Livro revela perfis de homens e mulheres que tornam possível a reciclagem no Brasil

Catadores e catadoras de materiais recicláveis de diversas regiões do país deram seus relatos para a obra, que tem a fotografia como linguagem artística


Mulheres, homens e cooperativas que fazem a reciclagem no Brasil acontecer viraram tema de um livro, que conta histórias de superação, dificuldade e perseverança. São 31 catadores e catadoras que ganharam nomes e rostos na publicação "Recicladores de Sonhos". A obra reconhece esses agentes urbanos que são protagonistas na grande corrente pela sustentabilidade. Para isso, foram recolhidos relatos em todos os cantos do Brasil, que mostram os desafios diários dos catadores que percorrem as ruas do país, realizando um trabalho que promove impactos positivos para o meio ambiente, para a economia e para o poder público. Com textos do jornalista e escritor Jeferson de Sousa, a publicação tem 200 páginas e é uma realização da Rede Educare com patrocínio da Novelis, via Lei de Incentivo à Cultura da Secretaria Especial de Cultura.

Ao fazer uma imersão na trajetória desses homens e mulheres, "Recicladores de Sonhos" valoriza o lado humano e social de cada um desses trabalhadores. A obra tem a fotografia como linguagem artística, com registros feitos pelas lentes dos fotógrafos Daniel Marenco, Fernando Martinho, Heudes Regis, Jeff Porto, Magali Moraes, Marcela Bonfim, Maria Tereza Correia e Otavio Nepomucena. A publicação poderá ser baixada gratuitamente pelo site da Rede Educare www.redeeducare.com.br ou comprada fisicamente na Amazon.

"O livro mostra como a reciclagem transforma a vida das pessoas. Durante muitos anos, essa atividade foi vista de uma forma muito indigna e desrespeitada. Os catadores conseguiram trazer dignidade, valor e respeito a esta profissão, que fez com que eles crescessem como pessoa. Tem histórias de pessoas que deram a volta por cima para conseguir sobreviver, criar seus filhos, fundar entidades e se tornarem lideranças muito fortes superando inúmeros obstáculos. É uma história de vencedores", afirma o escritor Jeferson de Sousa.

É urgente reciclar

"A reciclagem é um dos pilares da sustentabilidade, e o livro é uma oportunidade de conhecer a história de vida dessas heroínas e heróis, um pouco do seu cotidiano, dos seus sonhos, do amor à causa e da parceria no cooperativismo. Nós, da Rede Educare, acreditamos que esse é o caminho para um futuro mais circular, justo e resiliente", afirma Kátia Rocha, diretora da Rede Educare.

"A reciclagem tem benefícios sociais e ambientais que se completam perfeitamente. Para a Novelis, trabalhar na conscientização ambiental da sociedade e na valorização da atividade dos catadores e catadoras, verdadeiros agentes de transformação, é uma grande prioridade e parte de nossa responsabilidade como empresa-cidadã", completa Eunice Lima, diretora de Comunicação e Relações Governamentais da Novelis.

Vidas recicladas

Uma das histórias retratadas no livro é da catadora Juliana da Silva, 38 anos, que mora em São Paulo. Aos 17 anos, com três filhas e sem perspectiva de trabalho formal, ela fez diversos bicos como ajudante de cozinha, faxineira e entregadora de folhetos para conseguir ajudar no sustento da família. Quando o marido, que era catador, se afastou das ruas por um problema de saúde, ela entrou para o universo da reciclagem. Em 2009, Juliana e outros catadores do Bom Retiro tentaram formar uma cooperativa, fizeram um curso de capacitação no Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), mas o projeto acabou não dando certo.

Só em 2013 a capacitação da qual Juliana participou deu origem à cooperativa Vitória do Belém, onde é presidente e atua com mais outros 15 cooperados. Na cooperativa, ela realiza palestras e visitas monitoradas com grupos de escolas e empresas para conscientizar as pessoas sobre a importância da reciclagem. Para Juliana, a reciclagem foi uma revolução na sua vida, mudando completamente a sua visão sobre o trabalho, o meio ambiente e responsabilidade social.

"Eu vejo os recicladores como verdadeiros agentes ambientais, ajudamos na sobrevivência do meio ambiente e a evitar a proliferação de doenças. Estou vendo nossa profissão sendo cada vez mais reconhecida. Com a reciclagem eu tive uma mudança pessoal muito grande. Consegui sustentar minhas filhas e hoje todas trabalham diretamente ou indiretamente comigo".

Em média, cada brasileiro produz por dia 1,7 kg de resíduos sólidos. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), são as catadoras e os catadores, espalhados por centenas de cidades do território nacional, os responsáveis por quase 90% dos materiais coletados no país.