A transição do maiô para o biquíni: uma conquista das mulheres

Veja como a trajetória dos biquínis se relaciona com a liberdade e empoderamento feminino


A moda passou por vários momentos de revolução. Imagine que na Época Vitoriana era escandaloso mostrar os tornozelos. Aos poucos, as pessoas se adaptavam ao novo estilo, mas logo vinha outra "bomba". E a história do nosso querido biquíni é exatamente assim, explosiva.                                            

A editora de moda Diana Vreeland disse uma vez que o biquíni "é a invenção mais importante deste século [séc. 20], depois da bomba atômica". E ela não estava errada. Mas como a moda praia saiu de maiôs de lã e touquinhas para os biquínis, as hot pants e os maiôs de hoje?

Sua história e a permanente polêmica

O criador do biquíni foi o estilista francês Louis Réard. Ele desenvolveu a peça em 1946 e a nomeou com uma referência aos testes nucleares no atol de Bikini ? ilha no Oceano Pacífico. A repercussão não foi exatamente positiva. A sociedade considerava a peça vulgar e foi preciso contratar uma corajosa stripper para usá-la nos materiais de divulgação.

É preciso ter em mente que, há cerca de 100 anos, as pessoas utilizavam roupas de banho de lã que incluíam, até mesmo, sapatos no estilo tamanco, para que as banhistas não se resfriassem.

Os maiôs justos já eram considerados escandalosos. Em 1907, por exemplo, a nadadora Annette Kellerman foi presa por indecência, ao vestir um maiô sem mangas. A década de 1950 foi quando, finalmente, o biquíni ganhou algum espaço e os maiôs ficaram mais curtos, coloridos e ajustados aos corpos das mulheres.

A lendária Brigitte Bardot utilizou um biquíni xadrez como figurino no filme E Deus Criou a Mulher; Marilyn Monroe e Elizabeth Taylor posaram com modelos de maiô de cetim com bojo, e Ursula Andress fez uma aparição épica em 007 contra o Satânico Dr. No, com um biquíni branco, já no início dos anos 1960.

Contudo, nesse momento, biquínis ainda eram associados às pin-ups e causavam certo burburinho quando utilizados. Foi somente nos anos 1960 que o biquíni deixa de ser motivo de fofoca. E esse timing não é simples coincidência.

O biquíni e a revolução

Acompanhando a revolução social e sexual, o traje tornou-se um símbolo de empoderamento feminino, já que as mulheres passaram a reconhecer e tomar controle de seus próprios corpos.

O biquíni era particularmente chocante para os setores conservadores da sociedade por exibir partes supostamente "privadas": o umbigo era algo que não era mostrado nas outras roupas, nem nos maiôs.

Isso tem muita relação com a segunda onda do feminismo, que valorizava a igualdade de gênero, buscava quebrar o tabu sobre o corpo e desconstruir a imagem da mulher "bela e recatada", desprovida de sexualidade.

A década também viu o surgimento de outras peças "libertárias", como as hot pants, inspiradas nos próprios trajes de banho dos anos 1950, porém incorporando-as nos looks do dia a dia. As calças de cintura alta e ultracurtas mostravam as pernas e curvas das mulheres.

Mas o biquíni ainda tinha um longo caminho a percorrer. O Brasil, por exemplo, vivia os anos mais rigorosos do regime militar, então ainda havia restrições ao uso. A moda, porém, dava seu jeito.

Um modelo popular na época foi o engana-mamãe. Trata-se de um biquíni com um tecido na frente que liga o top com a parte de baixo. O nome autoexplicativo reflete a intenção do produto: visto de frente, um maiô, de costas, um biquíni.

A redemocratização nos anos 1980 trouxe consigo toda a moda vibrante do período. O Brasil colabora com a criação de novos e mais ousados tipos de biquínis, como a tanga e, posteriormente, o fio dental. Depois de anos de repressão, o biquíni deixa de ser controverso e passa a ser item mundano em qualquer praia.

Hoje, felizmente, cada vez mais, as mulheres podem mostrar seus corpos e serem donas de sua própria sexualidade e sensualidade, o que se reflete na liberdade de escolher suas roupas.

É claro que a igualdade de gênero ainda não é uma realidade, mas a trajetória do biquíni é uma boa forma de analisar quanto a moda mudou, e junto a ela, o pensamento.