O clima, a hospitalidade, uma comunidade brasileira pujante, o encontro de culturas e a língua inglesa. Todos esses elementos contam para que os interessados em fazer um intercâmbio escolham a Austrália como destino.
“Eu avaliei vários lugares antes de escolher, mas decidi pelas universidades australianas pela reputação internacional que elas possuem”, conta o paulistano Gabriel da Hora, que passou um ano terminando a graduação no país. “Eu fui convencida pela possibilidade de encontrar pessoas de muitos países diferentes”, completa a também estudante Thaís Yumi, que ficou um ano em Sydney para aprender inglês.
A popularidade da Austrália se explica, em parte, pelas facilidades burocráticas: além dos destinos tradicionais de língua inglesa apresentarem dificuldades para obtenção do visto de estudante, grande parte deles ainda aplica restrições ao trabalho dos intercambistas no período do estudo. Países como Inglaterra e Estados Unidos, por exemplo, dificilmente permitem que se concilie atividade laboral e estudo.
Na Austrália, porém, além dos vistos de trabalho de até 20 horas para os que estão matriculados em cursos com duração de mais de 90 dias, são concedidos “vistos de trabalho pós-estudo” de até dois anos para os que cursam uma pós-graduação. Dessa forma, é possível contar com rendimentos na moeda corrente (dólares australianos) para complementar os gastos necessários para se viver no país durante o período do intercâmbio.
O governo australiano ainda oferece algumas facilidades adicionais em parcerias com as instituições de ensino e as agências que trabalham com intercâmbios, como o serviço de emissão de certificados, que facilita a recepção de estudantes internacionais e os qualifica mais rapidamente para o mercado de trabalho.
Crescimento
Segundo Vinícius Barreto, CEO da Australian Centre, uma das maiores agências de intercâmbio para a Austrália operando no Brasil, houve um aumento de 30% no número de estudantes brasileiros procurando instituições de ensino na ilha oceânica entre 2015 e 2016. Em média, a cada ano, a taxa de viagens aumenta em 20%.
“Os brasileiros entenderam que é inteligente aproveitar o momento que o país vive e se qualificar no exterior, principalmente para voltar mais competitivo ao mercado de trabalho nacional. Quando a economia retomar e os empregos voltarem ao patamar que estavam, eles estão mais qualificados”, argumenta.
Os números da Australian Centre refletem as estatísticas do governo australiano sobre a chegada de visitantes estrangeiros ao país: entre junho de 2015 e o mesmo mês de 2016, 43,9 mil brasileiros viajaram à Austrália, figurando no grupo das 16 nacionalidades que mais chegaram à nação oceânica no período.
Juntos, eles deixaram 300 milhões de dólares australianos durante as viagens. Entre junho de 2014 e o mesmo mês de 2015, foram 46,4 mil brasileiros que gastaram aproximadamente a mesma quantia no país. Os números são significativos se levar em conta que, até os anuários de números do turismo de 2013, o Brasil sequer aparecia nos dados de chegadas do governo.
Em abril de 2017, entraram no país oceânico 4,2 mil brasileiros, um aumento de 27% em relação ao mesmo mês do ano anterior, quando 3,3 mil cidadãos do Brasil viajaram para a Austrália. Em março, foram 5 mil brasileiros, um aumento de 28% em relação a 2016.
No anuário do período de 2011/2012, a Austrália imaginava o Brasil como um país em "rápida emergência" econômica e, assim, um possível mercado de atuação dos programas de incentivo do governo.
O Vietnã e a Argentina eram outros países na mesma categoria que apareceriam como projeto de incremento ao mercado turístico visando o ano de 2020. No caso brasileiro, aparentemente, o sucesso chegou antes. "A melhora na economia brasileira aconteceu antes do que eles esperavam", diz Barreto.
Encontro de culturas
A vida cultural das principais cidades do país, como Sydney e Melbourne, também é uma atração aos jovens estudantes brasileiros. Por causa de seu período colonial britânico, a Austrália possui muitos museus, teatros, galerias, construções, parques, jardins e monumentos que dividem espaço com estruturas urbanas modernas.
Em Melbourne, por exemplo, é possível observar a influência da arquitetura vitoriana, que lhe confere um ar europeu, e experimentar uma intensa vida artística e cultural. A revista britânica The Economist chegou a eleger a metrópole australiana como uma das melhores para se viver no mundo, ao lado de Viena, na Áustria, e Vancouver, no Canadá. Foi a sétima vez que a cidade ficou em primeiro lugar por fatores como segurança, saúde, sustentabilidade e educação.
“É a cidade mais incrível que eu já vi na vida”, comenta Gabriel da Hora, que visitou outras cidades australianas antes de escolher por Melbourne. “Tem uma vida cultural intensa em todos os sentidos: de bares a museus, de cafés a baladas”, continua.
Melbourne é um bom exemplo do que se tornou o país como um todo: a Austrália encontra-se hoje em segundo lugar no ranking mundial de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), desenvolvido nos anos 1990 pelos economistas Amartya Sen e Mahbub ul Haq e adotado em 1993 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Em abril deste ano, uma grande agência de viagens australiana realizou seu primeiro workshop sobre turismo no país oceânico em São Paulo, reunindo cerca de 100 operadoras de intercâmbio brasileiras. No evento, expositores de 14 regiões da Austrália apresentaram seus destinos, produtos, oportunidades e serviços turísticos. A expectativa é de realizar outros eventos do mesmo porte nos próximos anos. Como não poderia deixar de ser, esse encontro cultural foi um dos principais argumentos para fortalecer a ida de intercambistas brasileiros.
"Nosso contraste de destinos, com desertos, neve, barreiras de corais e belas praias, associado com a sofisticação e a gastronomia de nossas cidades, faz da Austrália um país extremamente atrativo para o cliente, e o crescimento de vendas no ano passado mostrou isso”, finalizou Craig Bavinton, um dos promotores do workshop em São Paulo.