para isso. Outra recomendação é que cada criança tenha a própria garrafinha de água e não a compartilhe e evitar atividades que aglomerem muitas crianças", destaca Tatiana.  

As medidas públicas também são de vital importância para que esse processo de levar as crianças aos parques e ambientes abertos, para que não haja aglomeração, possa acontecer. "Os órgãos públicos precisam garantir a higienização nos ambientes de toques, como brinquedos nos parques (escorregadores, balanços, gangorras, etc.). Basta lavar com água e sabão e reforçar com o álcool", comenta a pediatra. Outro fator importante é garantir a segurança das crianças ao brincar, com máscaras e tênis fechados, comoAll Star infantil

No caso de brinquedos em geral, há também a recomendação de higienização frequente: "Inicialmente, temos pedido para que as crianças evitem, nos lugares públicos, brincar nos brinquedos de madeira e papelão, porque são de uma higiene mais difícil. Já os brinquedos de tecido, após o compartilhamento (que não deve ser incentivado), devem ser lavados. Os brinquedos de plástico também devem ser lavados e higienizados com álcool". 

Por fim, a maior recomendação feita pela Sociedade Brasileira de Pediatria é a vistoria das crianças, sobretudo para as mais novas, e a higienização frequente das mãos: "Nas crianças pequenas, é importante ter o cuidado de manter as mãos sempre limpas e vistoriar o que eles levam à boca e aos olhos. Já para as crianças maiores, que já entendem o que está acontecendo, o ideal é explicar que o contato físico deve ser reduzido, ou seja, não pode abraçar, beijar, apertar a mão, etc., e o mesmo serve para os adolescentes".