Quem pensa que os cabelos trançados são apenas um tipo de penteado que ficou famoso apenas nos últimos anos, impulsionado pela grande adesão das cacheadas e crespas à transição capilar, se engana. Afinal, as tranças, especialmente, as box braids são poderosas referências quando falamos em ancestralidade negra e origem africana.
Historicamente, as tranças são uma marca da infância para as crianças negras, de forma que a memória revive os momentos em que mães e avós se reuniam com as crianças para trançar seus cabelos, registrando aprendizado, técnica e raiz cultural passada de geração a geração.
Além da origem africana, outros povos, como os egípcios, também contam com registros de cabelos trançados como forma principal de mostrar diferentes tipos de identificação ao longo dos anos, tais como posição social, estado civil, etnia, religião, e outros fatores.
Mas, com o passar dos anos e a influência de uma sociedade totalmente estereotipada, os cabelos naturais deram espaço aos fios alisados com guanidina, sódio, formol e chapinhas, de forma que as mulheres buscavam aceitação de amigos, de familiares, de companheiros e até mesmo de vínculos empregatícios exibindo um "cabelo bom", isto é: liso e sem volume.
Anos depois do movimento "Black is Beautiful", a internet foi amplamente difundida, lutas por códigos sociais ganharam uma maior visibilidade e a representatividade negra cresceu, provocando uma desistência definitiva do estereótipo do cabelo liso, abrindo caminho para a transição capilar.
Hoje, além da maior variedade de produtos criados especialmente para os cabelos com curvatura, os
salões de cabeleireiro oferecem maior espaço para os cabelos cacheados, crespos e crespíssimos, apresentando novas técnicas de cortes à seco, cortes big chop (para quem deseja retirar a parte dos fios com química), descoloração sem uso de produtos descolorante, tranças nagô e aplicação de box braids, com fibras sintéticas de kanekalon, jumbo, lã e outros.
Dentro desta luta permanente de retorno à ancestralidade negra, a trança tem um papel fundamental de memória, história e é um verdadeiro código social da origem africana. Por isso, muitos grupos lutam para que essa identidade não caia em um contexto de moda, estilo ou apetrecho, pois há muito mais simbolismos, respeito e devoção do que, simplesmente, um penteado bonito e sofisticado.