A Kiko Sawaya e conselheiros do Desenvolve Vale, Geraldo Alckmin pede fim do fundo partidário e agenda produtiva para país vencer a crise

Ex-governador participou de reunião via videoconferência com o grupo nesta terça-feira (9); ele ainda cobrou medidas do atual governo para garantir a recuperação econômica


Em videoconferência com os conselheiros do Desenvolve Vale, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) pediu o fim do fundo partidário e criticou a intenção do atual governo de criar uma nova CPMF. O encontro foi realizado na terça-feira (9) e contou com a presença do comunicador e empresário Dudu Braga, filho do cantor Roberto Carlos.

Candidato à Presidência nas eleições de 2018, Alckmin optou por sair dos holofotes da política no último ano, dando prioridade às atividades como professor universitário e palestrante. Com 67 anos, o ex-governador está cumprindo o isolamento social em sua casa, em São Paulo, após um período de quarentena em Pindamonhangaba, sua cidade natal.

Mesmo longe do noticiário político, o tucano tem atuado nos bastidores do PSDB e chegou a colaborar com o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), a quem ajudou a elaborar o projeto da Reforma Trabalhista, aprovada no Congresso. Após um ano e meio de mandato, no entanto, Alckmin mostra insatisfação com o atual governo, que, segundo ele, precisa definir suas prioridades.

"O Brasil precisa de uma agenda competitiva, que aprove as reformas importantes para o país. O que vemos atualmente é uma 'bateção de cabeça', um governo que ataca gratuitamente instituições, mas não tem nenhum projeto. É preciso entender que sem plano para a Saúde, não haverá recuperação econômica. Ambas precisam caminhar juntas. Mas esses projetos precisavam ter sido apresentados lá atrás, no começo do ano passado", afirmou o tucano.

De acordo com o ex-governador, as reformas necessárias para o país precisam ajudar a desburocratizar o Estado. Ele atacou o que chamou de "cultura cartorial" e defendeu eficiência nos gastos. Alckmin é favorável, por exemplo, à extinção do fundo partidário que, de acordo com ele, acumula R$ 500 milhões a cada quatro anos.

"Como você pode ter mais de 30 partidos? Dessa forma, a política se transforma numa atividade corporativista. É cada um defendendo os interesses enquanto aquilo que é importante para o crescimento do país acaba ficando em segundo plano. Esse dinheiro do fundo precisa ir para a Saúde, para a Educação. É preciso extinguir o fundo, além de implementar o voto distrital.  Sem querer ser saudosista, mas fui vereador de Pindamonhangaba em uma época em que não se recebia para isso. Era uma honra você servir à sua cidade", disse.

Crise econômica

Para Alckmin, a crise econômica deve fazer o Brasil despencar 6% do PIB (Produto Interno Bruto). Ele avalia que a América do Sul será um continente muito afetado e que, nesse contexto, o Brasil será o país que mais sofrerá consequências. Ele critica a gestão econômica e afirma que, mesmo antes da pandemia, as expectativas eram baixas.

"O plano econômico do governo não tinha dado certo mesmo antes da crise. As privatizações não andaram, o país continua sendo o campeão de impostos sobre consumo e ainda há o fantasma de uma nova CPMF. É preciso criar um ambiente de disputa, menos imposto sobre o consumo, compensando com imposto na renda e patrimônio. O país tem que criar um ambiente de disputa, de competitividade. Os Estados Unidos cobram 19% de imposto sobre consumo, enquanto no Brasil essa porcentagem é de 51%."

Para sair da crise, além de uma reforma tributária, o ex-governador acredita também no investimento na indústria nacional. De acordo com ele, é preciso um esforço conjunto para dar força ao setor, assim como é realizado no agronegócio - setor mais competitivo da economia nacional. 

"Você tem um setor no Brasil que não tem crise. O agronegócio bate recordes de produção e de exportação. A indústria sofre porque o país ficou muito caro, falta competitividade. Além da questão tributária, é urgente investir em acordos internacionais, sem falar na educação de qualidade para formar novos profissionais. Essa é a receita para uma indústria nacional mais forte e competitiva. O Brasil vai voltar a crescer após a crise, até porque a base será baixa. Mas o ritmo desse crescimento vai depender da implementação dessas ações", disse.

Partidos enfraquecidos e futuro do PSDB

Questionado sobre a atuação do PSDB perante os acontecimentos políticos do país, Alckmin afirmou que o cenário atual é de partidos enfraquecidos. Para ele, é necessário brigar pelas bandeiras da competitividade e aumentar o cerco na fiscalização das ações do atual governo.

"É importante que a gente se agarre a essa bandeira para que o Brasil não fique para trás. Já modernizamos a legislação trabalhista e precisamos ir adiante. Uma questão importante na fiscalização do trabalho do Executivo é evitar que Bolsonaro repita o erro do ex-presidente Lula (PT), que corretamente abriu o cofre durante a crise de 2008, mas depois tomou gosto por gastar até ver que o dinheiro havia acabado. Esse é um risco que corremos atualmente, embora as crises sejam diferentes."

Debates pela retomada

De acordo com o coordenador do Desenvolve Vale, Kiko Sawaya, a reunião com o ex-governador foi de extrema importância para ampliar pontos de vista e fomentar o debate em uma época tão desafiadora para o setor produtivo.

"É um momento delicado em que a gente precisa pensar em como reativar a economia, tomando todas as precauções para não agravarmos a crise sanitária. Neste momento, é um privilégio contarmos com toda a experiência de um administrador público tão gabaritado como Geraldo Alckmin", disse.

Desde a chegada da pandemia no país, o Desenvolve Vale tem se consolidado como um grupo de debates e amplo diálogo entre o setor privado e a administração pública. Ao longo desses três meses, o grupo já se reuniu com o secretário Marco Vinholi (PSDB), com o presidente do Invest SP, Wilson Mello, com o deputado federal Eduardo Cury (PSDB), o deputado estadual Sergio Victor (Novo) e o prefeito de São José, Felicio Ramuth (PSDB), entre outros.