Simpósio em São José dos Campos aponta soluções para evitar o fechamento de aeroclubes no Brasil

Evento reuniu mais de 100 profissionais da aviação e apresentou propostas concretas para preservar instituições fundamentais na formação de pilotos.


Realizado no fim de novembro na sede da APVE (Associação dos Pioneiros e Veteranos da Embraer), em São José dos Campos (SP), o 1º Simpósio SP - Desafios da Formação Aeronáutica no Brasil reuniu autoridades civis e militares, representantes da indústria, gestores de aeroclubes e especialistas do setor. Organizado pela ESC AERO, com apoio institucional do INVOZ, associação criada por Ozires Silva, o encontro mobilizou mais de 100 participantes em torno de um tema urgente: a preservação dos aeroclubes brasileiros.

Importância estratégica dos aeroclubes

Os aeroclubes são a base da formação aeronáutica no país, responsáveis pela formação inicial da maioria dos pilotos comerciais. Além disso, desempenham papéis essenciais na aviação geral, na segurança operacional e até em ações humanitárias. Durante as enchentes no Rio Grande do Sul e na pandemia de COVID-19, muitas dessas instituições foram determinantes no transporte de medicamentos, alimentos e suprimentos para áreas isoladas.

Crise no Vale do Paraíba

Mesmo em uma das regiões mais tradicionais da aviação nacional, o cenário é crítico: Taubaté, Guaratinguetá e Pindamonhangaba já fecharam seus aeroclubes, e o de São José dos Campos recebeu notificação para deixar o aeroporto.

Para Manuel de Oliveira, presidente de honra do INVOZ, o Simpósio reforçou o papel da entidade em "aglutinar ações para o bem da sociedade", especialmente diante dos atuais desafios da formação aeronáutica.

Principais obstáculos enfrentados pelos aeroclubes

  • Falta de incentivos públicos e privados

  • Aluguéis elevados em aeroportos

  • Alto custo dos combustíveis de aviação

  • Frota antiga, com pouca capacidade de renovação

Esse conjunto de dificuldades ameaça instituições que, em muitos casos, operam há décadas como organizações sem fins lucrativos.

Propostas e avanços legislativos

O evento não se limitou a discutir problemas: também apresentou caminhos concretos. Segundo Eduardo Souza Coelho, organizador do Simpósio e conselheiro do INVOZ, o objetivo foi "construir pontes entre todos os setores envolvidos" e consolidar um consenso em torno de medidas de proteção aos aeroclubes.

Entre as iniciativas destacadas está o Projeto de Lei Federal 6144/2025, que prevê:

  • Fim das remoções arbitrárias de aeroclubes

  • Regras claras para permanência e operação em aeroportos públicos

  • Garantia de continuidade das atividades

  • Criação do Dia Nacional dos Aeroclubes

Modelos de formação bem-sucedidos


O Simpósio também apresentou exemplos que podem ser replicados no país. Segundo Emílio Matsuo, presidente do conselho deliberativo do INVOZ, destacam-se os programas do SENAI, da EMCA (Escola Municipal de Ciências Aeronáuticas de Taubaté) e da empresa Globo Usinagem, que formam mecânicos de aviação com excelentes resultados.

Participação técnica qualificada

O encontro contou com representantes de aeroclubes, CIACs, OMAs, MROs, ANAC, escolas técnicas e outras instituições da cadeia aeronáutica.

Entre os palestrantes estiveram:

  • Raul Marinho Gregorin - ABAG

  • Júlia Lopes - Ministério de Portos e Aeroportos

  • Guilherme Lorenzi - Reitor do ITA

  • Maria Clara Teixeira - ANAC

Perspectivas

Para Pedro Furtado, membro da organização, recuperar os aeroclubes, muitos deles com mais de 80 anos, é essencial para garantir o futuro da aviação brasileira.

O Simpósio inaugurou um processo de diálogo permanente entre governo, entidades de ensino, iniciativa privada e gestores de aeroclubes, com o objetivo de construir soluções sustentáveis que assegurem a continuidade dessas instituições históricas e sua contribuição estratégica para a formação de pilotos e profissionais do setor aeronáutico.