75% dos moradores de favelas não procuram atendimento médico

Pesquisa aponta que, mesmo com os sintomas de covid-19, pessoas temem ir aos hospitais


Desde o surgimento do coronavírus no Brasil, tem se discutido sobre o impacto da doença em regiões mais pobres e periféricas do país. O vírus, que chegou pelas classes média e alta dos centros das capitais, agora se espalha pelas favelas, comunidades e áreas mais vulneráveis do Rio de Janeiro.

Um levantamento realizado pela ONG Viva Rio, junto à MN Estatística, comprovou que 75,5% das pessoas com sintomas de covid-19 nas favelas não procuraram atendimento médico e metade conhece algum outro morador que morreu com a doença. Os dados ainda indicam que 8,8% dos cariocas possuem ao menos uma pessoa no domicílio infectada.

O estudo foi produzido com base no banco de dados de 32.037 famílias cadastradas no projeto SOS Favela, em 332 comunidades e 29 municípios. O questionário foi enviado, via internet, entre os dias 9 e 16 de maio, a todas as famílias e obteve 3.542 respostas.

A falta de atendimento especializado, feito por profissionais formados na faculdade de Medicina ou Enfermagem, agrava a subnotificação dos casos. Nos dados na pesquisa, 4,5% dos participantes responderam que foram diagnosticados positivo para covid-19. Enquanto isso, 39,2% dos entrevistados afirmaram que alguém de seu domicílio já teve sintomas, com destaque para as regiões da capital e a baixada fluminense, que apresentam os índices mais altos. 

"Os piores números das comunidades estão na zona norte, formadas por pessoas que trabalham para a classe média que mora nas áreas que foram infectadas primeiro na cidade - Barra e zona sul - e que trouxe o vírus de fora do país. Quando a pandemia começar a diminuir nas cidades, ela vai aumentar nessas comunidades", ressalta o antropólogo Rubem César, que participou da pesquisa.

Entre os 24,5% que tiveram sintomas e procuraram um médico, 13,3% ficaram satisfeitos com o atendimento encontrado. Assim, 3,2% foram diagnosticados positivo ao vírus. "Considerando a densidade de moradores nos domicílios e a baixa capacidade de isolamento de pessoas infectadas dentro do domicílio, é provável que em pouco tempo mais do que dobre o número de infectados por contágio domiciliar, podendo passar de 3,2% para 7,4%", explica a pesquisa.

Além disso, ao supor o contágio de todos os membros das famílias que residem nos mesmos domicílios, a estimativa é de 150 mil infectados nos próximos meses. Até o último final de semana, havia 1.594 casos confirmados nas favelas do Rio, com 372 óbitos. A Rocinha é o local em que mais há registros de infectados, com 260 casos e 58 mortes. Os dados são do levantamento do portal Voz das Comunidades e são atualizados diariamente.