Volta às aulas: instituições divergem sobre retorno na cidade de SP

Prefeito Bruno Covas libera aulas presenciais apenas para ensino superior


Na última quinta-feira (17), a prefeitura de São Paulo optou por não retornar às aulas presenciais, com exceção do ensino superior. O prefeito Bruno Covas declarou que aguardará novembro para decidir sobre as demais séries.

O governo do estado já havia anunciado que os alunos da rede estadual, municipal e privada poderiam frequentar a escola a partir de 7 de outubro. Contudo, quem decide são os prefeitos, de acordo com o cenário da pandemia em cada cidade.

A decisão de Covas de adiar a retomada das aulas dividiu opiniões.

A favor do retorno

O ensino privado tem sentido o impacto dos mais de 200 dias de portas fechadas. Representantes do setor fizeram pressão para a reabertura na última semana em audiência pública, solicitada pela Comissão de Administração Pública da Câmara Municipal de São Paulo.

Na data, os participantes mencionaram a crise gerada com a transferência de muitos estudantes para escolas públicas. A estimativa é de que 50% das instituições de ensino particulares já encerraram suas atividades.

Em entrevista à CNN no domingo (20), Priscilla Cruz, presidente da ONG Todos Pela Educação, defende a reabertura das escolas, mas de forma cautelosa, começando pelas regiões onde o contágio está com indicadores mais favoráveis.

Segundo a especialista, novos formatos de ensino serão fundamentais para um retorno gradual e seguro. Oferecer aulas semipresenciais para quem não pertence a grupos de risco é uma forma de iniciar a retomada. Para esclarecer o que é semipresencial, Priscilla declara que "o ensino híbrido [misto de presencial e remoto] veio para ficar". Desta forma, será possível começar o plano de volta às aulas presenciais com segurança, fazendo o revezamento e escalonamento entre estudantes.

Por determinação do governo estadual, as escolas poderão receber por dia até 20% do total de alunos em todas as séries.

Na prática, alunos e professores fora do grupo de risco irão frequentar a sala de aula em alguns dias da semana - a princípio, com reforço, revisão e plantão de dúvidas. As aulas virtuais continuam nos demais dias, seguindo o conteúdo programático.

Contra a volta às aulas

Bruno Caetano, secretário municipal de educação, revela que, a cada dez crianças, três moram com pessoas que fazem parte do grupo de risco (a partir de 60 anos), aumentando o perigo de contágio e óbito dessa parcela da população.

Por isso, para o secretário, quando a prefeitura autorizar as presenciais, os últimos anos do ensino fundamental, médio e EJA (educação de jovens e adultos) serão priorizados para evitar a evasão escolar.

A APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) se posicionou no último dia 14 contra a volta às aulas em 2020. 

Após reunião, a decisão enviada ao Conselho Regional de Saúde foi pautada nos argumentos científicos e na confiança nas determinações da OMS (Organização Mundial da Saúde). A entidade defende o retorno para 2021 ou quando houver vacina contra o Covid-19.

O professor de educação artística da rede municipal, Matheus Ramos, não quer voltar e revela o medo geral em torno da situação. "As crianças esquecem de lavar as mãos, tocam no rosto, nos outros colegas e por isso se expõem mais ao vírus. O risco de transmitir para outros membros da família é grande. São muitas vidas em jogo."

O docente revela a preocupação com a saúde dos professores e de seus familiares. "Muitos colegas já estavam enfrentando problemas psicológicos por conta de tudo. Com a possibilidade de voltar em breve, os profissionais da educação se veem vulneráveis e, mesmo com a oferta de ganhar adicional no salário, se opõem à ideia."

Publicado em Diário Oficial no começo de setembro, o governo do estado informou que os professores que aderirem ao semipresencial passarão a ganhar adicional ao salário como forma de incentivo.