São três prédios tombados pelo patrimônio histórico do município (Foto : AgoraVale) Um decreto promulgado em 7 de janeiro de 2020 aprovou o relatório que permite o tombamento de uma área da antiga e tradicional Fazenda Coruputuba, em Pindamonhangaba. De acordo com Alcemir Palma, Secretário de Cultura e Turismo, a solicitação partiu de um representante da família proprietária e herdeiro da área.
"O processo começou quando o proprietário procurou o Conselho Municipal de Patrimônio, manifestando o desejo de tombamento de três prédios. Isso foi pautado no Conselho de Patrimônio que marcou uma reunião extraordinária no local para conhecer e saber mais detalhes com ele. ", disse o secretário que também é presidente do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental do município.
Alcemir Palma, Secretário de Cultura e Turismo de Pindamonhangaba (Foto : AgoraVale) Segundo Alcemir, a área do escritório tem 452m², enquanto a casa branca - que hoje é uma residência - tem 377m² . Outra edificação é a antiga tulha que tem 714m². "O conselho aprovou as informações e a importância histórica desses três prédios e, a partir daí, a gente encaminhou ao Jurídico [do município] pra que fosse feito todo o trâmite de elaboração do decreto, que culminou agora em janeiro."
Cícero Prado, o pioneiro da indústria
Aspecto atual do prédios que deverá ser transformado em espaço cultural (Foto : AgoraVale) A propriedade foi adquirida em 1911 pelo empreendedor Cícero da Silva Prado que veio para Pindamonhangaba com apenas 23 anos. Prado, que viria ser o pioneiro na industrialização do município, comprou uma área de 1.000 alqueires de José Marcondes Rangel. O local era conhecido por Coruputuba, que em tupi-guarani significa "Rio de muitas pedrinhas".
Durante boa parte do século XX, a Fazenda Coruputuba chamou a atenção pela força econômica impulsionada com a intensa atividade fabril da Companhia Agrícola Industrial Cícero Prado. Dentro da fazenda, uma grande comunidade vivia ordeira e seus chefes de família trabalhavam na empresa de celulose do "seu Cícero".
Para os mais de 5 mil moradores da vila havia comodidades não vistas em muitas cidades como farmácia, padaria, escola para adultos e crianças, igreja, clube, cinema, futebol, represas, tudo cercado pelas belezas naturais da fazenda. No entanto, o mercado do papel passou a enfrentar turbulências a partir de um novo conjunto de regras imposto nos anos 80. A fábrica foi vendida, as residências demolidas e hoje o silencio reina no local.
Novos tempos e alternativas
Patrick Assunção, produtor rural e herdeiro da propriedade (Foto : AgoraVale) O cenário da fazenda mudou e não se vê mais os eucaliptos. A área hoje é usada pra cultivos de diferentes sementes e plantas alternativas. Quem toca grande parte da fazenda nos dias atuais é o herdeiro da área tombada. O produtor rural Patrick Assumpção é da 4ª geração da família e divide seu tempo entre Pindamonhangaba e as atividades que tem em São Paulo.
Assunção se dedica a um projeto para a formação, segundo ele, do chamado Polo Florestal de Usos Múltiplos do Vale do Paraíba. Ao mesmo tempo, tem um intenso trabalho desenvolvido na fazenda que é voltado para o uso tradicional de plantas nativas da região ou mesmo de plantas não nativas.
Com o sistema agroflorestal implementado por ele e uma pequena equipe, a fazenda é aproveitada com todos os seus recursos ao longo de todo o ano com o plantio misto, onde convivem árvores do tipo guanandi com palmeiras reais e bananeiras. Na fazenda também são colhidos milho roxo, mini abóbora, feijão caupi, feijão de fava, feijão guandu seco, tremoço, araruta, mangarito, açafrão da terra e cará-moela.
"A primeira casa aqui da fazenda Coruputuba, foi construída em 1911 pelo meu bisavô Cícero da Silva Prado , pra moradia dele. Posteriormente isso se tornou numa seção agrícola aqui da Fazenda Coruputuba. Então, é uma casa centenária, com seu valor histórico e a gente tem interesse de mantê-la em pé.", comentou Assunção.
Centro Cultural em Coruputuba
De acordo com o proprietário, o tombamento vai abrir caminho para o processo de restauração dos prédios, que passarão a ter um uso nobre. "Essa casa principal é a que vai iniciar o processo de restauração. Ela vai abrigar um centro cultural para abordar bastante o uso tradicional de plantas nativas da região e o interesse é abordar vários temas com instituições nesse tema cultural regional. Então, essa parceria com a Prefeitura é sempre muito bem vinda. ", disse ele, lembrando que o local já abrigou com grande sucesso o 1º Festival Tropeiro do Vale do Paraíba.
"O tombamento é da volumetria. A caracterização externa vai permanecer a mesma e na parte interna a gente tem condições de fazer alterações para abrigar o centro cultural pra ele poder ter todas as adequações, de bombeiro, sanitárias... A etapa em que a gente está agora é de aprovação da Lei Ruanet e a gente está levantando esse recurso. A primeira etapa a gente tem a formação do projeto físico mais o memorial descritivo da obra. E pra segunda etapa temos um segundo recurso para a execução dessa restauração.", informou proprietário.
Segundo Patrick Assunção, o espaço será voltado, portanto, pra negócios, capacitação e educação voltada para vivências florestais direcionada à cultura alimentar. De acordo com ele, o futuro centro cultural tem todas as condições para isso devido às características que agregam riqueza cultural, histórica e ambiental. Ele pontua que o empreendimento é interessante para abrigar um ponto de alimentação valeparaibana com a comida regional tropeira e a fomentação da cultura alimentar. Seria uma grande conquista para a cidade e região.
O empreendedor esclareceu que está conversando com empresas para obter essa renúncia fiscal. "Quero aproveitar a oportunidade de poder falar com as empresas, poder apresentar o projeto para as empresas daqui do Vale, de Pindamonhangaba principalmente, como as grandes empresas como Novelis, Confab e Gerdau, que inclusive estão aqui, no distrito de Moreira César, pra que despertem o interesse de trabalhar com a gente nesse centro cultural aqui de Coruputaba", finalizou.