Teatro Municipal de São José dos Campos abre temporada de concertos da Orquestra Joseense

A apresentação é livre para todos os públicos


O Teatro Municipal de São José dos Campos realiza, nesta quarta-feira (29), às 20h, a abertura oficial da temporada de concertos da Orquestra Joseense com repertório especial de Beethoven. O retorno da orquestra ao palco mais importante da cidade terá a participação da solista Regiane Martinez. 

Embora seja o primeiro concerto de 2024 no Teatro Municipal, a Orquestra Joseense se apresentou em abril, no encerramento da programação especial de 100 anos do Parque Vicentina Aranha.

O concerto realizado no próprio parque, com a doutora em música Raquel Aranha e o grupo Aguará, fez uma homenagem ao Choro, o mais novo Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro.

Nesta quarta-feira a entrada será gratuita. O ingresso é solidário com um pacote de trigo ou fubá, que será destinado ao Fundo Social de Solidariedade. E para garantir seu lugar na plateia, clique AQUI e confira.

Repertório do concerto

L. V. Beethoven - Grande Fuga - Op. 133

Uma das últimas obras compostas por Beethoven - dois anos antes de sua morte - a Grande Fuga foi escrita inicialmente como último movimento do Quarteto n.13 em Si bemol maior, Opus 130, mas acabou sendo publicada no ano seguinte como obra independente (Op.133). Composta quando Beethoven já estava completamente surdo, a obra foi recebida com estranheza pelo público, mesmo por aqueles acostumados com a linguagem do compositor, e foi taxada de "excêntrica" e "incompreensível" pela elaboração intrincada das vozes, intenso cromatismo e dificuldade técnica "diabólica". A sugestão em publicá-la como obra distinta, ou seja, retirando-a do quarteto de cordas Op.130, veio justamente de seu editor, que argumentou que os ouvintes - e mesmo os próprios músicos - precisavam de um movimento final mais "acessível".

L. V. Beethoven - Ah! Perfido

Composta pelo jovem Ludwig van Beethoven, que tinha apenas 25 anos de idade, Ah! Perfido é uma obra para soprano e orquestra que se assemelha a uma cena de ópera, composta de um entrelaçamento entre recitativo e ária, mas escrita como peça avulsa e autônoma. O texto, tomado da ópera Achille in Sciro de Pietro Metastasio, importante poeta e libretista italiano do século XVIII, e de outro texto anônimo, narra a personagem, abandonada por seu amado, implorando por justiça dada a traição que sofrera. Todavia, ela se arrepende das injúrias proferidas e se entrega a um sentimento de autocomiseração.

Com a obra, Beethoven iniciava sua incursão no campo da ópera, que iria culminar dez anos mais tarde em Fidelio. O texto escolhido para Ah! Perfido permitiu que Beethoven pudesse explorar suas habilidades composicionais e engenho retórico na ambientação de afetos como fúria e compaixão, enquanto a personagem vacila entre esses extremos.

L. V. Beethoven - Sinfonia nº 1 em Dó maior - Op. 21

Já em sua primeira sinfonia, Beethoven põe à prova seu domínio absoluto do gênero sinfônico do final do século XVIII, logrando tanto manter o decoro de uma obra da qual se espera rigor, refinamento e eloquência, quanto desenvolver inúmeras inovações que, apesar de já presentes no discurso haydniano, dispõem agora, num tom ao mesmo tempo bem-humorado e austero, um fôlego nunca antes testemunhado. Para além da sagacidade do percurso harmônico do início da sinfonia, o terceiro movimento traz também uma mudança muito rápida de centros tonais: do original dó maior para a distante tonalidade de ré bemol maior em apenas vinte e cinco compassos. Esse senso de urgência no discurso também se acentua por meio da forma empregada por Beethoven neste movimento: um falso menuetto que, de tão rápido, é na verdade um scherzo (método que Beethoven empregará em suas próximas sinfonias).

Se na retórica a forma é tão importante quanto o conteúdo - ou até mais que este - Beethoven prova, já em sua primeira sinfonia, o quão bem treinado e arguto é na escrita sinfônica, já que, a partir de materiais tão simples quanto escalas e arpejos, consegue desenvolver sobremaneira seu discurso e manter a atenção do ouvinte por tanto tempo: agudeza própria dos grandes oradores. O trabalho com elementos simples do discurso, que muitos críticos consideram como uma pobreza melódica, especialmente quando comparada às exuberantes melodias mozartianas, é o meio pelo qual Beethoven demonstra sua perspicácia, erudição e completo domínio do ofício de compositor. Beethoven prova, então, que o pupilo não apenas domina os recursos de seus modelos, mas os supera: um verdadeiro mestre, já em sua primeira incursão sinfônica.