A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) está à procura de voluntários para testar a vacina contra zika, uma das doenças que podem ser transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. O perfil desejado é de adolescentes e adultos de 15 a 35 anos de idade que estejam em boas condições de saúde.
Os testes da vacina são feitos pela FMUSP em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Centro de Pesquisa de Vacinas do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos. O Brasil viveu um surto de zika entre 2015 e 2016, que acendeu os holofotes sobre a gravidade da doença e seus impactos econômicos. Mas, principalmente, sobre a ameaça que o vírus ainda pode causar em diversas regiões do planeta.
O desenvolvimento da vacina, que é feita com amostras de DNA do vírus e não com o vírus vivo, é uma estratégia fundamental para a prevenção da doença. Os interessados podem se inscrever pelo e-mail vacinacontrazika@gmail.com ou pelos telefones (11) 2661-3344, 2661-7214, 2661-2276.
O professor Esper Kallás, titular da disciplina de Imunologia Clínica e Alergia da FMUSP, ressalta o importante papel do voluntariado nos testes vacinais. "Testar as vacinas em populações com grande diversidade genética, ou mesmo em diferentes países, é o que nos permite saber se ela vai funcionar bem na população como um todo antes de ser adotada pelo Sistema Único de Saúde (SUS)", afirma Kallás.
O Brasil possui uma das maiores coberturas vacinais do mundo, o que permitiu o controle, eliminação ou mesmo erradicação de muitas doenças mortais. Ainda não é o caso da zika e da chikungunya, outra doença transmitida pelo mosquito, que hoje são classificadas como doenças negligenciadas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), o que garante prioridade no exame e registro dos produtos.
Ana Maria da Costa, professora do Instituto de Química (IQ) da USP, explica que doenças negligenciadas não são atrativas para a indústria farmacêutica, por se tratarem de doenças mais comuns em países do Terceiro Mundo. "A classificação busca incentivar a pesquisa nessas doenças porque a indústria farmacêutica não lhes dá atenção. A ideia era tratar as doenças de forma diferente e, assim, incentivar o desenvolvimento de medicamentos", explica a pesquisadora.
Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP também estão pesquisando sobre as doenças decorrentes do Aedes aegypti e seu impacto na vida selvagem da Região Nordeste do Estado. Eles coletaram sangue, saliva e fezes de primatas em várias cidades e pretendem criar um mapa para ajudar a identificação das zonas de possível risco de infecção por arbovírus, ou seja, vírus transmitidos por picadas de insetos.
"Essas zonas, sendo identificadas visualmente, auxiliam no entendimento da incidência desses vírus na natureza e ainda podem servir como instrumento de tomada de decisão para órgãos públicos. Será possível compreender a dinâmica dos danos desses vírus na natureza, causando doenças como zika, chikungunya, febre amarela e dengue", explica o pesquisador Leonardo La Serra, aluno de doutorado em Clínica Médica na FMRP e um dos participantes do estudo.
Em Ribeirão também há um grupo que pesquisa vacinas contra zika, numa parceria entre o Supera, parque de inovação tecnológica da USP, e a empresa norte-americana BioProphecy.
"Estamos contribuindo para que o Brasil seja pioneiro no desenvolvimento da vacina contra o zika vírus. O objetivo é iniciar testes e produção de ensaios clínicos no Brasil ainda em 2018. A maior beneficiada será a população, que terá acesso, com redução dos custos, ao que há de mais moderno na área da saúde", diz Cleverson Fernandes, CEO da empresa.