Como os leilões de obras de arte se adaptaram ao isolamento social

Mercado da arte aposta em aplicativos e plataformas online


Os amantes de atividades culturais precisaram se adaptar ao isolamento social. Antes, eles participavam de shows, mostras de arte, exibições de filmes, teatro e podeiam ir aos centros históricos das cidades onde residem. Com as restrições, surgiram as lives, cinemas e shows em sistema drive-in, visitas online a museus e teatros, além dos leilões online de obras de arte.

As mudanças eram inimagináveis antes da pandemia. Por isso, algumas adaptações e testes precisaram ser elaborados, como a feita por Loic Gouzer, ex-executivo da Christie's, que experimentou novas formas de realizar leilões de artes. Por meio de seu aplicativo, ele conseguiu leiloar uma obra do artista Jean-Michel Basquiat por uma quantia recorde: US$ 10,8 milhões. 

O aplicativo, chamado Fair Warning, começou como uma brincadeira, de acordo com Gouzer. No início, era mais uma forma de se distrair durante o lockdown e de ver se o mundo da arte iria se interessar pelas vendas online de maneira significativa, assim como os demais setores, que conseguiram disponibilizar produtos com o e-commerce. A resposta foi positiva.

A primeira obra a integrar um leilão online na plataforma de Gouzer foi um retrato de Steven Shearer chamado Synthist (2018). Ele foi vendido a um colecionador europeu por US$ 437 mil - um valor considerado alto para o artista - depois de uma estimativa inicial de US$ 180 mil a US$ 250 mil.

Em seguida, mais duas obras foram vendidas: um body print de David Hammons, por cerca de US$ 1,3 milhão, e uma peça de Steven Parrino, vendida por US$ 977 mil. "É realmente um experimento", afirma ele. "A ideia era criar um sistema de leilão meio guerrilha, onde você poderia começar a mover pinturas usando a nuvem em vez de locais físicos", completa.

Apesar dos bons resultados, a plataforma mantém uma proposta mais contida em relação às vendas. A ideia é leiloar uma obra por semana, sempre aos domingos, no final da tarde. Os certames são transmitidos ao vivo, com o aplicativo registrando lances. A expectativa é de que os lotes dele sejam suficientes para sustentar esse plano.

Embora a procura por ele tenha aumentado, Gouzer afirma que não quer receber lotes de outras produtoras ou artistas justamente para conseguir realizar a curadoria com credibilidade.

"Só coloquei obras que compraria para minha coleção invisível. Meu gosto é eclético, mas muito seletivo", disse ele. "Não tenho pressão, porque não tenho investidores. É uma extensão da curadoria que fiz quando estava na Christie's, mas com total liberdade".

Aplicativo

Para participar dos leilões realizados por meio do Fair Warning, é preciso se inscrever e esperar ser aprovado. A plataforma visa a seriedade em seus processos, então, normalmente, as pessoas são convidadas para fazer parte do público interessado na compra. Aos demais, é necessário se disponibilizar para a avaliação.

"Pelo menos por enquanto temos uma certa quantidade de pessoas que vamos levar, e quanto mais chegarmos a esse número, mais difícil será entrar. A ideia toda é mantê-lo privado, para que as pessoas possam se sentir confortáveis", finaliza.