Passados quatro meses desde a chegada e disseminação do novo coronavírus no Brasil, significativos impactos estão sendo sentidos na economia brasileira. De acordo com a Pesquisa Pulso Empresa: Impacto da Covid-19 nas Empresas, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o novo coronavírus teve um impacto negativo em todos os setores econômicos, principalmente no comércio (39,4%) e em serviços (37%). Porém, as empresas que continuaram funcionando durante todo o período também sentiram impactos além dos econômicos e estão observando uma forte mudança nas relações pessoais.
Segundo Priscila Zanette, diretora da Ouro Negro Transportes, "algumas estratégias adotadas pelas empresas trouxeram novas maneiras de se relacionar com o público e com os colaboradores. Apesar de distantes em alguns casos (via reuniões online), ou presencialmente, percebo que as organizações ficaram mais humanas para entender a dor e as dificuldades do próximo".
O setor de transporte de cargas, área em que Priscila atua, também foi severamente impactado pela pandemia. De acordo com uma pesquisa da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), a demanda por transporte de carga está 27,18% menor do que os índices pré-pandemia. A maior queda foi registrada em meados de março, quando a demanda bateu variação negativa de 45,2%.
"A Ouro Negro não sentiu severamente os impactos da pandemia. Depois da queda no volume de cargas nos primeiros 15 dias de quarentena, os índices voltaram a subir e hoje estamos apenas 10% abaixo do volume apresentado no pré-pandemia. Porém, outro ponto que deve ser observado é o aumento no cuidado com a higiene pessoal e de toda a empresa. Desde a H1N1, estabelecemos o álcool gel nos corredores e nas mesas da organização, porém o momento conscientizou mais a todos com essas questões, fazendo com que cada indivíduo esteja mais cuidadoso e preocupado com sua própria higiene e a do próximo", analisa Priscila.
Outra mudança nas relações pessoais trazida pela crise foi a implementação do home office nas empresas, e na Ouro Negro não foi diferente. "Essa prática será uma realidade para alguns setores da nossa organização. Com algumas ferramentas de produtividade já existentes no mercado, a gestão de alguns setores ficará visível mesmo a distância. Porém, percebo que o profissional ainda está se adaptando a trabalhar em casa, pois não é fácil. A presença física agiliza a tomada de decisão na rotina do dia a dia. Portanto, apesar de importante, o trabalho remoto nunca substituirá por completo o trabalho presencial em algumas atividades", afirma a diretora. Além disso, as plataformas de reuniões online que já vinham sendo incorporadas em muitas atividades das organizações foram oficialmente implementadas. "Se utilizadas adequadamente, essas plataformas trazem produtividade, velocidade, conforto, redução de custo e aproximação nas relações", completa Zanette.
A empresária acredita que a pandemia deixará um legado muito grande para as empresas, e que o momento é de aprendizado para todos. "O sentimento de empatia e de solidariedade está mais aflorado, e houve também um resgate do propósito e dos valores das empresas. Antes da crise, vivíamos uma corrida do imediatismo em que nada era tolerável. Os acontecimentos dos últimos meses vieram para dar uma freada nessa maneira de viver e criar um lado mais humano para todos nós. Acredito que a crise veio para modificar e afirmar algumas formas como estávamos acostumados a trabalhar. A parte tecnológica evoluiu rapidamente, algumas resistências com as reuniões online se foram e as relações humanas se fortaleceram", finaliza Priscila.