Movimentos rápidos e eficientes com um único objetivo: ultrapassar obstáculos urbanos e rurais. Correr, rolar, escalar e pular em meio a casas, muros, telhados, mobílias ou quaisquer barreiras nas cidades é uma das principais características do Le Parkour - uma atividade que mescla a arte com exercício físico. Para praticá-lo, é necessário muita flexibilidade, força e equilíbrio. A dúvida é se a prática pode ser considerada um esporte. Para responder essa pergunta, é necessário entender seu contexto e suas origens.
Origem do Le parkour A história do parkour remonta ao início do século XX. Em 1920, o educador físico Georges Hébert passou a empregar movimentos tradicionais de artes marciais orientais, como o ninjutsu, no treinamento do exército francês. Mas a prática só foi instituída mesmo nos anos de 1980, quando David Belle, desportista francês, decidiu criar o grupo Yamakasi, o primeiro da modalidade, para expandir essa técnica. A partir de então, os praticantes começaram a exercitar a modalidade em áreas urbanas.
"Les parcours" era como Raymond Belle, pai de David Belle, descrevia o treinamento francês, daí a origem do nome. Em francês, parcours também significa percurso. Por sugestão de um amigo, David preferiu renomear a prática para Parkour para universalizar o termo e dar mais impacto para a pronúncia. Os participantes são chamados de traceurs (homens) e traceuses (mulheres).
A prática se disseminou para várias partes do mundo e ganhou o nome de free running na língua inglesa. O termo foi batizado por Sébastien Foucan, considerado um dos fundadores da atividade, juntamente com David Belle. A prática, no entanto, se diferencia tecnicamente do Le Parkour. No free running, a estética é mais importante, e o emprego de acrobacias e movimentos menos objetivos denotam uma característica mais artística do que desportiva para a prática, fato que fez com que os dois se separassem por divergências no modo de pensar e conduzir o Le parkour.
Arte ou esporte? É nesse ponto que surge a dúvida sobre a prática ser uma arte ou um esporte. Os principais fundadores, incluindo os dissidentes e remanescentes do grupo Yamakasi, se baseiam no fato de que a prática não possui competidores externos. O único a ser combatido é o próprio praticante, com seus medos e limitações. Apesar disso, surgiram muitos programas e marcas que exploraram a atividade com uma busca principalmente pautada pelo lucro.
Em 2010, a ParkourUK emitiu uma nota oficial manifestando repúdio ao MTV Ultimate Parkour Challenge: "Esse evento não reflete os valores básicos e os princípios do Parkour / Freerunning, e nem representa o método, a prática e os seus objetivos. Competir por pontos ou posição de destaque é contrário a filosofia, ética e espírito da disciplina". Portanto, de um ponto de vista técnico baseado na realização de competições e premiações, o Le Parkour não pode ser considerado um esporte.
Mas essa é só uma das interpretações. Se a denominação de esporte não levar em conta a especificidade de competições e premiações, então o Le Parkour pode ser considerado um esporte. O Reino Unido foi o primeiro país a reconhecer a modalidade como tal, há pouco mais de dois anos. O novo status pode abrir portas para a atividade, tanto em relação ao crescimento da modalidade no Reino Unido, como para a obtenção de novos investimentos.
Apesar de ter surgido na França, foi o Reino Unido que abraçou verdadeiramente a prática. A declaração foi dada por Sebastien Foucan, em entrevista ao The Guardian. O praticante e fundador da modalidade, embora tenha desenvolvido uma técnica mais próxima da estética e da arte, achou positivo o reconhecimento como esporte pelo Reino Unido. "Parkour não era uma atividade muito conhecida", disse ele. "Está mais famosa agora, mas em termos de instituições, não havia reconhecimento. Mas agora, finalmente, estamos fazendo história. E o Reino Unido é o pioneiro", disse.
Filosofia da prática Como foi destacado, o Le Parkour não se importa tanto com as competições, a não ser com os embates internos. O objetivo da atividade é superar desafios e obstáculos, sejam eles físicos ou mentais. Com esse pensamento, os praticantes desenvolvem técnicas e treinam com afinco para atingir esse objetivo. Aos olhos de um leigo, os movimentos podem parecer perigosos.
Mas quem segue a prática com responsabilidade frequentemente desestimula comportamentos imprudentes. Os movimentos devem ser seguros e responsáveis para garantir a integridade física do indivíduo. Com um tênis confortável e próprio para a atividade (como um vans ultrarange, por exemplo),é possível se auto-aperfeiçoar e ter liberdade para superar os obstáculos.