O aquecimento global e a mudança do clima vai gerar ganhadores, como a Noruega, e perdedores, como a Nigéria. É o argumento utilizado pela jornalista Somini Sengupta em um artigo publicado há um mês no jornal estadunidense The New York Times.
Os dados fazem parte de um artigo publicados por vários professores da Universidade de Stanford, na Califórnia, nos EUA, que tentaram quantificar o impacto das crescentes emissões de gás do efeito estufa na desigualdade global. O texto está disponível no Proceedings of the National Academy of Sciences.
As temperaturas globais cresceram quase 1°C desde o início da era industrial, e o estudo tentou mensurar quais foram os efeitos desse incremento nas economias nacionais e no hiato da riqueza global. As conclusões foram que os países pobres estão perdendo, enquanto os ricos, especialmente aqueles que acumularam emissões durante os últimos 50 anos, se beneficiaram e ainda coletam vantagens.
A desigualdade entre os países, que se reduziu bastante nas últimas décadas, teria diminuído muito mais se a mudança climática não fizesse parte do cálculo. Estima-se hoje que o abismo entre o PIB per capita dos países ricos e dos mais pobres é 25 pontos percentuais maior do que seria sem a questão do clima.
A pesquisa é uma continuação de um estudo feito pelo economista Marshall Burke, também de Stanford, em que ele descobriu que, quando as temperaturas do planeta foram mais quentes que a média (por qualquer razão), o crescimento econômico retardou nos países pobres na mesma medida em que acelerou nos mais ricos.
Isso, segundo ele, acontece porque os países desenvolvidos do mundo tendem a estar em latitudes frias, enquanto os pobres se concentram de forma desproporcional ao redor da linha do Equador. Isso significa também, para Burke, que onde há um pequeno aumento na temperatura, há uma grande possibilidade de existir uma devastação na produção agrícola, no trabalho e na saúde humana. Se há algo economicamente positivo é que há toda uma produção para controlar os efeitos, como a produção de itens industriais (ar condicionado de janela, umidificador, etc.).
Em outras palavras, se todos os países emitem gases, o aquecimento -- como fenômeno -- se concentra nos países situados nas regiões mais pobres, enquanto os países ricos, frios, não sentem tanto os efeitos nocivos de um clima mais quente.
No trabalho, Burke observou vinte modelos climáticos para estimar o quanto esquentou nos países desde os anos 1960 por causa do clima. Em seguida, ele mensurou qual poderia ser o desempenho econômico de cada nação analisada sem o aumento climático. Para ele, a maioria dos países pobres é ainda mais pobre do que teria sido se as emissões não tivessem modificado o clima, enquanto que muitos países ricos, especialmente na parte Norte do Hemisfério Norte, são mais ricos do que teriam sido.
Entre 1961 e 2000, o aquecimento climático afetou o PIB per capita dos países mais pobres do mundo entre 17% e 30%. Os países que sofreram os maiores impactos também são os maiores em termos territoriais: a Índia, segunda nação mais povoada do planeta, teria sido 30% mais rica sem a mudança do clima. A Nigéria, país com mais densidade da África, seria 29% mais rica sem os efeitos.
Ao contrário, a Noruega, que também é uma grande produtora de petróleo e gás, é 34% mais rica por causa do aquecimento global. Países situados em zonas intermediárias, como Estados Unidos e China, não tiveram grandes efeitos.
De acordo com os pesquisadores, "a descoberta terá implicações para o debate global sobre quem deveria reduzir as emissões de gás com mais rapidez -- e quem deveria pagar pelo caos climático, especialmente nos países mais pobres", escreveram no artigo. "Esse já é um dos temas mais difíceis nas negociações climáticas globais", completaram.