Ilan Goldfajn defende a ampliação do socorro financeiro aos pequenos empresários

Ex-presidente do Banco Central e presidente do Conselho do Banco Credit Suisse, Ilan Goldfajn acredita que é necessário ampliar os planos econômicos de socorro aos micro e pequenos empresários durante a crise causada pelo novo coronavírus


Em videoconferência com o grupo Desenvolve Vale na terça-feira (12), o economista ainda afirmou que não existe saída, senão a vacina ou isolamento do vírus, para o atual momento.

A reunião foi fechada para os conselheiros e convidados do grupo e contou com empresários de diferentes atividades da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norta, a RMVale. Na pauta, uma análise do atual momento do país, com projeções do câmbio, taxa Selic e fundos de investimentos.

De acordo com Goldfajn, o governo federal se encontra em uma encruzilhada econômica. Ao mesmo tempo em que é hora de colocar dinheiro nas mãos tanto da população quanto das pequenas empresas, o endividamento da União é um entrave para a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes.

"Já sabemos que o vírus se espalha com muito mais velocidade do que em outros episódios recentes de epidemias. Em outros países, os governos chegam a comprometer até 10% do PIB (Produto Interno Bruto) em políticas financeiras de socorro tanto às empresas quanto às pessoas que perderam a renda. Mas, no Brasil, a dívida chega a 90% do PIB, enquanto outros países contam com uma média de 50%. Como pagar essa conta?"

Entretanto, o economista aponta ajustes necessários no plano de auxílio emergencial e no fundo para pequenas empresas. De acordo com ele, é preciso olhar para a distribuição. Enquanto o primeiro abarcou um grande número de pessoas, o segundo não conseguiu chegar ao total de empresas que mais precisam.

"Neste momento, é importante que o governo se coloque para oferecer as garantias para que os bancos possam liberar o crédito, tão importante para as pequenas empresas. Como a crise não tem uma data prevista para terminar, os bancos estão receosos para a liberação desse crédito."

Goldfajn afirmou ainda que os gastos maiores são com as medidas econômicas, já que na saúde o principal problema, de acordo com ele, não é necessariamente o dinheiro, mas a falta de respiradores e EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) no mercado.

Selic

Mesmo com a taxa anual fixada em 3% ao ano, a menor da história, Goldfajn acredita em uma nova redução do percentual para a próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central.

"Provavelmente a queda será ainda maior e a taxa básica de juros deve ficar em 2,25% na próxima reunião do comitê. Isso terá efeitos no câmbio, que deve continuar alto, ainda mais pelo aumento no risco do Brasil para investimentos externos."

Para ele, há três crises em curso que pioram o cenário no Brasil: a econômica, a de saúde e, mais recentemente, a política. "Todo mundo está brigando com todo mundo: presidente com governadores, com os próprios ministros, com o STF (Superior Tribunal Federal). É muita crise para um momento só."

Volta da economia

Durante a reunião, Goldfajn ainda defendeu que a economia do mundo pós-Covid-19 se dividirá por muito tempo entre as atividades que geram encontros e as atividades online, que contam com tendência de crescimento neste período.

"Se você pensar em quem irá se recuperar primeiro, teremos uma vantagem clara para serviços de fintechs, ensino a distância, o agrobusiness. Ao passo que setores que dependem mais de contato, como restaurantes e cinemas, vão demorar mais."

Goldfajn descarta um colapso financeiro, mas adverte que as empresas precisam se preparar para uma crise que pode ser longa. "Não sabemos como e quando isso vai acabar. Por isso, é importante se preparar para o que as pessoas já vêm chamando de 'novo normal', adaptando-se às novas demandas da sociedade."

Presidente do Banco Central de junho de 2016 até março de 2019, Goldfajn foi eleito em 2018 "Central Banker of the Year" pela revista The Banker.

Ele também foi economista-chefe e sócio do Itaú Unibanco, sócio-fundador da Ciano Investimentos e sócio da Gávea Investimentos. Além disso, foi professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e da Brandeis University (EUA).